No Foco

UFRJ cria primeira graduação em Engenharia Nuclear do país



Diego Paes de Vasconcelos - AgN CT


O Conselho Universitário (Consuni) da UFRJ aprovou, no último dia 6, a criação da primeira graduação em Engenharia Nuclear do Brasil. O curso terá início no primeiro semestre de 2010 e oferecerá 20 vagas no processo seletivo externo, além de 30 vagas para os alunos do ciclo básico em Engenharia.

A coordenação do Programa de Engenharia Nuclear (PEN), criado em 1968, já formou cerca de 600 profissionais em mestrado e doutorado. Devido à demanda do Programa Nuclear Brasileiro - que prevê a construção de oito reatores nucleares até 2030, a criação da usina Angra 3, além  da manutenção das usinas Angra 1 e 2 que estão em operação - decidiu-se pelo envio ao Consuni da proposta de criação da nova graduação.

Segundo o diretor do PEN, Su Jian, o curso foi criado de acordo com a necessidade da sociedade e isso acaba atraindo os alunos da Engenharia com perfil para a área nuclear. Ele afirmou que diversos alunos já vêm buscando proximidade com a ciência. “Muitos alunos da graduação já participam de projetos de iniciação científica no programa desde o segundo período”, relata.

A criação do curso vem na esteira do desenvolvimento sustentável, segundo Su Jian. “Desde 2003, o PEN acompanha a retomada mundial de investimentos no setor nuclear, em virtude da falta de energia e preocupação com o meio ambiente. A energia nuclear cresce no exterior e o Brasil não está de fora da situação”, afirma o professor. Para Jian, “o país, que vive um novo ciclo de crescimento, precisa cada vez mais diversificar sua matriz energética”, completando ainda que outro fator importante para a criação do curso é a falta de profissionais no setor.

Formação promissora

O objetivo dos coordenadores do novo curso é que engenheiro nuclear saia da UFRJ com capacitação para trabalhar com a ciência nuclear, na atual conjuntura de desenvolvimento sustentável. Os futuros profissionais poderão desempenhar papel fundamental na questão energética, tendo em vista o promissor mercado de trabalho, em torno da energia nuclear no país. De acordo com o diretor do PEN, “existem outros planos para a construção de polos com novos reatores no Nordeste, graças à inauguração do escritório regional da Eletrobrás Termonuclear (Eletronuclear), no Recife”. O docente também ressaltou que os futuros profissionais poderão atuar na área da medicina nuclear, no que diz respeito a diagnósticos e tratamentos através de materiais radiológicos e radioisótopos que são fabricados nos reatores. “Na UFRJ temos muitas pesquisas para a aplicação em medicina e também em alimentos, nas quais vários alunos realizam projetos de teses de mestrado e doutorado junto a nós e ao Instituto Nacional de Cancer (Inca)”, disse.

Derrubando mitos

Para Su Jian existe falta de conhecimento na sociedade a respeito do tema, e a formação de engenheiros nucleares irá contribuir na divulgação dos benefícios da energia nuclear. Para exemplificar, Su Jian cita a produção dos Estados Unidos, Japão e França. “Os três países respondem por 60% do total mundial de capacidade instalada em usinas nucleares e em geração de eletricidade, destacando-se a França, com 80% de sua energia gerada por 56 reatores nucleares, e o Japão, com 30%”, defende.

No caso particular do Brasil, Jian aponta que quase 90% da matriz energética do país é oriunda de usinas hidroelétricas. Os outros 10% são provenientes das termoelétricas e usinas nucleares. “Por isso, se Angra 1 e 2 não estivessem funcionando, faltaria energia”, analisa.

Su Jian explicita três pontos que para ele são cruciais à implementação da energia nuclear no país. “Primeiro, ela é essencial para suprir a demanda energética que está à beira do colapso;  segundo, a energia nuclear é limpa, com suas sobras completamente controladas e armazenadas pela Eletronuclear no próprio sítio dos reatores, tendo a possibilidade de poderem ser reutilizadas como matéria-prima no futuro, a partir do aprimoramento de novas tecnologias; e terceiro: a diversificação da matriz energética evita dependências de fatores externos, como o caso do gás natural. Além disso, o Brasil poderá futuramente ter entre 6 e 12 reatores que responderão seguramente por 10% da produção energética nacional”, conclui.