No Foco

Meio século estudando o universo

Júlia Faria

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Há 50 anos, em fevereiro de 1958, era fundado o curso de Astronomia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Idealizado pelos astrônomos Alércio Moreira Gomes e Mário Ferreira Dias, o curso foi criado na então Faculdade Nacional de Filosofia (FNFi) da antiga Universidade do Brasil. Pioneira, a Graduação da UFRJ serviu recentemente de inspiração para a criação de um curso similar na Universidade de São Paulo (USP). “Em 2009, a USP iniciará um curso nos moldes do nosso, oferecendo 15 vagas — o que muito nos orgulha”, afirma Silvia Lorenz, professora e diretora do Observatório do Valongo.

Desde sua fundação até os dias de hoje, o curso passou por significativas mudanças. Atualmente, a Graduação tem suas aulas ministradas no Observatório do Valongo, unidade independente do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza (CCMN), e na Cidade Universitária. Além disso, a grade curricular também passou por alterações. Segundo Lorenz, neste ano, um novo modelo disciplinar foi implementado. “A reestruturação do currículo de Astronomia foi pensada de forma a torná-lo mais flexível e atrativo, permitindo aos alunos uma formação diferenciada, mas mantendo uma base sólida em Astronomia, Física e Matemática”, afirma a professora.

Com a nova estruturação, o curso passa a ser dividido em cinco áreas definidas por módulos seqüenciais: Astrofísica, Astronomia Matemática, Astronomia Instrumental, Difusão da Astronomia e Astronomia Computacional. “Tais áreas foram selecionadas de forma a atender ao mercado da Astronomia”, diz a diretora.

Silvia Lorenz acrescenta ainda que a recente mudança na grade disciplinar propiciará incrementos ao número de estudantes interessados em ingressar na Graduação em Astronomia, que hoje tem cerca de 100 alunos nos diversos períodos. “Este novo currículo diminuirá a evasão e o tempo de formação, pois o aluno será encaminhado para a escolha mais apropriada à sua habilidade. Devido a seu formato flexível, a obtenção de diplomas duplos, com a Física e a Matemática aplicada, por exemplo, são extremamente facilitados. Estamos convencidos que a formação de estudantes com os perfis propostos aumentará a chance de ingresso no mercado de trabalho, pois formaremos alunos mais qualificados e preparados”, completa a professora.

A inserção no mercado de trabalho é, aliás, uma das preocupações manifestadas na nova proposta curricular. De acordo com Lorenz, apenas 1/3 dos estudantes graduados em Astronomia seguem a área de divulgação científica, trabalhando em museus e planetários, enquanto 2/3 enveredam-se pela carreira acadêmica, cuja etapa inicial é a Graduação. “Serão necessários pelo menos mais seis anos para ingressar, como professor, em uma universidade pública ou privada, ou como pesquisador, em um instituto de pesquisa. São dois anos de mestrado e mais quatro de doutorado. Porém isso também tem se mostrado insuficiente nos últimos tempos. Eu, por exemplo, sou ex-aluna do curso de Graduação e, quando prestei concurso para a UFRJ, além do mestrado e doutorado, já havia feito três anos de pós-doutorado”, afirma a diretora.

Além disso, com a atual participação brasileira em projetos de construção de grandes telescópios, como o Gemini e o SOAR, aumentou a demanda por profissionais aptos a desenvolverem equipamentos usados em Astronomia e com habilidade para criar programas de aquisição e tratamento de dados astronômicos. “Nesse sentido, nossa nova proposta curricular encontra-se com estas áreas, ainda carentes no Brasil”, completa Lorenz.

O Observatório do Valongo

Na ladeira Pedro Antônio, no alto do Morro da Conceição, no centro da cidade do Rio de Janeiro. A unidade abriga, além da Graduação, a Pós-graduação em Astronomia e, por ser de pequenas dimensões, facilita o convívio e a interação entre professores e estudantes.

De acordo com Silvia Lorenz, o espaço tem aumentado nos últimos anos. Em 2007, foi concluída a reforma de uma sala de computação para alunos do mestrado. Além disso, a biblioteca Sílio Vaz passou por grande reforma, propiciando um espaço para estudos e acervo de obras raras. “Estamos reformando a cúpula de um antigo instrumento para que seja usado como um museu, expondo nossos outros instrumentos e ampliando a área de visitação nos projetos de extensão desenvolvidos pelo Observatório. No entanto, nossa infra-estrutura ainda precisa melhorar muito se desejamos crescer”, completa a professora.

Para além do Observatório

Silvia Lorenz explica que o curso de Astronomia mantém, há mais de 10 anos, o compromisso de promover a divulgação científica. Para isso, são realizadas diversas atividades de extensão, tanto no próprio campus do Valongo como em escolas de ensino fundamental e médio, públicas e particulares.

O Observatório, que já organizou por duas vezes a série “Astronomia para Poetas”, realizada na Casa de Ciência da UFRJ, participa também de eventos como “Conhecendo a UFRJ”, “UFRJ Mar” e “Semana da Ciência e Tecnologia”. Além destes projetos, a unidade recebe mensalmente visitantes para a observação do céu noturno, seções de planetário inflável e palestras — atividades que, nos últimos dois anos, reuniram cerca de 20 mil pessoas.

Lorenz afirma que, para o sucesso de todas estas atividades, tem sido fundamental a participação do corpo discente. “São tantas as participações da unidade em atividades deste tipo que há um crescente interesse e envolvimento de nossos alunos no trabalho de extensão, o que enriquece ainda mais sua formação”, completa a professora.

Para comemorar os 50 anos da Graduação, foram promovidas diversos eventos ao longo deste ano, como a Semana da Astronomia e o lançamento do livro “50 anos de Graduação em Astronomia”, da série Memorabilia, em que é contada a trajetória do curso e do Observatório do Valongo. Encerrando o ano comemorativo, em dezembro, mês em que se comemora o dia do Astrônomo, serão realizadas atividades no colégio Pedro II. “Completar 50 anos em um curso que foi muito questionado, à época de sua criação, é uma vitória para nós, professores e ex-alunos”, conclui a diretora.

 

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