Ponto de Vista

Terceira idade contemporânea

Elisa Ferreira

Ilustração: João Rezende

Entre os diversos trabalhos apresentados na Jornada de Iniciação Científica, Artística e Cultural (JIC) de 2010, destacou-se a sessão 165, “Envelhecimento 1”, na qual foi discutida a questão do envelhecimento em diversos âmbitos, como a autonegligência, o espaço público e a relação com as novas tecnologias.

Sob a orientação da professora Hebe Signorini Gonçalves, André Luiz Alexandre do Vale e Natália de Oliveira de Paula Cidade, alunos do 10° período do Instituto de Psicologia (IP) da UFRJ, apresentaram o trabalho “A autonegligência é contemporânea: Reflexões acerca da violência na construção da terceira idade”.

A pesquisa discute a construção da terceira idade e suas características próprias na contemporaneidade. Além disso, os estudantes procuraram refletir acerca da violência que esse grupo sofre: abuso físico, sexual e psico/emocional, abandono, abuso financeiro/material, negligência e autonegligência.

Em entrevista ao Olhar Virtual, o aluno André Luiz Vale fala sobre a pesquisa, os objetivos e resultados do trabalho, e sobre a importância da JIC para o corpo discente da UFRJ.

 

Olhar Virtual: Como surgiu o interesse pelo tema do envelhecimento na contemporaneidade?

André Luiz Vale: A gente estava fazendo duas disciplinas que falavam de temas semelhantes. Uma das matérias tratava de temas relacionados à morte e como lidar com ela na sociedade contemporânea. A questão analisada era não só a perda, mas a relação pessoal de cada um com a morte, principalmente na fase do envelhecimento, quando ela está iminente. A outra disciplina abordava a violência na sociedade, principalmente a violência na família. Nessa, vimos os vários módulos da violência: contra criança, adolescente, mulher e idoso. Unimos, então, essas duas disciplinas, dois olhares complementares, para desenvolver o trabalho.

Olhar Virtual: Quando vocês começaram as pesquisas?

André Luiz Vale: Esse trabalho foi originário de uma pesquisa que durou seis meses, realizada no segundo semestre de 2009.

Olhar Virtual: Qual é o principal objetivo do trabalho?

André Luiz Vale: O objetivo era discutir como os conceitos de terceira idade e autonegligência só podem surgir na contemporaneidade, devido a toda uma questão cultural e de responsabilização do indivíduo pelas suas condições de bem-estar e de saúde, a partir de recursos médicos, pensamentos e acontecimentos atuais, fazendo com que não fosse possível essa discussão em outros períodos. Para isso, contrapomos a questão do ideal que é colocada à terceira idade, como disponibilidade para aprender, imperativo-atividade e flexibilidade, que desconsidera o que o idoso quer fazer; são coisas impostas a ele.

Olhar Virtual: O que vocês consideraram importante de destacar na pesquisa?

André Luiz Vale: Nós problematizamos a ideia de autonegligência. Para isso, foi preciso uma pesquisa comportamental em todas as fases da vida, principalmente na terceira idade, e um aprofundamento sobre o que é a autonegligência. Acho que essa foi a principal contribuição, um aprofundamento sobre a autonegligência em si. Quisemos questionar e tencionar o paradoxo do idoso ter que ser, diante da autonegligência, responsável por ele.

 

Olhar Virtual: Ao longo da apresentação do trabalho, foram mencionados alguns nomes que influenciaram o trabalho de vocês. Qual nome pode ser considerado o mais relevante para a pesquisa?

André Luiz Vale: O principal nome que utilizamos no nosso trabalho foi Michel Foucault. Ele é  filósofo, não pertence à Psicologia, mas foi o mais conhecido que utilizamos para reforçar nossas ideias no trabalho. Além dele, citamos também Jean Clavreul, Ortega e Ana Silva.

Olhar Virtual: Qual foi a importância da Jornada de Iniciação Científica?

André Luiz Vale: É sempre bom ter um evento acadêmico que congregue todos os trabalhos das diversas unidades da UFRJ. Além disso, a proposta de combinar vários temas em uma única sessão é muito rica, pois nos permite saber um pouco do que está sendo produzido nas outras unidades e compartilhar com outros grupos nossos conhecimentos e interesses. De certa forma, isso enriquece muito os trabalhos, mesmo aqueles que já estão concluídos.

Olhar Virtual: A apresentação na JIC contribuiu para a  pesquisa?

André Luiz Vale: Sim, porque as mesas são compostas por trabalhos de outras áreas, mas que, no fundo, perpassam questões semelhantes. Com isso, tivemos várias contribuições positivas para nosso trabalho, não só em nossa sessão, mas em outras que estivemos como ouvintes.