De Olho na Mídia

História Acervo mostra comunidade, que já foi formada por palafitas

 

Favela da Maré terá museu

A favela da Maré ganhou um museu para contar sua história. A instituição fica numa antiga fábrica de peças de navio, na entrada da comunidade. A maior parte do acervo foi doada pelos próprios moradores. São fotos, santos, documentos, objetos do cotidiano.

Há fotos antigas do local, desde as feitas no século 19 e início do século passado por Marc Ferrez e Augusto Malta, na época em que só viviam lá pescadores, ao início da favelização, nos anos 40. A inauguração oficial do museu será nesta segunda-feira, às 10 horas, com presença do ministro da Cultura, Gilberto Gil.

“A semente desse museu é a Rede Memória, que começou com os moradores contando suas histórias em vídeo VHS. Essas fitas ficarão à disposição do público e serão acrescidas de novos depoimentos”, conta o historiador Luiz Antônio Oliveira, coordenador do museu. “Mas tudo começou com o Centro de Estudos e Ações Sociais da Maré (Ceasm), que tinha foco na educação. Aos poucos, concluímos que era importante resgatar o passado. Antes de criar o museu, juntamos os depoimentos e os documentos e fizemos exposições itinerantes com excelente repercussão”.

Segundo Oliveira, não é possível precisar o marco inicial, pois os primeiros moradores, operários da construção da Avenida Brasil e do campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), já encontraram gente morando lá. O desenho da exposição é do cenógrafo Marcelo Pinto Vieira, cujos avós vieram para o local nesta época. Ele construiu uma palafita no centro do galpão e, em volta, fotos e objetos do cotidiano dos moradores vão contando a história.

“Há canoas, imagens de São Pedro e utensílios domésticos”, adianta Marcelo. “Dividimos a narrativa em períodos, que vão de quando aqui era um arquipélago só com pescadores, até o futuro, quando desejamos que todas as crianças tenham escola e a violência não seja a principal notícia que sai da Maré”. A favela tem, segundo o Censo 2000, 132 mil habitantes, divididos em sub-regiões, como o Morro do Timbau, Vila do João, Baixa do Sapateiro etc. Até os anos 80 era uma palafita, mas o governo federal aterrou o local e substituiu as casas de madeira por outras de tijolo. “Os moradores se uniram e evitaram remoções. Chegaram a enfrentar o então ministro Mário Andreazza para permanecerem aqui”, conta Oliveira.

“Hoje nossa principal preocupação é com a educação. Temos 16 escolas (uma de Ensino Médio), mas o principal problema é a evasão escolar. Nossa outra meta é romper a barreira da universidade pública. Nosso cursos pré-vestibulares têm cerca de 240 alunos e o índice de aprovação no vestibular é de 25%. O Museu é um complemento de todo esse esforço.”

 

Veículo:Jornal do Commercio – Rio de Janeiro Data: 06/05/2006 Repórter: Beatriz Coelho Sila, da Agência Estado