Ponto de Vista

Vestibular 2007: aumenta preocupação com ensino no país

Priscilla Bastos

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O balanço geral do Vestibular 2007 da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) resultou em dados assustadores. Física, por exemplo, teve 7,5% de zeros, seguida por Biologia, com 5%. Mas o índice mais preocupante faz referência à Língua Portuguesa. A média geral, que antes era de 4,7, passou para 3,4, e, dos 8623 pedidos de revisão de prova, 1661 eram de português.

Esses números levam à conclusão de que há erros no ensino, não somente da Língua Portuguesa, mas de todas as disciplinas. Entretanto, o questionamento maior se faz sobre tal disciplina, porque reflete o abandono com a língua, a cultura e a educação brasileira.

Sabe-se que os ensinos fundamental e médio têm como objetivo maior, preparar os alunos para o vestibular. Se tal máxima é verdadeira, surge a dúvida de por que, tal resultado em português, já que é uma das provas que mais tem peso na hora da decisão.

Para esclarecer a queda no índice de aproveitamento nas provas de língua portuguesa no Vestibular 2007 da UFRJ e fazer uma análise geral de educação no Brasil, o Olhar Virtual convidou a professora do Departamento de Letras Vernáculas da Faculdade de Letras, Eleonor Werneck dos Santos.

“A queda no índice de aproveitamento nas provas de Língua Portuguesa no vestibular é conseqüência de diversos fatores. Dentre eles, está a falta de incentivo, tanto na rede pública, quanto na privada, para os professores de ensino fundamental e médio se atualizarem para ensinar de maneira mais produtiva.

Hoje, com tantas pesquisas sobre ensino nas áreas de Letras e Educação e com os PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais), não se pensa mais em ensinar português apenas cobrando regrinhas de concordância e nomenclatura gramatical. O ensino deve acontecer com base em textos de diversos gêneros, orais e escritos, verbais e não-verbais — e, como leitura e escrita são enfatizadas no vestibular, aquele aluno que não teve acesso a gêneros textuais variados, certamente encontrará dificuldade na hora de fazer as provas.

Além disso, no caso do ensino público, muitos professores reclamam da maneira como os alunos são avaliados. Em algumas escolas, é praticamente impossível um aluno ser reprovado, porque o sistema atual de ensino "promove" o aluno para a série seguinte. Com isso, estudantes ficam desmotivados, professores também, e o que se tem é um número crescente de alunos que concluem o ensino fundamental e médio sem conseguir ler direito ou sem saber produzir textos. Essa realidade é mascarada pela alta taxa de concluintes do ensino fundamental e médio: aumentou significativamente o número de alunos com ensino fundamental completo, mas a qualidade do ensino caiu muito, consequentemente, o que se vê são estudantes mal preparados.

O resultado no vestibular, de certa forma, espelha como anda o ensino fundamental e médio, que somente vão melhorar quando a educação deixar de ser vista apenas como números, gráficos e tabelas de rendimento escolar, quando o professor passar a ser realmente valorizado e quando o aluno puder ter acesso a informações atualizadas”.