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Novo laboratório na EBA pesquisa arte ambiental

Miriam Paço – AGN/CT

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A Escola de Belas Artes (EBA/UFRJ) organiza um novo laboratório de pesquisa baseado no uso do corte gráfico, destinado aos alunos da Graduação. Coordenado por Enéas Valle, professor de Artes Plásticas, o Laboratório Pablo Picasso de estudos Transdisciplinares em Escultura, Produção e Direção de Arte (LabPP-Esc) surgiu em 2005, a partir de um projeto de reformulação do antigo laboratório Pablo Picasso de Desenho Integrativo Multidisciplinar (LPPDIM), criado em 1995, com objetivo de pesquisar sobre desenho contemporâneo.

O nome Pablo Picasso faz parte de uma homenagem feita ao pintor cubista responsável por revolucionar o modo de representação da arte ao levar o uso de instrumentos de corte e colagem no processo artístico para o plano tridimensional.

Ao incorporar novos métodos de fazer artístico, com utilização da faca e do estilete como instrumentos, os artistas passaram a trabalhar com máquinas, papel impresso e outras tecnologias. “Essa mudança permitiu uma nova maneira de pensar a forma, a geometria, e criou a base da escultura moderna, não mais estatuária, ou seja, representativa de imitações de pessoas, animais e objetos, mas focada na pesquisa da forma, na construção mais ou menos abstrata”, explicou Enéas Valle.

O novo laboratório, localizado no segundo andar do prédio da Reitoria, tornou-se viável a partir do apoio oferecido por Ancora da Luz, diretora da EBA e pelo auxilio financeiro da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) em 2007.

Tema da pesquisa realizada por Enéas Valle, a arte ambiental é o foco principal do laboratório, criado para, entre outras coisas, fornecer suporte tecnológico às pesquisas desenvolvidas pelos professores da Escola.

Arte ambiental

Criado pelo professor da EBA, o conceito envolve a aplicação de resíduos na criação de obras de arte, ou seja, a pesquisa estuda meios de fazer arte com restos de madeira, metal, máquinas velhas, entre outras coisas. Além disso, o processo analisa a possibilidade de melhorar as condições ambientais a partir de processos artísticos.
Iniciada por volta de 1995, a pesquisa surgiu durante o doutorado do professor Enéas Valle no Núcleo de Tecnologia da Imagem da Escola de Comunicação da UFRJ (ECO). Preocupado em adequar seu trabalho às salas de aula, desenvolveu o corte gráfico. A questão ambiental começou a surgir a partir da necessidade em se definir um destino para os painéis criados com corte e colagem.

Na Antiguidade, as obras de arte configuravam o ambiente, podendo ser chamadas de arte ambiental (construção de templos, palácios e outros monumentos). Atualmente, esse conceito se tornou mais amplo. A questão ambiental se tornou urgente e, por isso, juntar arte e ecologia se tornou essencial. “Para mim, ecologia e meio ambiente não envolvem apenas questões macro como poluição do ar e aquecimento global, mas também as questões micro, aquelas que fazem parte do nosso cotidiano. Uma reciclagem para ser eficaz depende do governo e de cada um individualmente”, disse o professor.

A reutilização é uma prática comum desde o surgimento da colagem, que consiste no reaproveitamento de restos de material, como papel e tecido para produzir obras de arte. Estendido para o plano tridimensional, é possível reaproveitar resíduos industriais. “A vida contemporânea não é constituída de departamentos estanques, separados. As coisas estão interligadas e há muitas possibilidades de reutilização concreta de resíduos nas artes plásticas, principalmente no campo da escultura”, explicou Enéas Valle.

Na época em que a escultura era estatuária, o elemento central da representação era o personagem, o que demandava um conhecimento prévio de determinadas técnicas para realização da obra. No mundo contemporâneo, isso é desviado para o plano da matéria.

É a partir dela que o artista pesquisa formas e técnicas a serem usadas.

Novas disciplinas

Em conjunto com a criação do laboratório, a Escola de Belas Artes oferece duas novas disciplinas abertas a quase todos os cursos da EBA: “Escultura e reciclagem” e “Interfaces das Artes Plásticas com o Design”, ambas interdepartamentais, ou seja, não estão ligadas a nenhum departamento específico, pois estão dentro de um conceito que é o da transdisciplinaridade.

– A importância disso está na utilização da tecnologia.  A arte tradicional valorizava a produção isolada como finalidade do artista. Com a interdisciplinaridade, é possível pensar arte contemporânea, ou seja, o artista hoje, aquele que cria eventos. O primeiro se tornou artesanal e perdeu seu espaço. Para produzir uma obra de arte, é preciso interagir com outros profissionais, que entendam dessas tecnologias – explicou Valle.

A mudança na forma de pensar a arte se deu em grande parte devido ao crescimento das cidades e da população.  A tecnologia possibilitou ainda o uso de novos suportes, e com isso houve uma mudança na denominação dos artistas, pois não se caracterizam mais como pintores ou escultores, mas como artistas plásticos.

A disciplina “Escultura e reciclagem” pretende pesquisar a possibilidade de fazer arte a partir dos resíduos, enquanto “Interfaces das Artes Plásticas com o Design” analisa a plasticidade do ambiente e como é possível melhorar as condições ambientais a partir de processos artísticos. Ambas estão relacionadas com a pesquisa sobre arte ambiental, foco principal do novo laboratório.

Projetos de extensão

Um dos objetivos do LabPP-Esc, é a criação de um portal de arte e sustentabilidade ambiental, um site com informações sobre arte contemporânea focado nas questões ambientais.

Além deste, prevê-se a criação de um cine-clube do Fundão. O projeto consiste em organizar eventos a serem exibidos no auditório Moniz de Aragão, mais conhecido como salão Azul.

Criado com a finalidade de ser um cine-teatro, o auditório passou a ser usado para solenidades. Com o novo laboratório e a criação da disciplina ”Interfaces das Artes Plásticas com o Design”, os estudantes utilizam o desenho, a plástica, o texto e o vídeo para criar eventos que melhorem a questão ambiental.

As exibições, que tiveram inicio no dia 9 de maio, ocorrem sempre às sextas-feiras, no salão Azul, e permitem aos estudantes da EBA interagir com o público e ter contato com a prática de realização de eventos, na base do novo conceito sobre arte. A atividade, aberta para todos os estudantes, se torna uma opção de lazer cultural.