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Edição 268      22 de setembro de 2009


Entrelinhas

Barra de São João preserva sua história

Vanessa Sol


Barra de São João: água, terra e arquitetura é o mais novo livro publicado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU). O livro é fruto do ciclo de seminários “Preservação do Patrimônio Cultural” realizados em seis cidades do estado do Rio de Janeiro. O ponto que une essas cidades na pesquisa do Núcleo de Estudos de Arquitetura Colonial do Departamento de História e Teoria (DHT-Neac) da FAU é o resquício do traço colonial que ainda resta nesses municípios. A obra foi organizada pelo professor Olínio Gomes Coelho e pela professora Maria Clara Amado, ambos do DHT, e será lançada dia 23 de setembro, no mezanino do prédio da Reitoria, na Cidade Universitária.

De acordo com Maria Clara Amado, as construções coloniais presente em diferentes cidades do estado precisam ser preservadas. Elas têm passado por um acelerado processo de degradação e descaracterização em função do crescimento urbano. Para evitar a continuidade desse processo, “é importante mostrar à população e ao poder público local a importância de preservar esse patrimônio, inclusive, para que finalidades turísticas”, afirma a professora.

Ela destaca ainda que turismo e arquitetura andam lado a lado, pois locais com patrimônios bem preservados e restaurados atraem turistas. Em Barra de São João, um exemplo disso é a casa onde morou o poeta Casimiro de Abreu, que foi restaurada e hoje é um ponto turístico da cidade. “É unânime que Barra de São João tem potencial turístico pouco aproveitado”, ressalta Maria Clara.

Outro ponto destacado pela professora é a importância da participação dos alunos na realização do trabalho, reforçando a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. “Tirar o aluno do reduto da sala de aula e levá-lo para os trabalhos de campo reforça a forte importância para a graduação do trabalho de extensão”, avalia.

Confira as entrevistas concedidas ao Olhar Virtual pela professora Maria Clara Amado, pelo professor Jerônimo de Paula Silva, integrante do projeto, e Nátaly Losi, estudante de graduação do 1º período.

Olhar Virtual: Como surgiu a idéia de escrever o livro?

Maria Clara: Em 2005, o professor o Olínio Gomes Coelho teve a idéia de criar o projeto de extensão ligado à preservação do patrimônio histórico e arquitetônico. A intenção era levar os alunos de graduação a cidades com bens patrimoniais. Esse tipo de projeto é importante porque o aluno da não fica somente na sala de aula, ele vai para a vida real.

Jerônimo: Tínhamos o objetivo de conscientizar os moradores das cidades visitadas da necessidade de preservação de seu patrimônio cultural. Com isso, nos conseguimos visitar algumas cidades.

Olhar Virtual: Quais cidades foram visitadas?

Maria Clara: Iguaba, São Pedro da Aldeia, Vassouras, Petrópolis, Quissamã e Barra de São João.

Olhar Virtual: O projeto contou com parceiros?

Maria Clara: Além da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ, ele contou com o apoio do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (CREA), desde o início, que tem um programa chamado Progredir que auxilia projetos de graduação e ajudou financeiramente na publicação.

Olhar Virtual: Por que somente a visita à cidade de Barra de São João virou livro?

Maria Clara: Ela foi a última cidade a ser visitada. Na verdade, fomos convidados a apresentar o seminário lá. À medida que o projeto foi tendo visibilidade, as prefeituras das cidades foram se interessando e nos convidando a estar nessas cidades. Em Barra de São João, além do acervo arquitetônico, encontramos o de um artista local chamado Chico Tabibui, que teve sua coleção comprada recentemente por um colecionador português. Então, pudemos juntar arquitetura, arte e literatura, já que Barra de São João é a cidade de Casimiro de Abreu.

Jerônimo: Nós temos a intenção de fazer publicações referentes a outras cidades que visitamos, pois temos material guardado para isso. Falta o apoio financeiro. Vassouras será nosso próximo alvo para publicação, principalmente porque o professor Olínio Gomes, que está em processo de emerência aqui na UFRJ, é o presidente do Instituto Brasileiro Histórico e Geográfico de lá. Como a nova função, o professor Olínio tem a intenção de produzir um grande trabalho com a participação dos alunos sobre o Vale do Paraíba.

Olhar Virtual: Como foi a realização dos seminários?

Maria Clara: Antes de realizarmos os seminários, íamos duas ou três vezes à cidade fazer o reconhecimento do local. Então, convidamos professores do DHT da FAU e pessoas da região para ministrar palestras sobre aquela cidade. O evento durava um final de semana. Em cada seminário, os alunos também tinham que apresentar trabalhos sobre a cidade. 

Em Barra de São João, os estudantes passaram em final de semana lá para pesquisar dados da região e produziram um vídeo sobre a divisão da cidade pela rodovia (RJ) entre o rio e praia, além da questão da água e do artista. No livro, está encartado o CD com o filme, produzido por sete alunos de graduação, o que aumenta o mérito do trabalho porque não há muitos recursos para trabalhos de graduação. A Pós-graduação, ao contrário, recebe muitos incentivos.

Olhar Virtual: Como surgiu a idéia do vídeo?

Nátaly: Nós queríamos fazer algo diferente sobre a cidade. Então, montamos o vídeo com o material que recolhemos em uma das visitas. Resolvemos colocar uma voz de fundo recitando os poemas de Casimiro. Parece que ele estava ali naquele momento.

Olhar Virtual: Quais foram as principais descobertas sobre Barra de São João?

Maria Clara: Esse trabalho é educativo. O que temos percebido que a população não reconhece seus bens, então, é importante levar para eles um pouco do conhecimento que se tem sobre esses locais.

Jerônimo: Em função disso, acaba não havendo o interesse de preservação do que se tem. Então, esses patrimônios vão se degradando. Em Iguaba Grande, por exemplo, o que restou de bem foi a igreja da cidade. O poder público tem muito conhecimento desse patrimônio. A intenção é mostrar não só a população, mas aos governantes essas potencialidades e a necessidade de preservação.

Olhar Virtual: É possível perceber alguma mudança de comportamento da população e do poder público depois desse trabalho?

Maria Clara: Houve um questionamento muito grande dessas partes, principalmente, em Barra de São João, que está dividida e tem reflexos no estilo arquitetônico de cada parte. Isso tem reocupado algumas pessoas da cidade.

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