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Democracia restabelecida

Luciana Campos

Mais de 20 anos depois de ter sido eleito um dos primeiros diretores da Faculdade de Letras após um período de restrições democráticas na universidade, Ronaldo Lima Lins, professor de Literatura Comparada, volta à direção da Faculdade em uma eleição que teve uma única chapa concorrendo, a Reconstrução, liderada por ele próprio, e o voto com o mesmo peso para as três categorias, estudantes, professores e técnicos – administrativos. A chapa foi eleita com 57 votos dos docentes, 53 votos dos funcionários e 428 votos dos estudantes.

 Na última terça – feira, 7, O professor Ronaldo e o seu vice, o professor de  Teoria Literária,  Luiz Edmundo Bouças Coutinho, foram aplaudidos de pé pelo público que lotava o auditório G2, na Faculdade de Letras, durante a cerimônia de posse da nova direção. Estiveram presentes ao evento o reitor da UFRJ, professor Aloísio Teixeira, a Pró-reitora de Extensão, Laura Tavares, o Pró-reitor de Graduação, José Luis Meyer, os professores eméritos da UFRJ, Eduardo Portela, Edivaldo Cafezeiro e Marlene de Castro Correia, além de outras autoridades da universidade.

Transmissão do cargo

A ex-diretora da Faculdade de Letras, professora Maria Cecília Mollica, disse que neste quase um ano e meio em que esteve à frente da faculdade cumpriu a missão que lhe foi delegada, a de estabelecer na unidade o estado de direito democrático, importante para a realização do processo eleitoral.

As eleições na  Faculdade de Letras, que ocorreram nos dias seis e oito de dezembro de 2005, tiveram uma intensa participação dos estudantes. “Estou orgulhoso de estar aqui falando em nomes dos alunos na posse do professor Ronaldo, que representa a vitória da democracia nesta faculdade, disse Bruno Rabelo, representante do Centro Acadêmico 6 de outubro da Faculdade de Letras.

Apoios

A chapa Reconstrução, além de ter recebido o apoio do Centro Acadêmico da faculdade, também contou com a ajuda do Diretório Central dos Estudantes, DCE. Badalui, estudante que representou a entidade no evento, disse que o DCE tem orgulho do apoio dado a Ronaldo. “O DCE andará lado a lado com essa nova gestão, na luta pelo resgate dos princípios da universidade pública”, afirmou o jovem.

“Essa solenidade representa o fortalecimento do serviço público”, disse a representante do Sindicato dos Trabalhadores em Educação da UFRJ (SINTUFERJ), Ana Maria Ribeiro, que lembrou a importância da democracia e da participação de todos  da universidade para transformar a situação de desigualdade social do Brasil.

Com um discurso bastante crítico, mas muito bem humorado, o representante da Adufrj ( Seção Sindical dos Docentes da UFRJ), Ricardo Kubrusly, professor do Instituto de Matemática, usou em sua fala diversos trechos de poesias. Uma delas, A verdade, de Carlos Drummond de Andrade, do livro Corpo, o docente chegou a mencionar a página do livro onde ela supostamente estava escrita, provocando risos nos convidados. Ele lembrou que as festas, como a que estava ocorrendo, representam ilusões de que todos os problemas foram ou estão solucionados. E é justamente o contrário, disse ele, esse é somente o ponto de partida para se resolver questões pendentes.

Romancista

Em seu discurso, Ronaldo fez menção a um romancista francês, Lucarte, para falar do momento que estava vivendo. Segundo o novo diretor, a cerimônia  de posse  é importante, pois assinala mudanças, novos tempos na unidade de ensino. Ele ressaltou as características do alunado da Faculdade que, em sua maioria, é de baixa renda. “Fiquei sabendo de um fato que me chocou. Recentemente, estive conversando com o Helinho, prefeito da cidade universitária, e ele me disse que o maior número de desmaio entre os estudantes está em nossa faculdade. E isso acontece porque muitos de nossos alunos não têm o que comer” lembrou Lins.

Ao encerrar a solenidade, o reitor, Aloísio Teixeira, relembrou os momentos difíceis que a universidade viveu com a crise iniciada em 1998.  Segundo ele, a Faculdade de Letras foi a  mais atingida por esta crise.  Em sua fala, o professor Aloísio enfatizou a diversidade como o maior patrimônio da universidade, que deve ser preservado por ser a UFRJ uma casa de idéias, concluiu.