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Edição 317      25 de outubro de 2010


Entrelinhas

O Amante da Literatura

 

 

Márcia Guerra

 Em seu novo livro, Alberto Pucheu, professor de Teoria Literária da UFRJ, reúne ensaios inéditos e apaixonados sobre literatura e crítica. “Esses textos são escritos de um amante da literatura, da crítica, da teoria literária e da filosofia, sendo, assim, uma tentativa de desdobrar esse amor”, declara o docente em entrevista ao Olhar Virtual. A obra é marcada pelo diálogo com outros amantes da literatura, pensadores e críticos, como Mário de Andrade, Roberto Corrêa dos Santos, Campos de Carvalho, Robert Musil, Giorgio Agamben, Giles Deleuze, Charles Baudelaire e Nietzsche.

Olhar Virtual: Como surgiu a ideia do livro?

Poderia dizer que esse livro nasceu sob a força de dois vetores. Um deles foi o livro anterior que escrevi, publicado no começo do ano, intitulado Giorgio Agamben: poesia, filosofia, crítica (Rio de Janeiro: Azougue Editorial/Faperj, 2010). Tal livro resultou da bolsa Jovem Cientista do  Estado, da Faperj. Livro de forte pesquisa, mas, como sempre no que escrevo, com uma tentativa de uma escrita de fato ensaística também, de uma escrita que, enquanto ensaio, busca o mesmo rigor com a criação que tenho com os poemas, os mesmos abismos. Enquanto escrevia os ensaios para o livro, acabei incorporando páginas que lidavam com outros autores, como Campos de Carvalho, Musil, Baudelaire e Deleuze. Relendo tais ensaios, comecei a achar que as páginas que trabalhavam alguns livros ou algumas questões de tais autores dispersavam a diagonal principal de força, que era o pensamento de Giorgio Agamben. Como tais páginas formavam breves ensaios, retirando-os do livro que então fazia, vi que abriam a possibilidade de um novo livro, formado por ensaios bem mais breves do que o da pesquisa de onde eles se originaram. Esses ensaios traziam em si uma dose forte de lirismo misturado ao crítico ou ao teórico. Desde então, O amante da literatura foi se fazendo ao acaso.

Olhar Virtual: Em que foram inspirados os outros textos que compõem a obra?

O texto homônimo ao do título do livro surgiu quando, lendo coisas diversas, fui observando que vários escritores declaram que escrever implica sacrifício. Perguntei-me: se esses são os sacrifícios que os poetas e ficcionistas fazem, qual é o sacrifício dos teóricos e críticos? Outro texto nasceu do forte impacto que me causou um livro de Roberto Corrêa dos Santos, quando o recebi de presente do próprio autor. Roberto se caracteriza por levar a crítica a escrever verdadeiros livros de artista, entendendo o poema contemporâneo como o ensaio teórico experimental. Outro, a partir de um texto de um crítico perverso de quem tinha lido um texto que, detonando o mundo contemporâneo, sugeria que os escritores atuais parassem de escrever. Este texto foi impulsionado também por uma resenha que ele havia escrito sobre o meu “Pelo colorido, para além do cinzento; a literatura e seus entornos interventivos” (Rio de Janeiro: Azougue Editorial/Faperj, 2007), na qual, com arrogância, mostrava incompreensão absoluta do que estava ali escrito e pensado. O seguinte é o inverso do anterior: no lugar de uma crítica à crítica, um elogio a posturas como a de Baudelaire e Deleuze que realizam uma crítica poética ou filosófica criadoras, estimulando a crítica enquanto criação. Outro nasceu quando um amigo, Francisco Bosco, mandou-me uma mensagem eletrônica bem longa dialogando com minha leitura do poema a partir de Giorgio Agamben e eu o respondi por e-mail também, preservando no livro a estrutura da conversa ocorrida enquanto mensagens eletrônicas. O último texto do livro era, antes da publicação, um ensaio mais convencional sobre Nietzsche, do qual fui retirando explicações, demonstrações e tudo mais, deixando parágrafos enxutos que, ao lidarem com a famosa fotografia em que Lou Salomé chicoteia Nietzsche e Paul Rée como se fossem cavalos atrelados a uma pequena carroça, parecem mais um roteiro de cinema.

Olhar Virtual: Como aconteceu a publicação?

Esses textos foram escritos, mas não os via ainda como um livro pronto. Até que Raquel Menezes, editora da Oficina Raquel junto com Ricardo Pinto, perguntou-me um dia se eu gostaria de publicar um livro de poemas com eles, pedindo-me, então, que lhes enviasse os poemas. Retruquei dizendo que não tinha um livro de poemas, mas um de breves ensaios, mas que, como o que eu oferecia era diferente do solicitado, ficassem inteiramente à vontade em recusar. Eis que ela leu e gostou. O resultado é o belíssimo livro que eles fizeram, que dá imenso prazer ao olhar e ao toque, mesmo antes de lê-lo.

Formato: 21,5 x 14,5
Páginas: 110
Preço médio: R$ 30,00
Editora: Oficina Raquel

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