Ponto de Vista

AIDS: tratamento ainda não é o ideal

Ana Carolina Correia

Ilustração: João Rezende

A Unaids, programa da Organização das Nações Unidas (ONU) para a Aids, em conjunto com a Unicef e com a Organização Mundial da Saúde (OMS), publicou, no último dia 28 de setembro, relatório sobre a incidência da doença ao redor do mundo. Afirma-se que dois terços da população mundial infectada com o vírus não têm acesso a tratamento. Desse modo, o cumprimento das metas traçadas pela ONU, em 2006, para universalização do tratamento e prevenção até 2010, fica cada vez mais improvável.

Mesmo com o cenário atual, pode-se dizer que houve grandes avanços no combate e prevenção do vírus. “Na primeira área, um dos maiores avanços foi a possibilidade de prevenir a transmissão vertical do HIV, isto é, da mãe infectada para o seu concepto através do uso de antirretrovirais durante a gestação, junto com medidas que propiciaram diagnóstico rápido na gravidez, através do uso de teste rápido após a 28ª semana de gestação, cuidados durante o parto e no recém-nato e a não-amamentação. Na segunda, o aumento no arsenal de diferentes antirretrovirais disponíveis atualmente para tratamento e o uso de combinações de diferentes drogas, denominada terapia antirretroviral altamente potente (HAART, em inglês) propiciou uma diminuição importante da mortalidade e morbidade da doença”, explica a médica infectologista do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG) da UFRJ, Elizabeth Machado.

Embora o relatório seja otimista com a crescente melhora da situação em países de renda média e baixa, como, por exemplo, Cuba, Camboja e Ruanda, que alcançaram o acesso universal ao tratamento de adultos, a desigualdade ainda é latente. A maior causa disso são os altos preços dos antirretrovirias e a falta de infraestrutura da saúde em geral, que inclui, por exemplo, recursos humanos e laboratoriais, prejudicados pela crise que abalou a economia global.

 

Elizabeth enfatiza que o investimento mundial em vacinas para o vírus, no momento, é de 960 milhões de dólares; enquanto, em 2008, os recursos para HIV/Aids chegaram à marca de 15 bilhões de dólares, segundo a Unaids. “Devemos lembrar que 7.500 pessoas são infectadas diariamente pelo HIV no mundo e a maioria dessas novas infecções ocorrem na África Sub-Sahariana, onde apenas 4 dos 14 milhões de infectados conseguem tratamento antirretroviral”, resume.

O cenário no Brasil

Segundo a médica, a estimativa para o Brasil é que existam, hoje, 620 mil infectados pelo vírus no país, com uma média de 32 mil novos casos e 11 mil óbitos anuais. “Cerca de 185 mil tem acesso universal ao tratamento, correspondendo a uma cobertura de aproximadamente 95% dos casos que precisam de tratamento. Esse acesso universal, garantido desde 1996, foi responsável por uma redução de 80% das internações hospitalares.”

Com os resultados positivos, as autoridades da Unaids apelam para que os investimentos sejam maiores; além de afirmar que ainda são necessários mais 10 bilhões para alcançar o objetivo, agora previsto para se concretizar no ano de 2015.