Entrelinhas

A universidade e os múltiplos olhares de si mesma

Aline Durães

capa do livro

Como organizar a história e a memória de uma instituição marcada pela pluralidade de idéias e pela fragmentação como a UFRJ? Esse foi um dos primeiros desafios com o qual Antônio José de Oliveira se deparou ao assumir o Projeto Memória do Sistema de Bibliotecas e Informação (SiBI) há dois anos.

Entre as medidas pensadas para responder à questão, Antônio incluiu a organização de seminários anuais que pudessem promover entre a comunidade universitária um conhecimento mais amplo acerca da instituição UFRJ. Em abril de 2007, foi realizado o primeiro evento dessa série, intitulado A universidade e os múltiplos olhares de si mesma.

O encontro reuniu graduados, mestres e doutores que haviam abordado − em seus trabalhos de final de curso, dissertações de Mestrado ou teses de Doutorado − aspectos da história da universidade. Essa experiência gerou o livro.

Em entrevista ao Olhar Virtual, Antônio José de Oliveira, funcionário técnico-administrativo e professor colaborador do curso de Biblioteconomia e Gestão de Unidades de Informação (FACC) da UFRJ, comenta o livro que organizou e antecipa que uma nova obra, referente ao seminário Universidade e seus lugares de memória, realizado no início de 2008, será publicada em outubro desse ano.

Olhar Virtual: O livro A universidade e os múltiplos olhares de si mesma contém artigos que abordam, sob diferentes óticas, aspectos da história da UFRJ. Como o senhor teve acesso aos trabalhos que originaram a obra?

Ao chegar ao SiBI, comecei a realizar uma pesquisa em nossa base Minerva para achar ali trabalhos acadêmicos (monografias de graduação, dissertações de mestrado ou teses de doutorado) que tivessem aspectos da história ou da memória da universidade como objeto de pesquisa. Encontrei trabalhos das áreas mais diversas — Educação, Geografia, Ciências Sociais, Belas Artes, Medicina —, entrei em contato com as pessoas que haviam feito essas pesquisas e convidei-as para apresentar seus trabalhos no primeiro seminário.

Olhar Virtual: O senhor encontrou muitas pesquisas sobre a UFRJ na Base Minerva?

Não, até porque esse interesse pelas questões que perpassam a história e a memória da universidade e das instituições de uma forma geral é recente. O repensar das instituições sobre elas mesmas vem sendo feito de uma forma mais sistemática há menos de uma década.

Olhar Virtual: O livro é composto então de artigos produzidos a partir das apresentações feitas por esses pesquisadores no seminário?

Sim. Não são artigos que já existiam e foram publicados. A maioria dos autores redigiu os textos depois das apresentações. Embora contenham a mesma temática abordada no evento, os artigos são inéditos.

Olhar Virtual: Algum artigo, em específico, lhe surpreendeu?

Alguns temas eu já conhecia, mas aprendi com cada um dos textos. Em especial, com o trabalho de Glória Valquíria — médica pela UFRJ e doutora em Educação — sobre as conseqüências trazidas pela demolição do prédio de Medicina da Praia Vermelha para o ensino médico.

Olhar Virtual: Qual a principal dificuldade de organizar um livro coeso como esse em uma instituição historicamente fragmentada como a UFRJ?

A dificuldade é inerente a qualquer trabalho que tenha como perspectiva a convergência de diversos olhares. A gente passa por dificuldades orçamentárias para estruturação dos centros de documentação e temos dificuldade também de ter pessoal qualificado para trabalhar neles. Não temos, exceto em alguns lugares específicos da universidade, uma trajetória de contratação de profissionais como arquivistas, museólogos e historiadores, por exemplo.

Olhar Virtual: O livro traz diversos olhares sobre a UFRJ. Mas qual o fio condutor desses olhares?

Eu acho que ninguém contesta a importância e a riqueza dessa história. Também é comum a percepção de que nós temos um profundo desconhecimento de nós mesmos enquanto instituição e também é comum a certeza de que trabalhos como esse — seja do projeto memória ou dos profissionais que têm como fazer de suas atividades diárias a organização de toda essa documentação — é imprescindível para que a gente saia de um certo lugar-comum que perpassa as instituições.

Olhar Virtual: Um novo livro, baseado no segundo seminário do Projeto Memória, organizado em abril desse ano, será publicado em outubro. O que o senhor pode antecipar dele?

A partir do primeiro seminário, conhecemos diversos profissionais da universidade que estavam à frente de arquivos, de centros de documentação e de museus. Surgiu então a idéia de entender quais são os locais da universidade que poderíamos chamar de lugares de memória. Abordamos então alguns desses lugares no seminário A universidade e seus lugares de memória. O livro que será publicado a partir desse segundo seminário trará artigos que, embora tenham história e memória da UFRJ como temática principal, são de natureza um pouco diferenciada em relação ao primeiro. Esse livro será escrito por pessoas que efetivamente estão à frente dos lugares de memória e documentação da universidade.