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Serviço Social cria site sobre diversidade sexual e religião

Aline Durães

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A religião é, há séculos, um dos principais pólos de preconceito contra a diversidade sexual. Por entender qualquer orientação sexual que fuja aos padrões heteronormativos como pecado, a Igreja contribuiu para disseminar discriminação aos homossexuais. Ainda assim, as instituições religiosas podem ser espaços importantes de criação de laços comunitários entre esses grupos. Ambíguo?

Não para os pesquisadores do Núcleo de Pesquisa Diversidade Sexual e Religião da Escola de Serviço Social (ESS) da UFRJ. Em julho deste ano, o núcleo lançou um site de estudos sobre esses dois temas. Hospedado no endereço www.ess.ufrj.br/diversidadesexual, o projeto tinha como objetivo principal possibilitar imediato acesso aos propósitos éticos e às responsabilidades metodológicas da pesquisa Homofobia e violência: um estudo sobre os discursos e as ações das tradições religiosas brasileiras em relação aos LGBT, coordenada pela professora Maria das Dores Campos.

As expectativas iniciais da equipe de Maria das Dores foram, no entanto, superadas. Isso porque o site já se vislumbra como uma ferramenta de interlocução da universidade com diversos setores da sociedade contra a homofobia e a violência à população LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais).

– Ao dar maior visibilidade às discussões em andamento em projetos de tese, artigos, seminários e cursos de Extensão, o site projeta para fora do campus universitário as reflexões que fazemos, ampliando o debate para novos interlocutores. Acredito que isso contribui com os nossos objetivos e com a missão institucional de uma unidade acadêmica – destaca Murilo da Mota, sociólogo integrante da equipe responsável pela homepage.

Murilo acrescenta que o projeto serve como um instrumento de denúncia de práticas homofóbicas, na medida em que é um canal de reflexão e discussão sobre a laicidade do Estado e da sociedade brasileiros. “Os homossexuais estão sempre sendo referenciados a partir de uma norma heterossexual, que desvaloriza e inferioriza a homossexualidade. Isso é fonte de sofrimento e angústia para muitos. Apesar disso, existem segmentos dentro dos grupos religiosos que se mostram sensíveis às demandas dos movimentos sociais, desenvolvem trabalhos com o público LGBT e compreendem a necessidade de se aprofundar o debate em torno da violência simbólica e física contra os que não se definem heterossexuais”, ressalta.

Com uma interface dinâmica e de fácil navegabilidade, o site é voltado a todos os interessados em discutir a diversidade sexual. Ele contém listas de artigos, teses, livros e filmes que facilitam o trabalho dos pesquisadores dessa temática. A homepage possui também um conjunto de notícias, leis e políticas relacionadas a ela. Em “Links úteis”, o internauta poderá ter acesso, ainda, a organizações nacionais e estrangeiras que lutam em prol dos direitos do público LGBT.

Em construção

Embora a estrutura do site já esteja completa, pequenos ajustes no conteúdo ainda precisam ser efetuados. Segundo Murilo da Mota, a idéia é que, aos artigos já existentes, sejam somados os resultados da pesquisa em desenvolvimento. “Sempre acreditamos que, para termos um bom site, era preciso disponibilizar um conteúdo satisfatório, ser atraente e possibilitar interação com o usuário. A idéia é que ele seja, cada vez mais, dinâmico e que acompanhe os debates e as transformações sociais e culturais nas áreas temáticas da religião e da diversidade sexual”, explica.

Fruto do engajamento de estudantes de Graduação, pesquisadores e professores da ESS, o site tem recebido uma série de críticas positivas de segmentos da comunidade LGBT e de grupos religiosos progressistas. Para Murilo, a iniciativa é um estímulo importante para a universidade se debruçar sobre o debate da diversidade sexual: “na UFRJ, assim como na maioria das instituições, alguns resistem em perceber a diferença como um direito; resistem em olhar para o ‘outro’ como um cidadão; julgam os outros pelo comportamento, habitus de linguagem e visão de mundo, sem se darem conta de que todos somos iguais perante a lei e diferentes perante as identidades sexuais. Neste sentido, deve-se estimular o debate contra a homofobia ou qualquer outro preconceito em todos os campos do saber”, finaliza.