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Miglustat é nosso, e não podemos fazer nada

Kadu Cayres

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O professor Cláudio Lopes, coordenador do Laboratório de Síntese e Análise de Produtos Estratégicos (LASAPE), consultando a última edição do The Merck Index — publicação mundial de drogas farmacêuticas, existente desde 1889 — descobriu que o mesmo destacou uma substância sintetizada em seu laboratório, localizado no Instituto de Química da universidade. O grande problema disso é que se a síntese melhor do Miglustat (nome da substância) está na publicação, uma gama de empresas estrangeiras já o devem estar produzindo. A universidade, porém, não tem como verificar se as etapas de síntese ou tecnologia estabelecidas pelo LASAPE estão sendo cumpridas, pois, apesar de ser uma patente da UFRJ, a substância foi patenteada somente no Brasil.

A história começou em 1999, quando Cláudio, sua esposa, a professora Rosângela Lopes, e o estudante de doutorado, Carlos Roberto Ribeiro, desenvolveram a síntese da substância Nbutil-deoxinojirimicina (seu nome científico). Na época, como a universidade não tinha um escritório de propriedade intelectual como tem hoje, o professor patenteou a síntese somente no Brasil. “Naquela época, não existia um escritório responsável por esse tipo de questão. O professor Aloísio Teixeira (atual reitor), na sua gestão, foi quem criou, em parceira com a Pró-reitoria de Extensão (PR-5), esse órgão na universidade”, afirma o professor, acrescentado que atualmente, empresas estrangeiras estão pedindo o registro desta substância no Brasil, e nada poderá ser feito, já que o erro de 1999 não tem como ser reparado.

Essa substância foi lançada mundialmente em 2000, e agora está chegando ao país. Ela é usada no tratamento da Doença de Gaucher, uma doença familiar, autossômica recessiva que envolve o metabolismo de lipídios. Causando aumento do fígado, alteração da pigmentação da pele, lesões ósseas e comprometimento cerebral, ela foi a primeira doença a ter tratamento específico por meio da reposição enzimática. Além disso, o Miglustat tem uma grande atividade anti-HVI e, em alguns países, serve para combater a Hepatite B. Entretanto, Cláudio Lopes afirma que a substância não foi preconizada para combater doenças desse tipo.

O custo diário do tratamento dessa doença, com a droga sintetizada pela UFRJ, é de 300 dólares. Com outras, é na faixa de dois mil. “Isso só comprova que ela tem mercado. O tratamento com Zavesca (Miglustat) custa 325 dólares por dia. Com o medicamento anterior, Cerezyme, custava 1500 dólares por dia, correspondendo a um total de U$ 1 bilhão e 500 milhões em vendas anuais”, comenta Cláudio, ressaltando: “veja o que a universidade está perdendo”.

“Nós cometemos um erro no passado, por não termos um escritório para cuidar das nossas patentes”, desabafa o professor, complementando que vale destacar a importância da existência do escritório, o que ajudaria a evitar que a universidade perdesse oportunidades como essas.

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