Entrelinhas

Ecos do cinema – de Lumière ao digital

Amanda Wanderley

capa do livro

Em 1995, a Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ realizou um seminário sobre cinema e audiovisual, como celebração dos 100 anos do cinema. Ismail Xavier, Arnaldo Jabor, João Luiz Vieira e outros artistas e pesquisadores se reuniram para pensar a estética e a proposta do cinema. Do encontro, Ivana Bentes, hoje, diretora da ECO, organizou o livro  Ecos do cinema – de Lumière ao digital. Apesar de passados 12 anos, a publicação é atual e acompanha as últimas tendências do audiovisual.

Para saber mais como o livro foi estruturado e o como os ensaios mantiveram seu valor diante das transformações sociais e tecnológicas da última década, o Olhar Virtual conversou com a organizadora, Ivana Bentes.

De onde surgiu a idéia de organizar um livro sobre a história do cinema?
O livro é o resultado de um seminário a propósito dos cem anos de cinema, em 1995. A idéia era fazer um livro que fosse uma historiografia, focando os grandes momentos da discussão teórica da história do cinema e apontando para o futuro dele: as novas mídias e tecnologias, a relação do cinema com a televisão, com o vídeo. O livro se estrutura de forma cronológica, com a participação não só de pesquisadores de cinema; professores, mas também, cineastas; artistas, ou seja, pessoas de fora da universidade.

Como você organizou Ecos do cinema?
O livro possui basicamente três partes. Há a parte historiográfica que dá conta de momentos importantes da história do cinema. Há a segunda parte, responsável por expor a visão dos artistas sobre essas mudanças acontecidas no cinema diante das novas mídias, como a videoarte, por exemplo. A última parte trata do cinema contemporâneo, brasileiro ou não: documentário, periferia, migrações.

Quem faz parte do livro?
Eu tenho quatro textos no livro. O primeiro é a apresentação, “O cinema como virtualização”. Nele, mostro as várias potencialidades do cinema. Faço uma apresentação falando do pré-cinema e do pós-cinema, televisão, vídeo e novas mídias. Nos outros três textos, falo sobre Peter Greenaway, cineasta que trabalha com a narrativa, mas usando as novas tecnologias. Sobre David Cronenberg, cineasta que trabalha com temas científicos e tecnológicos. O último é “Sertões e favelas no cinema brasileiro contemporâneo”, um tema que eu estava trabalhando desde 2000 e que agora explodiu: a representação das periferias, a expressão delas no cinema brasileiro contemporâneo, desde a década de 20 até Cidade de Deus, Tropa de Elite.

Flávia Cesarino da Costa, pesquisadora de São Paulo, aborda o primeiro cinema, antes do aparecimento da narrativa; os primeiros filmes de Lumière e de Méliès; o cinema que ainda não tinha história, que era curtíssimo. Rogério Luz fala sobre a construção da narrativa. Como a idéia do encadeamento lógico e cronológico em forma de história aparece no cinema, com a estrutura do início, meio e fim. Fala do surgimento da narrativa que acabou se tornando sinônimo de cinema. Quando as pessoas pensam em cinema, elas pensam em cinema narrativo. E o livro se contrapõe a essa vertente, mostrando outros momentos da história, quando o cinema não estava preocupado em narrar. Ismail Xavier, teórico de cinema da Universidade de São Paulo, fala sobre a continuidade e a montagem paralela no cinema de Griffith, um nome importante dentro da história cinematográfica, pioneiro do cinema narrativo clássico. João Luiz Vieira também contribui com o ensaio, falando sobre as vanguardas históricas, um contraponto ao cinema narrativo clássico. Vanguardas inseridas em um contexto de invenção, de manifestos, como o surrealismo, o futurismo, o construtivismo. Esse texto é especificamente sobre Eisenstein, Vertov e o construtivismo cinematográfico.

Temas mais contemporâneos, ligados ao cinema brasileiro, também são abordados. João Carlos Rodrigues, pesquisador de cinema do Rio de Janeiro, fala sobre musical e chanchada, um momento específico do cinema brasileiro, da década de 50, quando o cinema se encontra com a música. Um pouco como em Hollywood, só que em uma paródia. José Carlos Avellar, com o texto “Toda a vida mais cem anos”, ensaiou sobre cinema latino-americano, trazendo as teorias desse cinema pouco conhecido. Arnaldo Jabor também faz parte da coletânea com o texto “Política e estética”.

Artistas e curadores, não teóricos, mas pensadores do cinema, participaram do seminário e estão no livro. Arthur Omar, com experiência em videoarte, mostra a relação entre cinema e as novas mídias – uma visão do artista e do uso das novas tecnologias. Marcelo Dantas fala sobre a vida associada ao mundo digital. Carlos Nader, também um videoartista, fala sobre a experiência da produção de um vídeo.
Consuelo Lins trata de uma questão específica também explodida recentemente, a estética do documentário pensada contemporaneamente e baseada no trabalho de Eduardo Coutinho. Por último, Andréa França pensa como o cinema contemporâneo trabalha com a migração, o deslocamento, a viagem, a partir de filmes brasileiros e estrangeiros que trabalham com essa temática.

Por que, mesmo depois de 12 anos, a leitura de Ecos do cinema é recomendada?
É um livro bem completo. Na ECO, estamos usando muito na graduação, na disciplina de Linguagem Audiovisual. É um livro que serve não só para estudantes, como também para quem tem interesse no cinema, em suas teorias. O mais importante é que, mesmo ele sendo pensado há mais de dez anos, ele está absolutamente atual. Se relemos, vemos que os textos têm consistência, não envelheceram e tratam de temas em evidência. Inclusive esse das periferias. Em 1995, eu já estava tratando e hoje explodiu como uma realidade, com uma quantidade enorme de produções. Naquele momento eram poucos. O cinema documentário explodiu também. Estávamos em uma linha de produção coerente e avançada, à frente do tempo. Por isso, Ecos do cinema – de Lumière ao digital se encaixa perfeitamente na conjuntura do cinema contemporâneo.

Lançamento
Lançado em setembro, o livro terá novo lançamento no congresso da Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual (Socine) que reúne mais de 300 pesquisadores brasileiros e estrangeiros. Este ano, o evento acontece na PUC, entre os dias 17 e 20 de outubro, quando haverá o lançamento de livros sobre cinema e audiovisual publicados em todo o país.

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