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Bibliotecários do futuro

Camilla Muniz

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Na década de 1950, Lydia Sambaqui, bibliotecária vanguardista muito atuante na área, idealizou a criação de uma nova Biblioteca Central na UFRJ. No prédio de oito andares que abrigaria a construção, a biblioteca ocuparia os sete primeiros e o último seria destinado às instalações do curso de Biblioteconomia. Na época, Lydia acreditava que a sinergia entre o curso e a Biblioteca Central seria benéfica para as duas partes. Entretanto, as dificuldades de se criar um novo curso impediram que a idéia fosse adiante.

Cinqüenta anos depois, Mariza Russo, então diretora do Sistema de Bibliotecas e Informação (Sibi/UFRJ), pensou em resgatar o projeto. Para finalmente inaugurar o curso de Biblioteconomia na universidade, foi criada uma comissão de trabalho composta por doze bibliotecários do Sibi, que se empenharam com o propósito de tornar realidade o antigo sonho de Lydia. A proposta de criação do curso — elaborada entre 2001 e 2003 — foi aprovada pelo Conselho de Ensino de Graduação (CEG) em 2005 e entrou no rol dos cursos de Graduação oferecidos pela universidade no Vestibular 2006.

Hoje, Mariza é coordenadora do curso de Biblioteconomia e Gestão de Unidades de Informação, que está vinculado à Faculdade de Administração e Ciências Contábeis (FACC/UFRJ). A professora relembra que o projeto de criação previa a implementação de uma graduação que visasse tanto à área de biblioteconomia como à área de administração e gestão, fato que explica o nome do curso. “O profissional que lida com unidades de informação precisa estar capacitado para gerenciá-las independentemente do tipo de suporte, seja ele material ou virtual. Esse é o novo conceito de unidades de informação. Desta forma, o profissional que se forma em biblioteconomia tem que saber gerenciar não só os recursos informacionais, mas também os recursos humanos, financeiros, técnicos, tecnológicos e materiais. Antes, o bibliotecário não tinha essa formação. Ele saía da universidade apto a trabalhar com recursos informacionais, mas não conseguia realizar as outras atividades com competência”, explica.

Por esse motivo, a UFRJ resolveu criar um curso com caráter inovador, representado exatamente pelo vínculo com a gestão. Segundo Mariza, esse é grande diferencial da UFRJ em relação às outras universidades. “Queríamos lançar no mercado um profissional com o perfil do gestor. No Brasil, existem mais 38 cursos de Biblioteconomia, mas nenhum deles possui esse enfoque gerencial”, destaca.

A interdisciplinaridade é importante para o curso de Biblioteconomia e Gestão de Unidades de Informação, que estabeleceu parcerias com oito unidades da UFRJ. “Além de disciplinas oferecidas pela própria FACC, a grade curricular congrega disciplinas do Instituto de Economia, do Instituto de Matemática, do Instituto de Psicologia, da Escola de Comunicação e do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, com o objetivo de formar profissionais modernos que possuam o perfil exigido pelo mercado de informação”, ressalta a coordenadora.

Com três turmas em andamento — uma no primeiro e outras duas no terceiro e quarto períodos —, o curso é oferecido à tarde e, por enquanto, com ingresso de novos alunos apenas no primeiro semestre. De acordo com Mariza, a maioria dos estudantes, por serem jovens (faixa etária de 20 anos), chegam muito receptivos ao que o curso e a profissão têm a oferecer. Muitos, inclusive, começam a fazer estágio desde o primeiro período. Segundo a professora, isso pode ser explicado pela expansão do mercado de trabalho para esse tipo de profissional.

— O mercado de trabalho, que tradicionalmente se restringia às bibliotecas (até os anos 90), foi se expandindo para uma área que ainda hoje é pouco ocupada. Nosso propósito é focalizar nesta fatia do mercado, mostrando para os empregadores a importância do trabalho do profissional de Biblioteconomia nas editoras, nos jornais, nas emissoras de TV, nos portais e nos veículos de comunicação em geral. Em qualquer lugar onde exista informação tem lugar para o bibliotecário, porque a matéria-prima de nosso trabalho é justamente a informação. O paradigma de “guardião dos livros” já foi superado para dar lugar ao profissional que possibilita o acesso à informação — analisa.

Os esforços da coordenação para aprimorar o curso são reconhecidos pelos estudantes. Anne Oliveira, aluna do primeiro período, não conhecia muito bem a profissão. Para ela, o Conhecendo a UFRJ foi determinante para a escolha da carreira. Sem criar expectativas, Anne se surpreendeu com o curso. “A grade é muito bem preparada, e o mais interessante é o enfoque dado à gestão e à nossa futura atuação no mercado de trabalho”, acrescenta.

Apesar de novo, o curso já apresenta resultados bastante palpáveis. Para Mariza, é de extrema importância para o amadurecimento do curso a participação no Pibex (Programa Institucional de Bolsas de Extensão) — através do qual é realizado um trabalho de mediação de leitura e inclusão social com os enfermos — e no Pibic (Programa Institucional de Iniciação Científica). Entretanto, a coordenadora observa que ainda há muito a ser feito. “Precisamos de infra-estrutura de pessoal para montar uma secretaria acadêmica própria e para completar o quadro docente, mas podemos contar com o apoio da Reitoria, que está bastante sensibilizada com nossas necessidades”, diz. “Tudo para gente é muito novo. Cada período que começa é uma vida nova, porque nunca vivemos aquela experiência. Só futuro pode nos dizer do que precisaremos. É difícil prever o que está faltando, mas certamente ainda há muito pela frente”, avalia Mariza, que pretende abrir linhas de pesquisa para engajar os alunos e lançar cursos de extensão para complementação dos profissionais já formados — prioritariamente os funcionários da UFRJ — que não tiveram a formação na área de gestão.

Alunos querem trazer o ENEBD à UFRJ

O engajamento dos alunos é um dos pontos fortes do curso. Depois de participarem do Encontro Nacional de Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação (ENEBD) realizado em São Carlos (SP) em julho de 2007, os estudantes manifestaram a intenção de trazer o evento para a UFRJ. Este ano, o encontro acontecerá em Alagoas, mas a proposta da UFRJ para o ENEBD 2009 já está elaborada. Segundo Cláudio Reis, estudante do 4º período que está à frente da comissão organizadora, estão sendo feitas parcerias com outras universidades para que o fórum seja realizado em conjunto, mas a UFRJ manterá o projeto mesmo se as parcerias não forem adiante. “Nossa proposta está em fase de reestruturação para ficar ainda melhor, mas acredito que o Rio de Janeiro tem grandes chances de conseguir o ENEBD. Já conquistamos o apoio da coordenação do curso, da FACC e da Reitoria. Queremos mostrar que o curso existe e, para isso, a realização deste evento tem extrema importância”, conclui. Fica a torcida para que a proposta seja aprovada.