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Edição 317      25 de outubro de 2010


Olho no Olho

O limite do esporte

 

Ana Carolina Correia

 

Durante o quinto round de um combate, no início de outubro, o pugilista Jefferson Gonçalo caiu ao chão. Porém, dessa vez, não foi um golpe de seu adversário que o levou ao solo, mas, sim, o forte mal ter sido seguido por desmaio. O boxeador foi levado ao hospital e, poucos dias depois, teve a morte cerebral anunciada. 

Jefferson não foi o primeiro atleta a ter seu limite extrapolado e, infelizmente, não será o último. Casos como esse, trazem à voga a discussão de quão longe um atleta pode ir em nome do esporte.

Para discutir a questão o Olhar Virtual conversou com o professor da Escola de Educação Física e Desportos (EEFD-UFRJ) e idealizador do projeto “A Arte de Boxear”, Orestes Manoel, e com o praticante do esporte e aluno da Escola de Comunicação (ECO-UFRJ), João Pedro Alves.

João Pedro Alves

Estudante da Escola de Comunicação e praticante de boxe

Eu pratico o esporte há quatro anos. Comecei aos 17 por vontade de emagrecer, foi um período muito conturbado na minha vida, um período de adaptação. O boxe me ajudou bastante, não só no emagrecimento como também na saúde e no gosto pela prática esportiva. Eu nunca tive a intenção de ser um boxeador profissional, mas tive algumas lutas em campeonatos amadores.

 Muitos dizem que o boxe é um esporte muito violento, mas essas pessoas não conhecem o treinamento que os praticantes recebem.  É claro que já tive algumas lesões, como em qualquer esporte, mas nenhuma muito séria. A maioria foram lesões musculares, na coxa e panturrilha, conheço pessoas que tiveram afundamento de ossos do rosto. Mas também conheço jogadores de futebol que tiveram ferimentos muito mais graves, como fraturas expostas. Todo esporte exige atenção e cuidado, como tudo que envolve o estado físico da pessoa. Até a natação pode levar a lesões.

O caso do Jefferson Gonçalo foi muito triste. Não sei dizer se ele não respeitou seus limites ou se ele realmente não percebeu a que ponto estava chegando. Mas o que as pessoas esquecem é que não é só o boxeador que deve conhecer seu limite, são todos os outros praticantes, sejam os atletas ou os iniciantes em qualquer modalidade física. O corpo é realmente muito sensível.

Orestes Manoel
Professor da Escola de Educação Física e Desportos e idealizador do projeto A Arte de Boxear

O boxe não é um esporte muito violento porque, na verdade, as duas pessoas que estão ali disputando estão no mesmo nível de igualdade de treinamento. Elas estão igualmente preparadas, dentro de um mesmo peso, de uma mesma categoria. E, sendo o boxe praticado dentro do regulamento normal e não fugindo das normas, não tem perigo. O boxeador profissional só coloca o título em jogo uma vez ao ano, então, uma vez por ano, ele tem que treinar durante seis meses, e com esse tempo de treinamento o atleta está bastante preparado.

Mas o que acontece nesses casos de acidentes é que, na maioria das vezes, os pugilistas fogem às regras da Confederação. Até por necessidade financeira, eles fazem lutas por dinheiro, muitas vezes por culpa de todo um grupo por trás, como cartolas e empresários que estimulam a fuga às regras. Aqui no Brasil existe isso e se ganha muito pouco, como ocorre também em nível mundial.

No caso do Jefferson Gonçalo eu acredito que ele não deva ter seguido o regulamento da Confederação Brasileira de Boxe, até porque, quando um lutador sofre um nocaute, fica dois meses sem poder treinar, então isso é uma proteção para ele. Se sofrer o segundo nocaute, fica seis meses afastado, se sofrer um terceiro, ele fica um ano. E para retomar sua atividade profissional precisará passar por uma junta médica e eu acredito que isso não tenha acontecido no caso do Jefferson.

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