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Filosofia, uma ciência emancipadora

Vanessa Raposo


A Casa da Ciência ficou mais vibrante na última quinta, dia 19. O calor e sol forte não impediram que dezenas de ouvintes se distribuíssem pelas instalações da unidade, atraídos pelos debates e curiosos com a oferta de recursos interativos. Ao entrar no salão refrigerado onde ocorria a exposição, o visitante se deparava com um totem de madeira, onde estava escrito, em diversas línguas, o nome daquela que seria o foco do evento: a Filosofia.

Documentários sobre educação, vida e sexualidade eram exibidos nos telões. Um pequeno estande se especializava na venda de livros didáticos e cartazes espalhavam informações sobre os maiores pensadores que o Ocidente já conheceu.  

O Dia Mundial da Filosofia no Brasilteve início no ano passado, a partir da mobilização de diversos estudantes do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ (Ifcs). A data, escolhida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), é comemorada anualmente na terceira quinta-feira de novembro.

Ambiente Interativo

Djalma Lopes, estudante do Ifcs e um dos responsáveis pelo evento, conta que o alvo da edição foi o público leigo. “O objetivo é difundir a Filosofia através de mídias, e não apenas por meio de diálogos e textos. Temos fotos, vídeos e áudios com biografia e frases famosas de diversos pensadores”, afirma, lembrando ainda que a ideia é promover um ambiente informal e agradável que desenvolva o gosto pelo pensamento.

Segundo os organizadores, a participação do público na edição deste ano foi menor que em 2008. Apesar de acreditarem ter sido por conta da localização, em Botafogo,  distante do Ifcs, eles não demonstram arrependimento pela escolha do local. “Faz parte do desafio”, diz Tiago Gomes, também organizador, “tentar tirar a Filosofia das quatro paredes do Ifcs.” As palestras que ocorriam eram transmitidas pela internet, o que também dificultava a contagem exata da quantidade de pessoas que acompanharam os diálogos.

O Brasil produz filósofos?

A resposta, para o professor Jorge Vasconcellos, da Universidade Gama Filho (UGF), é positiva. De acordo com o docente, filósofo é aquele que pensa de maneira singular. Inclui Oswald de Andrade como o “cânone filosófico brasileiro”. É uma provocação que, diz, reflete no fato de  a Filosofia tropical não ter reverberado no centro filosófico mundial: a Europa. “Isto não ocorre por falta de pensadores”, lembra, “mas porque faltariam no Brasil pessoas se arriscando na área. Há uma urgência em pensar em nome próprio”, conclui.

O professor Filipe Ceppas, também da UGF, rechaçou a metáfora da “sementinha” plantada na cabeça dos alunos pelo mestre. Segundo ele, na escola, ironicamente, a maior lição é aprender. “Desde o primeiro dia, é ensinado ao aluno que seu lugar é a cadeira de frente para o quadro-negro e que o professor, detentor de saberes muito acima dos dele, é o único que pode falar em sala. A hierarquia é nítida”, analisa. Em vez disso, Ceppas propõe o discurso horizontal. “Não há como emancipar ninguém”, declara. “Não se pode emancipar os outros sem antes emancipar-se”, afirma. Para ele, “tanto a Filosofia quanto a Ciência buscam circular o que se entende por verdade. A diferença estaria no caráter autorreflexivo da primeira”, completa.

Para Alexandre Mendonça, professor da Escola de Comunicação da UFRJ (ECO), é importante que se distinga a Filosofia de que se está querendo falar. Ele alerta para o risco de que ela, em vez de ser modelo de libertação do pensamento, acabe tornando-se mais uma “produtora de verdades”. E sugere: “Desconfie sempre das verdades absolutas”.