De Olho na Mídia

Desarmando caixas-pretas

Nathália Perdomo

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A partir desta edição, a editoria “De olho na mídia” passa da habitual transcrição de notícias publicadas pela mídia externa, em que estavam presentes especialistas da UFRJ, para uma apreciação crítica da cobertura jornalística sobre temas que envolvam manifestações do corpo social da universidade.

A tragédia do Airbus A-320 da TAM, que matou cerca de 200 pessoas e deixou muitas feridas, repercutiu internacionalmente, e a imprensa divulgou inúmeras notícias. Fotos da explosão e das centenas de cadáveres ganharam lugar nos jornais durante toda a semana.

Sabe-se da importância da mídia na formação da opinião pública. No entanto, a falta de ética de alguns veículos tripudia sobre as vítimas e seus familiares. E, enquanto buscam-se responsáveis pela crise da aviação brasileira, o jogo de acusações permanece, preterindo soluções para o problema.

Para fazer uma análise da cobertura jornalística do acidente com o avião da TAM, o Olhar Virtual conversou com Respício Espírito Santo Júnior, professor especialista em Transporte Aéreo da Escola Politécnica da UFRJ.

Respício foi entrevistado, ao vivo, pela GloboNews, TV Futura, Rádio BandNews, Rádio CBN, Rádio Nacional/Radiobrás e Rádio Gaúcha, sem contar a participação em programas gravados na TVE, Jornal da Globo, Jornal das 10 da GloboNews, Espaço Aberto Alexandre Garcia (GloboNews) e Bom Dia Brasil (TV Globo). Concedeu entrevistas para os jornais Estado de São Paulo, Folha de São Paulo, O Globo, Extra, Zero Hora (RS), Correio Braziliense, The Financial Times. Entre as agências internacionais foi entrevistado pela France Press, Reuters, EFE e AP e The Economist.

O que o senhor está achando da cobertura jornalística do acidente da TAM? As reportagens têm sido adequadas?

A imprensa, de um modo geral, tenta passar para o público leitor, ouvinte ou espectador o que está acontecendo em uma linguagem o menos técnica possível. Quando a linguagem técnica é inevitável, como muito acontece na aviação, tenho visto grandes esforços da imprensa em buscar explicar de forma didática e simples o assunto tratado. É claro que existem alguns erros notáveis na redação de várias matérias, mas isso é plenamente compreensível e não acredito que seja, de modo algum, intencional ou leviano. O mais importante é buscar a popularização do assunto “aviação” ou do transporte aéreo propriamente dito. O Brasil ainda tem muito a crescer em termos de tráfego aéreo, passageiros transportados, cargas transportadas, tamanho de aeroportos, quantidade de aeronaves comerciais e privadas. Pelas dimensões continentais e pela população do país, nossos números são muito acanhados. Desta forma, quanto mais se popularizar o assunto, menos temor a sociedade vai ter de usar o transporte aéreo como meio de locomoção e poderá cobrar, de forma construtiva e positiva, as autoridades do setor.

Os aspectos relevantes, em suas entrevistas, foram contemplados ou houve alguma omissão?

Dois dias após o acidente da TAM, em Congonhas, fui entrevistado durante quase meia hora para uma reportagem que trataria de "aeroportos centrais". Como em nenhum momento disse que operar em Congonhas ou no Santos Dumont era "perigoso" ou "inseguro" em função única do comprimento das pistas dos dois aeroportos em questão, nada do que gravei foi ao ar. Interessante, não?! Digo isso porque em todas, repito, todas as outras entrevistas que fiz, uma parte, mesmo que pequena, foi aproveitada. O que me "impressionou" nesta gravação sobre os "aeroportos centrais" foi como o repórter insistia em querer que eu falasse dos "grandes perigos" de se operar nos dois aeroportos citados. Como ambos operam dentro das margens de segurança mundiais e não são, per se, “perigosos”, nem ao menos um segundo do que gravei foi aproveitado.

De que maneira a repercussão das notícias, das entrevistas, afeta a universidade?

Na minha visão, é um absurdo ter um único professor em toda a universidade que seja 100% dedicado ao transporte aéreo, como é o meu caso. A UFRJ é a maior universidade pública do país e, por compromisso à sociedade, deveria ter outros docentes que fossem, desde o seu ingresso por concurso público, inteiramente dedicados a esse estudo.