Ponto de Vista

Quinta da Boa Vista: a maravilha de São Cristóvão

 

Camilla Muniz

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Depois de o Cristo Redentor ter recebido o título de Maravilha do Mundo, outras sete paisagens, naturais ou arquitetônicas, no estado do Rio de Janeiro também poderão ter a honra de serem chamadas Maravilhas do Rio. Aproveitando a repercussão e o sucesso do concurso que elegeu monumentos e sítios arquitetônicos como destaque cultural para a humanidade, a Infoglobo lançou no último mês a campanha que vai revelar, no dia 23 de setembro, quais são os sete locais que mais encantam cariocas e fluminenses.

Entre as 30 belezas candidatas está a Quinta da Boa Vista, parque público de grande valor histórico localizado no bairro de São Cristóvão. Construída pelo comerciante português Elias Antônio Lopes, a Quinta foi doada a D. João VI, que a transformou em Residência Real devido à chegada da Corte portuguesa ao Brasil, em 1808. Hoje, a área possui forte apelo turístico e atrai milhares de visitantes, principalmente nos finais de semana, já que abriga o Jardim Zoológico do Rio de Janeiro e o Museu Nacional, administrado pela UFRJ.

Para entender qual a importância do concurso “Sete Maravilhas do Rio” e quais as reais conseqüências para o estado e para a Quinta da Boa Vista, o Olhar Virtual conversou com o professor Sérgio Alex de Azevedo, diretor do Museu Nacional da UFRJ situado no interior do parque.

Olhar Virtual: Para o senhor, o que um local precisa ter para ser considerado uma maravilha do estado do Rio de Janeiro?

Sérgio de Azevedo: Para ser uma das maravilhas, é necessário que o lugar possua importância social e cultural para o estado. Cada um dos sete locais escolhidos deve ter algo que o diferencie dos demais, uma característica marcante que chame atenção, visto que todos os concorrentes são bastante conhecidos pela população.

Olhar Virtual: Então qual é o diferencial da Quinta da Boa Vista em relação aos outros locais candidatos?

Sérgio de Azevedo: Não podemos comparar os indicados, pois cada um deles tem a sua importância. Mas o Parque da Quinta da Boa Vista possui incontestável relevância social. Trata-se do principal complexo histórico do país. A história do Brasil está intimamente ligada ao parque. A Quinta abrigou a Família Real portuguesa durante sua estadia no país, e posteriormente foi residência da Família Imperial. O parque também serviu de palco para vários episódios ao longo de todo o processo de transferência do Brasil-Colônia para o Brasil independente. Além disso, o Palácio de São Cristóvão, onde hoje é o Museu Nacional, foi sede da primeira Assembléia Constituinte Nacional.

Olhar Virtual: Nos dias atuais, qual é o destaque da Quinta da Boa Vista?

Sérgio de Azevedo: Hoje a Quinta é o parque popular mais importante do Rio de Janeiro. A grande maioria dos cariocas já visitou o parque pelo menos uma vez. Vale ressaltar que a Quinta da Boa Vista constitui uma das melhores opções de lazer para a população menos favorecida economicamente, em especial para as pessoas que moram nas zonas Norte e Oeste, visto que o trem e o metrô são vias que facilitam bastante o acesso ao parque.

Olhar Virtual: Qual a contribuição do Museu Nacional para a Quinta da Boa Vista?

Sérgio de Azevedo: O Museu Nacional, assim como o Jardim Zoológico do Rio de Janeiro, oferece cultura e educação de alta qualidade à população. Para isso, o museu conta com um vasto acervo científico, bastante diversificado, que abrange desde múmias egípcias, coleções arqueológicas da Amazônia até afrescos da cidade de Pompéia. O museu é, na verdade, uma instituição bastante complexa, já que possui muitas interfaces universitárias e engloba diversas atividades de Ensino e Pesquisa.

Olhar Virtual: Como o senhor analisa a importância de um concurso como este para o Rio de Janeiro e para a Quinta da Boa Vista? O senhor acredita que a competição possa dar mais visibilidade ao parque e, conseqüentemente, ao Museu Nacional, e que isso possa trazer mais verbas para a instituição?

Sérgio de Azevedo: Acredito que a importância deste concurso é conscientizar a população de que o Rio de Janeiro possui sim muitas maravilhas e que estas precisam ser cuidadas. De certa forma, já percebo este efeito no modo de pensar das pessoas. A conseqüência disso será, sem dúvida, o aumento do fluxo de turistas a esses locais. Quanto à liberação de verbas para o Museu Nacional, acho pouquíssimo provável que isso aconteça, pois depende de uma estrutura maior e um contexto político, muitas vezes, extremamente confuso.

Olhar Virtual: Está sendo feita alguma campanha para incentivar a votação na Quinta da Boa Vista? Qual a expectativa para o final do concurso?

Sérgio de Azevedo: A administração do parque está fazendo uma campanha deste tipo e conta com o apoio do Museu Nacional. Entretanto, independentemente do concurso, nós temos consciência clara de toda a importância do parque. Para nós, não importa a classificação final, porque a Quinta da Boa Vista já é e sempre será a nossa maravilha.