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Edição 288      16 de março de 2010


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Um novo cenário econômico no Brasil

João Pedro Maciel

Ilustração: Caio Monteiro

O eixo comercial no Brasil mudou. Como resultado da crise financeira que abalou o sistema econômico mundial, a partir de setembro de 2008, houve um crescimento significativo dos investimentos no mercado voltado para a população interna, enquanto os setores ligados à exportação encontraram certas dificuldades. Quem afirma é David Kupfer, coordenador- geral do Projeto Perspectivas de Investimento no Brasil (PIB), vinculado ao Instituto de Economia (IE) da UFRJ, em parceria com a Universidade de Campinas (Unicamp). O objetivo é analisar as tendências econômicas dos diversos setores da atividade produtiva.

Segundo Kupfer, “o comércio interno brasileiro passou a ser o movimento dinâmico da nossa economia, o que permitiu que o país passasse pela crise sem grandes estragos”. Já o mercado externo, que durante os últimos anos ocuparam esse posto, foi abruptamente abalado pelo enfraquecimento da economia internacional, que perdeu seu poder de compra. “Isso afetou de forma diferenciada os setores industriais e trouxe perspectivas que internalizaram o padrão de desenvolvimento da economia”, avalia.

A situação para os commodities brasileiros só não foi pior por causa da política comercial da China. “Embora a comercialização externa tenha caído, os preços se preservaram porque os chineses importam muita matéria- prima”, explica o docente. Porém, como agora o setor líder em exportações da economia brasileira passou a atender aos consumidores nacionais, Kupfer ressalva a importância de desenvolver produtos que atendam à necessidade interna. “É preciso que sejam criadas políticas que acompanhem o padrão de consumo brasileiro”, defende.

Entre os produtos que merecem maiores investimentos para consolidar essa fase da economia, na opinião do especialista, estão os bens de consumo duráveis e não duráveis. “O Brasil não se notabiliza pela produção no setor alimentício, têxtil, de vestuário e de calçados”, afirma. “Ainda precisamos aumentar o volume de produção nessas áreas e ter maior quantidade de diversificação”, observa o economista.

Projeto teve que ser mudado por causa da crise

Apesar do susto da fase inicial, com a ameaça de uma onda de desemprego provocada pela crise, o mercado de trabalho não sofreu a contração que se esperava. “De fato, não aconteceu porque os setores driblaram essa situação, alguns até apresentaram progresso”, analisa Kupfer, citando a construção civil e seus programas de habitação popular como exemplo de melhora. “Os trabalhadores formais, aqueles com carteira assinada, apesar do temor, também resistiram e não passaram por retração salarial”, reitera o docente, sobre o setor empregatício mais ameaçado.

Mas não foi só o eixo econômico ou o mercado de trabalho que foram alterados pelo efeito da crise. O próprio Projeto PIB precisou ser reconstruído. “Nosso projeto, que sempre teve um caráter acadêmico, foi desenvolvido antes do grande tombo que a economia levou em 2008”, conta o coordenador, lembrando que, na época, não havia como prever se esse processo seria lento ou não. “Tivemos que levantar novamente informações e refazer toda a pesquisa de campo para alcançar nossa meta, que é atualizar o diagnóstico da indústria brasileira e verificar o funcionamento das políticas do governo na definição de formas de apoio à economia”, finaliza Kupfer.

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