Entrelinhas

De perto ninguém é normal

 

Thais Carreiro

Divulgação

 Antropóloga e professora do Departamento de Antropologia Cultural e do Programa de Pós- Graduação em Sociologia e Antropologia do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Mirian Goldenberg acaba de ter um de seus livros reeditadas para a versão de bolso. Em “De Perto Ninguém é Normal”, a professora discute as questões do amor, desejo, casamento, família, sexualidade, entre outras buscando desvendar o que é “normal” e o que pode ser considerado “desvio” na sociedade em que vivemos.

Em suas outras obras, a professora analisa questões na área de gênero, corpo, envelhecimento, sexualidade e novas conjugalidades na cultura brasileira – áreas das pesquisas que ela vem orientando no seu trabalho como docente.

O Olhar Virtual conversou com a professora Mirian Goldenberg que falou um pouco sobre seu trabalho nesse livro.

Olhar Virtual: O que a senhora propõe na obra “De perto ninguém é normal”?

Mirian Goldenberg: A proposta do livro é, por meio de vários temas e abordagens metodológicas, discutir a questão das diferenças de gênero e o que é considerado normal
ou desviante na cultura brasileira. Discussão que desenvolvo desde a minha tese de doutorado “Toda Mulher É Meio Leila Diniz” e mesmo antes, com o estudo das “Outras”, as amantes dos homens casados. É um campo de reflexão que vendo desenvolvendo na UFRJ, junto com meus alunos e orientandos. O livro é uma síntese deste trabalho.

Olhar Virtual: De onde veio o interesse na pesquisa de “gênero e desvio”?

Mirian Goldenberg: Começou ao estudar as “Outras”, em um curso no meu doutoramento
no Museu Nacional, ministrado por Gilberto Velho. Após ler as obras de Howard Becker e
de Erving Goffman, resolvi pesquisar mulheres que são rotuladas como desviantes
em nossa cultura. “A Outra” foi interessante para pensar o papel do casamento, da família,
da fidelidade, do amor nas relações contemporâneas. Depois de estudar as “Outras”, estudei
homens casados e em seguida a trajetória de Leila Diniz e de outras mulheres rotuladas como desviantes. Vale a pena dizer que tenho tomado a cidade do Rio de Janeiro como cenário para essas discussões. Agora tenho estudado o papel do corpo e do envelhecimento na cultura brasileira.

Olhar Virtual: Quais foram as descobertas mais interessantes que você fez durante a pesquisa para o livro?

Mirian Goldenberg: São inúmeras. Mas tenho me centrado na discussão sobre as diferenças entre homens e mulheres e como eles e elas justificam seus comportamentos. O mais interessante é perceber que os comportamentos mudaram muito, e homens e mulheres estão mais próximos do que nunca, mas os discursos permanecem muito distantes, como se não houvesse uma real transformação.

Olhar Virtual: Quando você analisa a novela “Laços de Família”, afirma que há uma diferença entre o estilo de vida da Zona Sul carioca com o resto do país. A senhora poderia explicar por que isso acontece?

Mirian Goldenberg: Tenho pesquisado uma elite brasileira, uma vanguarda comportamental, homens e mulheres que são imitados por outros. A Zona Sul do Rio de Janeiro cria e fortalece comportamentos de vanguarda, em termos de casamento, relações, sexualidade e corpo. São pessoas que são imitadas e retratadas como modelos. Enfim, interessante para pensar as contradições entre tradição e modernidade, novo e velho, como mostro neste capitulo do livro. Mostro também as contradições entre um ideal de família e as alternativas que surgiram nas últimas décadas.

Olhar Virtual: Na obra, a senhora fala diversas vezes das mulheres. Como a senhora vê a mulher na sociedade atual nas questões amorosas, familiares e social?

Mirian Goldenberg: Mostro a ambigüidade desta nova mulher, que ainda valoriza traços como estabilidade, segurança, fidelidade, mas quer também liberdade, experiência, espaço... contradições que causam muito sofrimento. As mulheres que pesquiso sentem-se angustiadas por, de um lado, quererem seguir os padrões socialmente valorizados e, por outro, desejarem romper com estes padrões e serem “elas mesmas”. As duas categorias mais presentes em seus discursos são: desejo de liberdade e busca por intimidade.

Olhar Virtual: Você agradece e diz que a obra não seria possível sem a permanente e exigente demanda dos alunos da Graduação e da Pós. Qual é a participação desses alunos na construção dessa obra?

Mirian Goldenberg: Sem eles, eu não seria a pesquisadora, a professora e a mulher que sou hoje. São eles que me ensinam a ser uma pessoa mais dedicada e delicada com os temas que estudo. Alguns dos meus melhores amigos, hoje, são ex-alunos e alunas. Tenho muitos ex-alunos que hoje são professores e pesquisadores. Sinto muito orgulho de acompanhar e estar presente nas trajetórias deles. Sem dúvida, é a grande recompensa nesta carreira que escolhi. Carreira que me faz feliz até hoje, como no primeiro dia que dei aula na UFRJ, em 1994. Retratei este amor pelo ensino e pesquisa em dois livros “A Arte De Pesquisar” e “Noites De Insônia”.

DE PERTO NINGUÉM É NORMAL
1ª Edição, 2011

AUTORA: Mirian Goldenberg

EDITORA: BestBolso

FORMATO: 12 x 18, 126 páginas.

PREÇO SUGERIDO: R$ 9,90