Zoom

A Lupa química



Márcia Guerra

Foto:Marco Fernandes
UFRJ e PCERJ assinam convênio para desenvolver conhecimento forense.

Em investigações criminais, como uma lupa, as substâncias químicas podem exercer um papel importante e auxiliar de maneira significativa o trabalho da polícia, evidenciando o que, ao olho humano, está oculto. Em casos de homicídio ou estupro, por exemplo, o sangue e o esperma identificados por alguns produtos apontam os culpados ou inocentes. É aí que entra parte do conhecimento gerado pelo Laboratório de Síntese e Análise de Produtos Estratégicos (Lasape) do Instituto de Química (IQ) da UFRJ.

Coordenado pelo professor Cláudio Cerqueira Lopes, o laboratório desenvolve produtos de aplicação forense como o reagente luminol que, ao entrar em contato com composto do sangue, produz uma reação de quimiluminescência, na coloração azul, que é observada com precisão no escuro. As minúsculas partículas de sangue podem permanecer e ser identificadas, mesmo que o criminoso tenha lavado a cena do crime com produtos de limpeza. A história dele começou em 1928, quando foi inventado pelo químico alemão H. O. Albrecht. Mais tarde, o produto ganhou aplicação na cena do crime e passou a ser utilizado por agências de segurança do mundo inteiro.

O Lasape desenvolveu uma versão mais barata que a importada do luminol, que acabou, em 2008, licenciado para produção em escala industrial. No último dia 25 de maio, inclusive, a Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro firmou convênio com a UFRJ para aproveitar a possibilidade de auxiliar o Instituto de Química a desenvolver novas substâncias.

O Lasape se propõe a aperfeiçoar o luminol aumentando o tempo da reação química. Hoje, ela é de 20 a 30 segundos, enquanto a nova fórmula pretende chegar a até 10 minutos evidenciando manchas de sangue. O professor Cláudio Lopes afirma que isso permitirá aos peritos criminais trabalharem com mais apuro e qualidade na cena do crime. “Eles vão poder coletar mais detalhes e passar aquelas evidências com maior precisão, através de um laptop, para uma autoridade”, explica. 

Novas substâncias no combate ao crime

Outro projeto em andamento no Lasape é o que permite a detecção de sêmen, feita através da borrifação de uma solução de fenolftaleína e outra de bicarbonato de sódio, que juntas produzem reação visível de coloração avermelhada na presença do composto. Esse método pode servir de evidência em casos de crimes de estupro.

O professor lembra que ambos os recursos são apenas indicativos e não conclusivos, ou seja, eles não podem servir de prova definitiva, mas indicam a necessidade de teste de DNA, que, enfim, dará o resultado inequívoco.

O laboratório investe também no desenvolvimento de tinta invisível, que pode ser aplicada como marcador de segurança em diversos objetos, como cédulas e obras de arte e revelada apenas através de a radiação ultravioleta. “Acho que é uma contribuição para o patrimônio que hoje está sofrendo ataque muito forte de fraudadores”, afirma Cláudio Lopes. Essa tecnologia pode auxiliar, também, no combate à crimes de extorsão e sequüestro.