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Estiagem e falta de água potável: culpa do aquecimento global ou do homem?



Kareen Arnhold

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A estiagem atingiu 80% do território brasileiro neste ano e teve seu período crítico no mês passado, considerado o setembro mais seco desde 1996. A falta de água causa perdas na produção agrícola – principalmente em regiões sem irrigação – e, no Rio de Janeiro, foi a responsável pelo estresse do gado.

Na cidade de Valença, por exemplo, maior produtora leiteira do estado, o período de mais de três meses sem chuva ocasionou pasto seco. Com isso, além da redução no nascimento de bezerros, a produção de leite caiu e o preço do litro saltou de R$ 0,60 para R$ 0,85.

Culpa do aquecimento global? Não. De acordo com Isimar dos Santos, professor do Departamento de Meteorologia do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IGEO/UFRJ), este atraso das chuvas é considerado normal nas médias de flutuação da natureza – que prevê um nível suficiente de acumulação de água para que a região Sudeste, por exemplo, passe todo o inverno seco sem grandes dificuldades.

O problema é as reservas de água no subsolo estarem abaixo do nível esperado, o que apavora a população e as autoridades, preocupadas com o déficit na oferta para consumo urbano. “A humanidade está vivendo na corda bamba. Se as chuvas atrasam um pouco, todo mundo se apavora, porque ficamos à mercê das pequenas variações da natureza”, afirma Isimar.

O professor explica, o atraso de 15 a 20 dias na chegada das chuvas apenas pode ter piorado a situação de falta de água, mas o principal responsável pela redução no nível nos lençóis freáticos é o homem. Através do desmatamento e das emissões gasosas, a ação antrópica facilita a erosão de montanhas e, consequentemente, acelera o processo de assoreamento, ou seja, o acúmulo de areia, solo desprendido de erosões e outros materiais levados até rios e lagos pela chuva ou pelo vento.

“A questão envolvida é a degradação ambiental, ela precisa ser motivo de preocupação constante. Não se deve esperar a hora do sufoco, a hora em que a água está acabando, para lembrar que existe um problema ambiental sério.”

A natureza também tem seus deslizes

A estiagem no Rio de Janeiro pode ser explicada pelo atraso na chegada das frentes frias vindas do sul do Brasil e do norte da Argentina, também chamadas de Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS). Essas frentes trazem para o sudeste frio no inverno e chuva na primavera e no verão.

Nos últimos 20 dias, o processo habitual de movimentação das ZACS foi atrasado, porque elas estavam bloqueadas no sul do país, por uma ação da própria natureza, que modificou a combinação das direções do vento. Ou seja, a causa para a estiagem não foi as massas chegarem secas à região, e sim, elas não chegarem.

As chuvas que caíram no Rio na última semana mostram que as frentes já foram liberadas do sul para o sudeste. No entanto, elas ainda não seguem o seu percurso habitual: paradas sobre a região por mais de três dias, as ZACS são as responsáveis pelas chuvas continuadas no estado e, ao mesmo tempo, pela seca que ainda permanece no Espírito Santo.

A previsão para esta semana, feita por Isimar dos Santos, é de temperaturas altas e tempo seco novamente no Rio de Janeiro. Porém, de acordo com o professor, as chuvas devem retornar nas proximidades do feriado de finados.

O Departamento de Meteorologia da UFRJ dispõe o serviço de previsão do tempo no site www.lpm.metero.ufrj.br