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Edição 191      12 de fevereiro de 2008


Ponto de Vista

Onde encontrar um engenheiro?

Kareen Arnhold - AGN/CT

imagem ponto de vista

A realidade brasileira mostra que faltam engenheiros para atender à demanda do mercado nacional em expansão e objeto de investimentos diversos.

De acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), existem seis engenheiros para 100 mil habitantes no Brasil, quando deveria haver, pelos menos, 25 engenheiros por cada grupo, para atender ao número de vagas.

Para explicar a falta de tais profissionais no país, Érickson Almendra, diretor da Escola Politécnica (Poli) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), concedeu a seguinte entrevista ao Olhar Virtual:

Olhar Virtual: Vivemos a realidade de falta de engenheiros para atender a demanda do mercado nacional...

Eu diria que há falta de engenheiros e certo apagão de mão-de-obra em geral. Faltam profissionais de muitas áreas; engenharia é apenas uma delas. O Sindicato da Construção Civil, por exemplo, informou ter dificuldades em contratar pedreiros, porque houve uma retomada do setor. Então, veja, falta, no Brasil, de engenheiro civil a pedreiro.

Olhar Virtual: Qual é a razão para tantas vagas ociosas?

As causas são várias, mas a principal é a seguinte: o Brasil passou um tempo grande em crise econômica, em baixo crescimento, o que significa que os investimentos foram reduzidos, particularmente na área industrial. Quando voltou a crescer, há uns 6 anos, a indústria nacional começou a se recuperar, ou seja, as empresas existentes se expandiram e surgiram também novas fábricas. Isso está gerando a grande demanda nacional por novos profissionais.

Olhar Virtual: Qual a solução para resolver o impasse entre alta demanda e baixa oferta?

Não há solução de curto prazo. Em uma escola de Engenharia, qualquer esforço para aumentar a formação de engenheiros demora cinco anos, no mínimo, para dar resultado. No entanto, algumas coisas já estão acontecendo naturalmente. Por causa da retomada do crescimento do Brasil, constatamos, aqui na Escola Politécnica, que nosso índice de evasão está caindo. Na época do Milagre Brasileiro, ele era da ordem de 5%; durante a crise, atingiu 60% e agora está em 40%. Se o aluno entra e tem perspectiva de emprego e de progresso na carreira, com bons salários, ele não abandona o curso. Se a perspectiva de emprego é ruim e os salários não estão bons, a evasão é assustadora. Um exemplo é o curso de Engenharia Naval. Há oito anos, os jornais começaram a publicar notícias sobre a recuperação da indústria naval, que chegavam aos alunos e candidatos à profissão. Isso aumentou muito a demanda pelo curso e diminuiu significativamente a evasão no período.

Olhar Virtual: A carência por engenheiros existe também em outros países?

Falta de engenheiro é uma constante no mundo inteiro. Nos países industrializados e desenvolvidos – em que as indústrias estão sendo deslocadas para países subdesenvolvidos – para que as empresas locais mantenham competitividade, os salários pagos às profissões técnicas não são tão bons. O resultado é que Alemanha e Inglaterra, por exemplo, com uma carência típica de engenheiros, têm dificuldade em atrair seus alunos para cursar disciplinas técnicas. No caso dos países em desenvolvimento, o crescimento acelerado – a criação de novas fábricas e a expansão da produção – é o responsável pela carência desses profissionais. Algumas nações já refletem esta realidade: na Coréia, mais de 70% dos universitários fazem engenharia; na Índia, são mais de 50%. Já no Brasil, nem 10% dos estudantes estão na área. Lamentavelmente somos um país que valoriza pouco a profissão. Em quais áreas da engenharia os profissionais em formação já têm emprego garantido? Em todas. Em algumas áreas, inclusive, está havendo o movimento de canibalização entre empresas, em busca de profissionais; umas tiram engenheiros das outras, o que significa que os salários estão aumentando. Nesta história toda, apenas a Petrobras não sofre com a falta de mão de obra, devido à estabilidade de emprego e ao fato de ser de altíssima tecnologia. Toda vez que ela abre concurso, rouba engenheiros empregados em outras companhias. Outra prova do que eu falo são as empresas estrangeiras com base no Brasil, tentando vincular nossos alunos a elas através de estágios e cursos no exterior. Este é o exemplo da Peugeot e da Michelan, entre outras. As companhias internacionais pagam bolsas para os brasileiros no exterior, sem compromisso. Elas acreditam que, estudando a língua da matriz e fazendo estágio na empresa, há grande probabilidade de o aluno se tornar funcionário. Pagar o estágio é uma das estratégias de recursos humanos da empresa para conseguir novos quadros.

Olhar Virtual: Por que uma empresa de outro país procura alunos brasileiros?

Para uma empresa européia, sai mais barato contratar um engenheiro brasileiro que convencer um europeu a vir para o Brasil, porque na Europa se ganha mais do que aqui e porque mudar de país não é fácil para eles. Para nós, isso também é um bom negócio, porque o brasileiro ganha emprego, continua aqui no país e auxilia o aumento do salário dos profissionais do ramo, de certa forma. Olhar Virtual: No caso de convênios de estudo, os alunos da Poli têm dificuldade em se adaptar ao conteúdo estrangeiro ou nossos padrões de engenharia são comparáveis aos de países desenvolvidos? Os alunos da Escola Politécnica não têm dificuldade em nenhum país do mundo, exceto França, onde a matemática ensinada para os engenheiros está em nível superior a ensinada em qualquer outro lugar. É mais comum um estrangeiro ter dificuldade estudando aqui do que o contrário. Isso é uma das razões de fazermos tantos convênios, aferirmos a qualidade de nossos cursos.

Olhar Virtual: Se os brasileiros têm facilidade em absorver e desenvolver o conteúdo do exterior, há maior risco de eles serem absorvidos pelas empresas internacionais. É comum o roubo de nossos cérebros?

Risco existe, mas nós temos acompanhado isso. A pessoa estudou 20 anos no Brasil, vai para o exterior, se apaixona pela indústria local e acaba ficando por lá. No entanto, a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), o órgão brasileiro que financia estas bolsas, monitora esse processo constantemente. Os dados da Politécnica sobre perda de alunos apontam, ela não perdeu nenhum até agora, num total de 100. Se nós perdemos um aluno, podemos ganhar outros, porque não fazemos convênios de uma só via. Vai um brasileiro para Noruega, vem um norueguês para cá, por exemplo. É assim que funciona.

 

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