Ponto de Vista

Euro em xeque?

Daniel Barros

Ilustração: Caio Monteiro

Com a União Europeia em uma crise financeira que arrasta o valor do Euro para baixo, é inevitável perguntar se a ideia de moeda única para um grupo de países tão heterogêneo é uma boa solução. Para o diretor do Núcleo de Estudos Internacionais da UFRJ, Ronaldo Fiani, a resposta é não. No entanto, o economista ressalta que o Euro só estará em xeque em curto prazo se acontecer na Alemanha o que ocorreu nos Estados Unidos no final de 2008. Ou seja, uma catástrofe que atinja com vigor o setor financeiro da economia mais sólida do continente europeu.

Fiani explica que a moeda única tira dos países soberanos a capacidade de decidir quanto à taxa de câmbio, impossibilitando uma eventual desvalorização intencional, por exemplo. Esse mecanismo nivela países que sempre serão diferentes econômica e politicamente, gerando desigualdades. O professor do Núcleo de Estudos Internacionais da UFRJ acredita que o mundo se encaminha para um futuro onde a moeda única perderá a força e irá desaparecer.

No entanto, a ideia de compartilhar uma moeda surgiu justamente porque há algum benefício. Fiani explica que o Euro funciona bem quando há excesso de dinheiro no mercado internacional. A lógica é administrar qualquer problema com crédito. “Mas quando o crédito encolhe, fica todo mundo exposto”, lembra ele. É exatamente essa a situação que a Europa vive atualmente.

Sair da Zona do Euro não é solução para os países em crise

Pensando em curto prazo, outra saída para a crise na Grécia, na Espanha e em Portugal seria que esses países mais atingidos abandonasse a Zona do Euro e voltassem às moedas originais. Para Fiani essa não é uma boa estratégia. Sair da Zona do Euro significaria enfrentamento com a Alemanha e a França, que ainda têm ganhos financeiros com o sistema como ele está. O economista aposta: “A menos que a crise atinja os países do cerne do Euro, eu duvido que esses países (Grécia, Espanha e Portugal) adotem uma postura radical dessas”.

Outras questões que envolvem a União Europeia parecem também estar cada vez mais longes da solução. Fiani diz que se já parecia difícil a possibilidade do Reino Unido adotar o Euro, a ideia se torna praticamente impossível com a crise. Além disso, é importante ressaltar que com o conservador David Cameron como primeiro-ministro, a aproximação da terra da rainha com a Europa é ainda menos provável.

A entrada da Turquia para a União Europeia é outro assunto que foi congelado. “Não que a Turquia não tenha seu valor econômico, mas com essa situação qualquer mudança se torna mais improvável. Além disso, todo mundo quer entrar numa festa onde há bebida de graça, mas quando acaba a bebida ninguém quer mais”. completa o economista.