No Foco

Solidariedade na volta às aulas

Vanessa Sol

Fotos: Arquivo Caeng
Calouros de Engenharia ajudam na limpeza do mangue
Arrecadação de alimentos também faz parte do trote solidário

Ao ingressar na universidade, jovens e adolescentes passam por um rito muito comum: o trote. O que era para ser uma brincadeira de integração entre calouros e veteranos, muitas vezes, torna-se uma prática constrangedora com consequências negativas para quem passa por essa experiência. Na tentativa de mudar a cara do trote, ajudar a sociedade e humanizar a relação entre novos e antigos alunos, integrantes dos centros acadêmicos de diferentes cursos da UFRJ estão organizando o Trote Solidário para o início das aulas, no dia 29 de março. A realização de atividades solidárias para alguns cursos já virou tradição e integra a recepção dos calouros todos os anos.  

O Centro Acadêmico de Engenharia (Caeng), que realiza o trote solidário há cinco anos, está organizando a “Calourada Pró-Haiti”. Na quarta-feira, dia 31 de março, às 9h, o Caeng fará uma palestra, seguida de debate, sobre o terremoto que devastou o Haiti. Após o evento, os calouros distribuirão panfletos com informações sobre a campanha Pró-Haiti, com indicações de alimentos a serem arrecadados e dos locais de entrega. À tarde, haverá uma confraternização, com renda revertida para a campanha. Está programada também a doação de sangue no Hospital Clementino Fraga Filho (HUCFF-UFRJ). 

Bruno Galdino, estudante do 7º período e vice-presidente do Caeng, afirma que o problema do trote comum é tirar do indivíduo a possibilidade do livre arbítrio. Na opinião dele, as atividades e brincadeiras realizadas durante o trote devem ser voluntárias, integradoras e sem excessos. “Sou contra o trote em que o aluno é pintado e colocado para pedir dinheiro. Isso não acrescenta nada para ele, para o veterano, nem para a sociedade”, ressalta. 

No trote solidário do ano passado, o Caeng arrecadou 350 quilos de alimentos não-perecíveis. Neste ano, a expectativa é conseguir novamente uma grande quantidade de doações, incluindo especialmente água mineral e alimentos enlatados para serem enviados ao Haiti. 

Humanização 

O Centro Acadêmico Franco Seminério do Instituto de Psicologia (IP-UFRJ) também tem a tradição de organizar trotes solidários. As atividades começaram, em 2007, com doação de sangue e arrecadação de brinquedos e roupas em bom estado de conservação. No ano passado, os estudantes doaram os objetos recolhidos para o Instituto Benjamin Constant. A instituição que receberá a doação em 2010 ainda não foi escolhida. 

De acordo com Thiago Colmenero, aluno do 3º período e integrante do centro acadêmico, a comissão de trote é contra qualquer tipo de violência, verbal ou física. Por esse motivo, ele vê no trote solidário a possibilidade de contribuir com a sociedade e humanizar as relações interpessoais tão fragilizadas atualmente. “Realizar atividades como as que realizamos cultiva em cada pessoa uma semente de cidadania, respeito a seus pares e solidariedade aos que precisam”, destaca. 

Os calouros do Instituto de Psicologia passam também pela Semana de Ambientação de Novos Alunos (Sana), realizada pela coordenação de Graduação em parceria com o centro acadêmico, para apresentação do curso. 

Na Faculdade de Direito, os estudantes do 2º período vão dar continuidade às atividades solidárias iniciadas em 2009. Eles arrecadarão roupas para uma instituição ainda não escolhida e farão doação de sangue. Além das atividades de caráter social, haverá a tradicional pintura, brincadeiras, e os calouros pedirão dinheiro nas ruas. No entanto, Camila Crespo, estudante do 2º período e participante da comissão de trote, avisa: “As atividades são voluntárias. Participa quem quiser”.  

A estudante apoia a mudança na aplicação dos trotes. Para ela, é contraditório entrar na universidade e passar por diferentes tipos de humilhação. “Esperamos mudar a cara dos trotes que já existem através de atividades solidárias”, enfatiza.  

O trote solidário idealizado pelo Centro Acadêmico da Escola de Serviço Social (ESS-UFRJ), como o da Engenharia, será em prol do povo haitiano. Uma das atividades da recepção dos calouros da ESS será a mesa-redonda “Haiti: antes e depois do terremoto”. De acordo com Joana Mota, estudante do 5º período e integrante da comissão de trote, a ideia é fazer um regaste histórico do país, mostrar o que o povo sofreu com o terremoto e debater com os novos alunos a ocupação das tropas militares estrangeiras no país. Haverá a pintura voluntária dos calouros, que poderão ir às ruas pedir dinheiro. Segundo a comissão, 10% dos recursos arrecadados serão enviados ao povo haitiano.