Ponto de Vista

A Geologia na sociedade

Miriam Paço – AgN/CT

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A Geologia, conhecida como uma das Ciências da Terra, foi essencial para a determinação da idade do planeta, tendo como principal pressuposto a teoria tectônica das placas, que busca explicar, entre outros aspectos, a formação dos continentes e a ocorrência de fenômenos como vulcões e terremotos. No entanto, sua presença vai além do que as pessoas costumam perceber, estando presente, direta ou indiretamente, em diversos aspectos do cotidiano, seja na indústria metalúrgica, que utiliza os metais como insumos, ou na energia utilizada nos automóveis e nas casas, bem como na construção das mesmas pelo uso de areia e cimento. Tais situações envolvem o uso de materiais geológicos que justificam a aplicabilidade do curso de Geologia que, na semana passada, completou 50 anos na UFRJ.

A catástrofe vivida recentemente por Santa Catarina é mais um exemplo de como a Geologia poderia ser aplicada. O relevo local, a distribuição e as propriedades dos materiais geológicos são relevantes para a determinação do ordenamento territorial e podem ser suficientes para minimizar algumas das conseqüências vividas pela população local. Emílio Velloso Barroso, chefe do departamento de Geologia da UFRJ, em entrevista ao Olhar Virtual, explica a importância do curso de Geologia e a inserção de seus profissionais no mercado de trabalho.

Olhar Virtual: Qual a importância do curso de Geologia?

A Geologia se ocupa da compreensão da distribuição das rochas e solos na Terra e quais as características físicas e químicas dos processos e dos ambientes que resultaram em tal distribuição. Dessa forma, há uma ampla possibilidade de aplicação das informações geológicas para a prospecção de bens minerais metálicos e não metálicos, incluindo o petróleo, o gás e a água. Além disso, as informações geológicas também são úteis para planejamento da expansão urbana e projetos de Engenharia, tais como estradas, túneis e barragens, contribuindo para empreendimentos mais seguros e ambientalmente sustentáveis.

Olhar Virtual: Como o senhor avalia o mercado de trabalho da profissão?

Atualmente está muito bom, com oportunidades de inserção nas várias áreas de atuação da Geologia. Este aspecto reflete o crescimento contínuo que temos verificado na procura pelo curso de Geologia da UFRJ. Em 2008, foram 408 inscritos e agora, em 2009, foram 700. Nesse último Vestibular, a relação candidato-vaga na UFRJ alcançou 23,3. Isto nos leva a cogitar a abertura de um número maior de vagas para os próximos concursos, mas, para isso, precisamos capacitar os laboratórios didáticos para receber um número maior de alunos e devemos adquirir mais microscópios para as aulas práticas de Mineralogia Ótica e das Petrologias.

Olhar Virtual: Em que áreas um geólogo pode atuar?

Os geólogos atuam em vários setores da Economia: nas indústrias extrativas de óleo e gás, na mineração e na construção civil. A área de meio ambiente também têm atraído geólogos para solucionar problemas de contaminação dos solos e da água subterrânea. Além disso, há muita necessidade de conhecermos melhor a Geologia do território brasileiro, o que vai demandar um grande contingente de profissionais.

Olhar Virtual: Está sendo feita uma reestruturação curricular? Para quando?

Não. Em realidade, trata-se de uma avaliação das mudanças que foram implantadas em 2004. Precisamos fazer esse trabalho para verificar o que foi positivo e aquilo que ainda precisa ser melhorado.

Olhar Virtual: Como o senhor avalia as mudanças vividas pelo curso de geologia durante esses 50 anos? O que mudou, para pior e para melhor?

De uma forma geral, o curso evoluiu positivamente para tentar acompanhar o desenvolvimento científico e tecnológico, os quais têm sido rapidamente assimilados pelas empresas. O programa de Pós-graduação, criado em 1968, foi o principal responsável pela incorporação dos laboratórios didáticos da infra-estrutura que se montou para a pesquisa. Ou seja, os projetos de pesquisa financiaram a adequação dos laboratórios da Graduação. Atualmente, a maioria dos docentes trabalha em regime de 40 horas e com dedicação exclusiva, além de um bom número deles ser de pesquisadores do CNPq. Com professores bem qualificados, crescem as chances das disciplinas de Graduação serem de boa qualidade. Por outro lado, hoje em dia não temos transporte próprio para as atividades de campo, que exigem veículos específicos para esse fim.

Olhar Virtual: Quais são as principais dificuldades enfrentadas?

Os custos. Para nós, professores da UFRJ, a principal dificuldade é manter este curso com a qualidade aceitável, já que é realmente um curso caro. Temos que admitir que os custos com a aquisição do material didático ainda são elevados para os alunos.

Olhar Virtual: Baseado no que é atualmente ensinado na UFRJ, o que deveria mudar?

Penso que devemos cada vez mais dar sólida base aos estudantes, incluindo as disciplinas do ciclo básico. A especialização precoce não é recomendável, pois castra a criatividade e a formação de pessoas com ampla visão profissional.

Olhar Virtual: Qual é a área mais promissora da Geologia?

Se estivermos falando de mercado de trabalho, é claro que a área de petróleo e gás deve ser colocada em primeiro lugar. Principalmente depois dessa discussão sobre as reservas do pré-sal. No entanto, o preço do barril já caiu bastante nos últimos meses e não sabemos ainda como o mercado e os preços vão se comportar no futuro. Os investimentos em infra-estrutura e bens minerais também ajudam a impulsionar a profissão. No passado recente, as empresas de mineração e projetistas da construção civil também já estiveram em primeiro lugar na procura dos estudantes. Esses mercados, que também estavam crescendo muito, estão em compasso de espera para avaliar melhor a crise que vivemos. Penso que o mais importante é ser um bom geólogo e estar sempre preparado para as oportunidades que aparecem nesse bom momento da profissão.

Olhar Virtual: Como pode ser analisado o serviço geológico brasileiro?

Os serviços geológicos de todos os países avançados do mundo tiveram e têm ainda um importante papel no desenvolvimento econômico e social. Aqui no Brasil, infelizmente, ainda estamos muito atrasados no que diz respeito ao conhecimento geológico de nosso território. Há uma necessidade premente de mapearmos o país em escalas de maior detalhe. Essa gigantesca e relevante tarefa cabe ao Serviço Geológico do Brasil.

Olhar Virtual: Para o senhor, o que é ser geólogo?

Ser geólogo é ser curioso. É gostar de observar, comparar e relacionar. É ser fascinado pela natureza e pelas ciências que disponibilizam ferramentas teóricas e experimentais para explicá-la.