Ponto de Vista

África do Sul: o país depois da Copa

 

 

Júlia de Marins

 

Aconteceu, na manhã da última segunda-feira, 4 de julho, a Oficina de Planejamento Urbano e Regional de Julho, organizada pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR/UFRJ). O evento contou com a participação do professor Alan Mabin, da School of Architecture and Planning da University of the Witwatersrand, de Joanesburgo, África do Sul, em uma palestra sobre “As Cidades Sul-Africanas: Do Apartheid à Copa do Mundo”.

Ao longo de sua apresentação, o professor teve por objetivo mostrar as memórias das cidades sul-africanas, pontos relevantes sobre a Copa do Mundo de 2010 na África do Sul e algumas conclusões sobre as mudanças causadas pelo mega evento, sempre fazendo possíveis ligações com o Brasil.

Segundo Mabin, alguns fatos em comum entre as histórias sul-africana e brasileira devem ser ressaltados como forma de explicar certas semelhanças entre os dois países. Para o professor, “o fato de ambos serem marcados, ao longo de sua existência, pela colonização europeia, pela escravidão e por regimes ditatoriais é fundamental para compreender a formação social que há hoje nos dois países. As consequências desses fatos ainda permanecem, tanto que é impossível entender a África do Sul sem considerar o racismo, que esteve claramente presente durante o Apartheid e ainda se manifesta hoje. Tanto em meu país como aqui no Brasil vemos como os reflexos da escravidão ainda são fortes, seja na separação étnica e também social que permanece entre os bairros das cidades sul-africanas, seja na segregação social representada pelas favelas nas metrópoles brasileiras”.

De acordo com Alan Mabin, uma das diferenças entre os dois países que merece destaque é “o tamanho, pois a África do Sul ocupa uma área equivalente à 20% da extensão territorial do Brasil”. O professor também destacou que as populações possuem características bastante divergentes, já que “os sul-africanos falam vários idiomas, enquanto os brasileiros só conhecem um. A diferença é tão grande que a África do Sul possui 11 línguas oficiais, contra apenas uma do Brasil”. Em contraposição, “o Brasil tem a imagem de seu povo e de suas cidades muito mais forte e consolidada no mundo do que a África do Sul, o que é uma vantagem em relação a um evento como a Copa”.

Ainda segundo o professor, é preciso analisar as consequências positivas e negativas que a vitória na disputa para sediar a Copa do Mundo de 2010 acarretou para sua nação. Para ele, “mudanças como a maior tolerância entre as pessoas de diferentes etnias ocorridas durante o evento devem ser vistas como avanço, assim como a melhoria da imagem não só da África do Sul, mas de todo o continente africano aos olhos do restante do mundo”. No entanto, Mabin ressalta que a política de interesses pode ter prejudicado a população sul-africana, principalmente a parte pobre, não só ao longo da montagem e organização acontecimento, como em longo prazo. “A construção de estádios em regiões distantes das áreas pobres das cidades buscou mostrar o ‘lado bonito’ do país para os turistas e, além de excluir boa parte de trabalhadores sul-africanos da produção da Copa, condenou-os a depender para sempre de meios de transportes caros e inseguros caso queiram ou precisem percorrer o longo caminho de suas casas até os centros esportivos”, afirmou Alan Mabin.

Ao final de sua apresentação, o convidado concluiu que a melhor maneira de organizar um mega evento como a Copa do Mundo é incluindo a população, para evitar revoltas sociais e ajudar no desenvolvimento do país, planejando como lidar com possíveis problemas e trabalhando em conjunto com a mídia, para que esta auxilie a divulgação do acontecimento e da nação em geral. Desta maneira, “os bons resultados estarão presentes durante toda a Copa, mas não acabarão junto com ela”, disse o professor.

 

.