Olho no Olho

40 anos do homem na Lua

Diego Paes de Vasconcelos – AgN/ CT e Isabela Pimentel – Olhar Virtual

No próximo dia 20, completam-se 40 anos da chegada do homem à Lua. Ao pisar em solo extraterrestre e nele fincar a bandeira americana, o comandante da espaçonave Apollo 11, Neil Armstrong, tornou-se protagonista de um momento emblemático da Guerra Fria: a corrida espacial. O episódio aconteceu quando os conflitos entre os blocos capitalista e socialista beiravam o insustentável. O limite da disputa entre Estados Unidos e União Soviética (URSS), antes restrita aos níveis político e ideológico, ultrapassava a estratosfera.

Não obstante o grande desenvolvimento tecnológico proporcionado, como as bases para as novas tecnologias, pesquisas de materiais mais resistentes, novos aparatos de observação meteorológica e energias renováveis, as pesquisas espaciais também trouxeram novos insumos para a indústria da guerra. Enquanto a humanidade ainda tenta resolver problemas básicos como a fome e a escassez dos recursos naturais do planeta, os governos de alguns países industrializados aprovam o investimento em equipamentos para a exploração espacial cada vez mais sofisticados, com o sonho de chegar, agora, até Marte. Somente o projeto Apollo, iniciado por Keneddy nos anos 60, recebeu investimentos da ordem de US$ 40 bilhões para pisar nas monótonas areias lunares.

Para avaliar os reais avanços tecnológicos obtidos nas pesquisas espaciais desde o contexto da Guerra Fria até a atualidade, o Olhar Virtual ouviu as opiniões do professor Paulo Baía, do Departamento de Sociologia da UFRJ, e de Naelton Mendes de Araújo, astrônomo e mestrando em difusão científica pela UFRJ.

“A conquista da Lua era fundamental pelo ponto de vista do emblema sociopolítico, que hoje se pode chamar de marketing: quem a conquistasse seria o dono”

Paulo Baía
Professor do Departamento de Sociologia da UFRJ

“Faz parte da história da humanidade que as tecnologias de guerra que vão se desenvolvendo desencadeiem processos produtivos complexos, desde a área de produção de ciência e tecnologia até as redes de serviço, indústria e comércio. A guerra sempre foi vista por determinados segmentos das elites como um momento capaz de, acima de sua dramaticidade, mobilizar camadas de determinados grupos sociais. Isso acontece, sobretudo, porque ela faz com que sejam mobilizados capitais financeiros e materiais, assim como move as pessoas no sentido de torná-las criativas para a ‘arte’ da guerra.

Tanto os EUA quanto a URSS moveram suas forças produtivas de maneira sofisticada, sobretudo universidades e centros de pesquisa. A corrida pela conquista do espaço propiciou essa nova forma de organização da sociedade e dos conhecimentos, modificando as comunicações e tecnologias que geram novas mídias. A conquista da Lua era fundamental pelo ponto de vista do emblema sociopolítico, que hoje se pode chamar de marketing: quem a conquistasse seria o dono.

A ideia de que o mundo estava dividido entre o mal, que era o comunismo, e o bem, o capitalismo, foi marcada por um grande projeto de mídia assentado na corrida espacial.  Toda a base da ciência e das organizações de trabalho e emprego está centrada na expansão do espaço.

A indústria da guerra move as cadeias produtivas em todos os segmentos da ação humana, desde a produção da arma de destruição em si até as indústrias têxtil, química, bioquímica, entre outras. Por isso, a guerra é um fenômeno econômico total. Ela afeta a sociedade desde a produção do ato cruel da arma de destruição até a infraestrutura de guerra, serviços e comércios de todas as ordens, além da ciência e tecnologia, áreas consideradas mais nobres do conhecimento humano.”

“Poucos perceberam a importância que era recolher e analisar o solo lunar, uma das maiores oportunidades científicas que o programa Apollo proporcionou”

Naelton Mendes de Araújo
Mestrando em difusão científica pela UFRJ

“A chegada do homem à Lua ocorreu numa época marcada pela Guerra Fria. A disputa leste-oeste dominava o assunto na cabeça das pessoas. O lado político se destacava tanto que quase obscurecia o lado científico. Certamente muita gente notou o momento histórico para a ciência quando o primeiro ser humano tocou outro astro.  Poucos perceberam a importância que era recolher e analisar o solo lunar, uma das maiores oportunidades científicas que o programa Apollo proporcionou. Uma das maiores heranças tecnológicas que a corrida espacial nos deu foram os satélites artificiais. Com eles, podemos nos comunicar através do globo, acompanhar eventos meteorológicos e estudar regiões remotas do planeta.
Com relação ao conhecimento científico, a corrida espacial nos permitiu vislumbrar o universo como nunca antes. Através de telescópios em órbita e sondas espaciais, descobrimos mundos inteiros cheios de maravilhas. Nas pesquisas espaciais há um aspecto de busca de conhecimento puro e simples. Por outro lado, também há o interesse em descobrir novos recursos (minerais, principalmente) e tecnologias úteis aos interesses imediatos de todas as nações: fontes de energia alternativas, por exemplo. Podemos dizer que a tecnologia atual teve suas bases lançadas naquele momento de disputa. Os primeiros computadores eletrônicos portáteis devem muito àquele esforço tecnológico. Surgiram novos compostos químicos, sobretudo os plásticos modernos. Novas tecnologias de observação e investigação da natureza ganharam muito com o esforço espacial.
Conhecer o ambiente que nos cerca sempre foi uma vantagem evolutiva. À medida que o conceito de ambiente da raça humana cresceu além dos limites geográficos imediatos e abrangeu todo o nosso planeta, esse conhecimento tomou dimensões planetárias. O espaço extraterrestre nos oferece um campo vasto de conhecimento e oportunidades. Das pesquisas em ciência pura astronômica resultam vários avanços tecnológicos que podem mudar nossa vida.
Com o fim das disputas entre EUA e URSS, uma mudança muito boa não foi tecnológica, mas política: o fim do isolamento entre as potências espaciais. Ninguém acredita hoje que uma grande missão espacial como a ida do Homem a Marte será feita só por uma nação. Vivemos tempos de cooperação espacial.”