Coordenadoria de Comunicação do Gabinete do Reitor - UFRJ www.olharvirtual.ufrj.br

Edição 208      17 de junho de 2008


De Olho na Mídia

Hospital Universitário da UFRJ: um gigante adormecido

Julia Vieira

imagem ponto de vista

Quem descobre que aquele prédio enorme na entrada da Ilha do Fundão é um hospital espanta-se e chega a ter uma pontinha de ilusão de que “pelo menos existe no Rio de Janeiro um hospital público com capacidade para atender um bom número de pessoas”, mas a realidade do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), carinhosamente chamado de HU, infelizmente, não é essa.

Nas últimas semanas, os holofotes deram visibilidade ao HU que passa por uma grande crise. O Hospital já está acostumado a passar por momentos turbulentos, desde de sua construção – iniciada em 1950 e apenas finalizada em 1978. O HUCFF teria 1.800 leitos em uma imensa estrutura de 220.000 m². Quando foi inaugurado, apenas a metade de sua estrutura tornou-se funcional: 110.000m² tornaram-se pura carcaça.

Após completar 40 anos, o Hospital passa por uma profunda crise.  “É muito fácil entender a crise do HU. É uma crise completamente financeira, pois um hospital deste porte não consegue funcionar sem verba”, declarou Henrique Murad, cirurgião do Instituto do Coração. As turbulências no HUCFF se devem a uma dívida de R$ 10 milhões com fornecedores de serviços e bens hospitalares e pelo fato de não receberem reajustes na verba do Ministério da Saúde desde 2004.

Para garantir a qualidade do atendimento do hospital, a Diretoria decidiu, no dia 9 de maio, interromper a realização de transplantes de órgãos. Nesta mesma data, ficou decidido que os leitos seriam fechados assim que todos os pacientes internados recebessem alta. O HU, um dos maiores hospitais universitários do Brasil, adormeceu. Parou, praticamente, de funcionar.

Os hospitais universitários têm importância vital para o sistema de saúde do Rio de Janeiro. O HUCFF, por exemplo, é o único hospital em todo o estado a realizar certos procedimentos de alta complexidade, como alguns transplantes e neurocirurgias, e o seu fechamento prejudica toda a população.

No dia 14 de maio foi anunciado que o Hospital receberá uma verba extra de R$ 800 mil da prefeitura da capital fluminense por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). O acerto foi feito em reunião entre representantes do hospital e da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Apesar do aumento de recursos, a verba extra é insuficiente. A aprovação do plano operativo do hospital foi um passo muito importante, mas não resolveu o problema do HU, que precisa de muito mais verba para retomar plenamente suas atividades.

Mas como esta crise vem sendo acompanhada pela sociedade? Como na maioria dos casos, a comunidade tem acesso apenas aos relatos da mídia. Segundo Henrique Murad, a grande imprensa não cobre o caso do HU da maneira correta. “Existe, por parte dos veículos de comunicação, um grande desinteresse de cobrir a crise do Hospital de forma correta. Não há uma verificação do que realmente acontece aqui dentro”. E quando a imprensa realiza pouca ou má apuração, temos leitores desinformados ou recebendo informações destorcidas. “A imprensa ouve o Ministério da Saúde se isentando de culpa pela crise e passa a versão dele de que os problemas do Hospital Universitário são problemas unicamente de gestão. A imprensa prolifera essa visão, sem ao menos procurar entender a nossa realidade”, critica o cirurgião.

No dia 30 de maio, estudantes, funcionários e professores saíram em passeata em protesto ao fechamento do Hospital Universitário. Os manifestantes cobraram soluções que pudessem resolver a crise financeira dos HUs e interromperam parte do trânsito da Linha Vermelha e da avenida Maracanã. Para Henrique Murad, a mídia se saiu melhor na cobertura deste protesto. “Independentemente da forma que os protestos tenham saído na mídia, acredito que o resultado tenha sido positivo. Queríamos mostrar o quanto nos importamos com o HU. O aparecimento destas passeatas na imprensa foi salutar para nós”.

A cobertura midiática sobre a crise do Hospital Universitário da UFRJ, correta ou não, vem sendo importante para dar visibilidade aos problemas que esta unidade de saúde pública tem. “Agora o Brasil inteiro está de olho em nós. Outros hospitais universitários do Rio de Janeiro, como o da UFF e da UNIRIO, passam por uma situação insalubre”. Os que pensam que o sistema de Saúde é deficitário apenas no Rio de Janeiro se enganam: “Com exceção dos Hospitais de Porto Alegre, o Brasil inteiro passa por problemas estruturais, ligados a área financeira. Não digo que não existem problemas de gestão, mas eles são seriamente agravados pela falta de recursos”, avalia Murad.

Hoje, dia 17 de junho, haverá uma reunião para decidir o futuro do HU. “Reabriremos o hospital, mas ele funcionará, inicialmente, com uma capacidade muito menor. Ainda não temos uma data confirmada para a reabertura, mas ela deve acontecer dentro de 10 ou 15 dias”, revela o cirurgião Henrique Murad.

É importante lembrar que o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho não deixou de dar assistência a casos emergenciais e atendeu, de forma irrestrita, aos pacientes com dengue.

Anteriores