Ponto de Vista

O aquecimento da Terra na vida dos homens

Stéphanie Garcia Pires, da AgN Praia Vermelha

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A Casa da Ciência da UFRJ realizou o projeto Ciência às Seis e Meia para discutir questões e avanços científicos atuais. Foram convidados especialistas de várias instituições para ministrarem quatro palestras entre agosto e novembro. Para abrir o evento, no dia 1° de Agosto, foi escolhido o tema “Conseqüências econômicas, políticas e sociais das transformações do meio ambiente no século XXI”, desenvolvido por Sérgio Besserman Vianna, economista e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Procurado pela equipe do Olhar Virtual, o especialista explicou um pouco mais os assuntos abordados ao longo de sua palestra.

Olhar Virtual: Por que somente agora a questão do aquecimento global vem ganhando mais ênfase na mídia e nas discussões em geral?

Sérgio Vianna: Surge algo novo que movimenta a opinião pública mundial e gera reações diversas na sociedade. Falar do aumento da temperatura média do planeta Terra não comove muitas pessoas. Mas, agora, o que os relatórios científicos estão divulgando são realidades mais próximas da realidade de cada um. Fala-se da savanização da Floresta Amazônica, da elevação do nível do mar, da desertificação de extensas áreas continentais. Cada uma dessas afirmações afeta bastante o modo de vida a que a sociedade vem se acostumando e, por isso, chamou a atenção das pessoas por soluções.

Olhar Virtual: Qual o grande empecilho para que as ações humanas deixem de ser tão agressivas ao meio ambiente, causando essa elevação na temperatura do planeta?

Sérgio Vianna: Um dos grandes problemas é que milhões de pessoas simplesmente querem aquecer a Terra e têm todo o direito a isso. O padrão de produção e de consumo que foi implantado pelo sistema capitalista coincidiu com uma época em que o crescimento populacional foi acelerando. E podemos observar que o Capitalismo intensificou bastante o impacto ambiental, causado por cada induvíduo na sociedade. Atualmente, há uma média de liberação de 1,2 toneladas de gás carbônico por pessoa, o que é compatível com o perfil de consumismo no qual estamos inseridos. Para evitar que o aquecimento global seja muito extremo, seria necessário reduzir a liberação desse gás para 0,4 tonelada por pessoa.

Olhar Virtual: Qual o cenário mais provável previsto pelos cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima (IPCC)?

Sérgio Vianna: A situação mais provável, considerando uma mudança imediata para ações de desenvolvimento sustentável e mais ecologicamente corretas, é que o planeta sofrerá um aumento médio de 3°C em 100 anos. O que já garante conseqüências graves, porém passíveis de soluções, prejudicando principalmente as populações mais pobres. Isso envolveria a expansão das áreas desertificadas, a aceleração da perda das florestas, a diminuição da produtividade, impactos na saúde humana, o agravamento da crise na biodiversidade e da crise dos recursos hídricos, e a ocorrência de eventos climáticos extremos. A elevação média do nível do mar, prevista para ser de 20 a 60 cm — ou ainda, se considerado o derretimento dos mantos de gelo na Groenlândia e na Antártica, de 20 cm a 1,4 m — será um fator importante, haja vista que grande parte da população vive em áreas costeiras e precisariam se locomover para outras regiões.

Olhar Virtual: O que o senhor aponta como uma mudança imprescindível para evitar um aquecimento global extremo?

Sérgio Vianna: O homem precisa enxergar que ele é dependente da natureza e não o contrário. O planeta já passou por desastres muito piores do que a humanidade é capaz de produzir, portanto, a Terra pode e irá facilmente se readaptar, mesmo que sofra grandes extinções na fauna e na flora. Ela vai se reerguer como já aconteceu inúmeras vezes ao longo dos milhões de anos de sua existência, o homem não. Devemos nos preocupar porque precisamos da natureza como ela é hoje. Por isso, é necessário, indispensável e vai acontecer — voluntariamente ou não — uma mudança radical e efetiva na Política, na Economia, nos hábitos da população e no próprio pensamento. É imprescindível, por exemplo, mudar a matriz energética e reduzir outros constituintes de caráter ecológico-destrutivos do Capitalismo. Isso vai ser difícil, porque os países querem manter seu nível de desenvolvimento e a velocidade disso seria diminuída na adoção de alternativas ecologicamente sustentáveis. Também é importante uma união entre ambientalistas e humanistas. O mundo atual exige uma atuação em conjunto desses dois grupos. Uma compreensão, de uma vez por todas, de que defender a natureza é um ótimo caminho para defender a vida da sociedade humana.