Zoom

Transformando lixo em madeira... plástica

Fernanda de Carvalho Agência UFRJ de Notícias – Centro de Tecnologia

imagem zoom

Os trabalhos e pesquisas do Instituto de Macromoléculas Professora Eloisa Mano, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IMA/UFRJ), visam sempre à manutenção do meio ambiente e ao desenvolvimento sustentável, temas fortes na mídia da atualidade. Neste contexto, uma de suas pesquisas trabalha com o que, a princípio, parece impossível: transformar lixo, neste caso o plástico, em madeira.

Parece mágica? Calma, é pura ciência. O instituto, pioneiro nos estudos sobre reciclagem de plásticos no Brasil, desenvolveu o IMAWOOD, uma madeira plástica feita a partir de resíduos plásticos reciclados, capaz de substituir a madeira natural em algumas aplicações e de dar nova utilidade ao que antes era lixo, como sacolas de mercado e embalagens PET.

O material possui aparência de madeira natural e pode ser usado na fabricação de cadeiras, mesas, armários e outros móveis, além de aplicado com sucesso na construção civil, em pisos, treliças, telhas, janelas, rodapés ou grades, por exemplo. Dentre as vantagens do plástico-madeira, há destaques para a possibilidade de ser moldado, de receber pregos ou de ser injetado em um molde pronto.

“A madeira plástica, como o próprio nome diz, é moldável pelo calor, por isso podemos fazer qualquer coisa com o material. Depois de amolecido, ele pode ganhar qualquer forma desejada, seja parte de uma mesa ou uma cadeira inteira”, declara a professora Elen Pacheco, do IMA/UFRJ. Desde a década de 90, ela está envolvida no projeto da madeira plástica junto à professora Eloisa Mano, fundadora do Instituto, profissional inovadora ao trazer estudos sobre polímeros para o Brasil.

Vale ressaltar a presença do IMAWOOD entre os materiais a serem utilizados no projeto de expansão do prédio do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da UFRJ. Será aplicado, especificamente, na construção de um dispositivo arquitetônico semelhante a uma grade, chamado brise soleil, para diminuir a incidência dos raios solares no ambiente e favorecer a circulação de ar pelo edifício.

Consciência sócio-ambiental

Trabalhar com a madeira plástica une o útil ao agradável: possibilita a retirada de resíduos plásticos do meio ambiente e evita mais derrubada de árvores, promovida pela exploração madeireira.

“A matéria-prima do IMAWOOD é o pior material, do qual ninguém quer saber. É aquele que fica no fundo do mar e prejudica o plâncton, uma micro-vida no fundo dos oceanos, base da cadeia alimentar. Quando o plástico fica sobre o plâncton, o sufoca, pois não permite entrar o oxigênio, não há renovação”, informa a professora emérita Eloisa Mano, do IMA/UFRJ.

Algumas empresas já produzem e comercializam a madeira plástica, a mostrar potencial de negócio lucrativo. No entanto, quem ganha mesmo com a reciclagem é o verde. “Quanto ao meio ambiente, é interessante, pois você evita cortar árvores e aproveita o resíduo poluidor”, aponta Elen.

Mais do que isso, ela lembra a reciclagem também gerar uma quantidade muito grande de empregos diretos e indiretos: “Basta pensarmos, para atender a uma recicladora, você tem que trabalhar desde a coleta, passando pela lavagem, moagem do material, até a parte de pesquisa, de desenvolvimento de produto e de processo para obtê-lo. Trabalhar dentro de uma recicladora envolve uma empresa, por isso a geração de empregos é grande”.

Além da madeira plástica, o IMA também desenvolve um processo de produção o menos poluente possível. Em tal processo, o ideal seria não gastar energia, não poluir e não gerar resíduos. No entanto, para Elen, isso é uma utopia.

É preciso, segundo ela, gerar menor quantidade de resíduos, utilizar uma matéria-prima menos nociva ao meio ambiente, sempre trabalhando no sentido de minimizar os impactos da produção, seja qual for, na forma mais responsável possível.

Elen opina sobre a importância de pensar em aplicações diversificadas e mais úteis para materiais recicláveis como o plástico: “Não adianta apenas reciclar o material, é preciso pensar em um mercado diferenciado, pensar no que fazer com aquele material reaproveitado. Não dá para ficar fazendo somente vasinho de planta de todo material reciclado”.

Como é feito o IMAWOOD?

A professora Elen, junto à mestranda do IMA, Fernanda Abbate, explica que os variados tipos de plástico reaproveitados passam por uma série de processos e de formulações específicas para cada aplicação do IMAWOOD. Nestas formulações, além do plástico, são adicionadas cargas ou aditivos – como a madeira natural ou a fibra de coco – para combinar suas qualidades com as da madeira plástica, a fim de refinar a propriedade desejada.

“Dependendo do uso final do produto, ele vai precisar de um processo diferente e de uma formulação diferente. Se eu quero fazer uma moldura de quadro, ela não precisa ser tão resistente quanto uma cadeira, por exemplo, não precisará suportar uma pessoa”, afirma Elen.

Depois de adquirido, o lixo plástico (a base para o IMAWOOD) é caracterizado por tipo ou por mistura de material. Em seguida, passa por um processo onde é moído, lavado e secado.

Depois o material passa por uma máquina que o amolece, permitindo que seja moldado na forma de uma ripa ou de uma tábua mais grossa, entre outras. Por fim, a madeira plástica é resfriada e obtém-se a forma desejada. Também são feitos testes de resistência e avaliação do envelhecimento do produto, atendendo às normas específicas de cada peça criada.