Entrelinhas

Livro de estruturas é lançado após anos de ausência

Miriam Paço - AgN/ CT

capa do livro

Estruturas Isostáticas, da editora Oficina de Textos, é a obra lançada recentemente, dia 14 de abril, pela professora Maria Cascão Ferreira de Almeida, do Departamento de Engenharia Civil da Escola Politécnica (Poli/UFRJ). Trata-se de um livro didático, com exercícios resolvidos e desenhos ilustrativos, voltado a alunos dos cursos de arquitetura e engenharia.

A principal motivação de Maria Cascão foram as décadas de ausência de livros nacionais sobre estruturas, que, segundo a professora, deixaram de ser editados na década de 70. Estruturas Isostáticas foi inspirado em professores da Escola Politécnica e nos anos de experiência da autora com a prática e o ensino da engenharia.

Na engenharia civil, há dois tipos de estruturas: as isostáticas e as hiperestáticas. A primeira, vista pela autora como mais simples, é abordada pelo livro, que traz na capa uma imagem do Museu de Arte Contemporânea (MAC), em Niterói, exemplo de arquitetura e engenharia estrutural.

Maria Cascão participou de vários projetos, entre eles o projeto Metrô, Angra I e II e o projeto estrutural da escultura “A La Lumière des deux mondes”, do artista Tunga. A obra foi exposta no Museu do Louvre, Paris, em 2005, durante quatro meses. Além de possuir um valor especial para a professora, tratava-se também de uma estrutura isostática.

Para falar mais sobre o livro e a importância dele no mundo acadêmico, o Olhar Virtual conversou com a professora Maria Cascão. Confira a entrevista.

Olhar Virtual: A senhora afirmou, durante o lançamento do livro, que a obra foi inspirada nos mestres da Escola Politécnica. Quais foram?

Me referi aos professores aos quais devo minha formação e o despertar pelo interesse para a prática e o ensino de engenharia. Entre eles, eu poderia citar Dirceu Velloso, que fez a apresentação do meu livro e infelizmente já faleceu, Ernani Diaz, Fernando Emmanuel Barata, José Luís Cardoso e Fernando Lobo Carneiro.

Olhar Virtual: O livro aborda conceitos de estruturas e noções básicas da estática, passando por aplicações e determinações das linhas de estado de vigas, grelhas, além de outras influências. Por que a senhora escolheu esse tema?

Estes são os primeiros passos que se dá dentro da ampla abrangência da análise estrutural, e havia uma demanda muito grande por bons livros nacionais porque os que a gente poderia citar como livros-textos deixaram de ser editados e com isso ficou uma lacuna que essa obra pretende preencher. É um material didático para ensino da análise estrutural.

Olhar Virtual: De onde veio seu interesse pela área?

O interesse pela engenharia civil veio muito cedo, talvez por uma influência do meu pai. Depois, quando eu entrei para a Escola Politécnica (antiga Escola de Engenharia), esses grandes mestres que eu citei estimulavam os alunos e mostravam a beleza de uma e outra área com as quais cada um se identificava. Eu acho que o professor, mais do que um educador, deve ser um grande estimulador, pois é no estímulo que reside a sua maior herança.

Olhar Virtual: O que foi preciso pra produzir esse livro?

O livro começou a criar corpo a partir das notas de aula da disciplina “Elementos de Mecânica das Estruturas”, aqui da UFRJ. Eu tive ajuda de muitos alunos, tanto de monitores da disciplina como das próprias turmas, porque eu sempre tive a preocupação de buscar um retorno deles. O problema é conseguir transmitir da forma mais simples. A gente só aprende aquilo que compreende e o aprendizado não é feito apenas assistindo às aulas, mas fazendo exercícios. Por isso, o livro tem várias questões resolvidas para o aluno poder praticar. A partir das notas, o próximo passo foi criar uma apostila. Posteriormente, para transformar em livro, tive que fazer algumas alterações no texto e entrar em contato com a editora.

Olhar Virtual: Como é a estrutura do livro?

Ele tem uma diagramação bem interessante, que o torna visualmente atrativo para os alunos, com muitos desenhos que permitem a ilustração do que está sendo ensinado. Como eu gosto de dar exemplos simples, no começo eu defino como estruturas o nosso corpo e a árvore, por exemplo. Depois, eu passo para uma definição mais complexa, voltada para a engenharia. Os exercícios estão ao longo dos capítulos, que se apresentam em uma sequência de conceitos que eu considero importantes.

Olhar Virtual: Como a senhora avalia o ensino das estruturas no Brasil?

A engenharia brasileira é reconhecida internacionalmente. O brasileiro é um povo sério e criativo, que só não se destaca mais por uma eventual falta de investimento maciço em educação. Nesse nível, eu acho que o Brasil precisaria investir muito mais, não apenas na engenharia, mas na educação como um todo.

Olhar Virtual: E o mercado?

A engenharia estrutural é uma especialidade dentro da engenharia civil. Ser engenheiro é uma das profissões em que você pode exercer não apenas seu lado tecnológico, mas também seu lado criativo, e a engenharia estrutural demanda muita criatividade. Ao longo dos anos, ela se ampliou e hoje o engenheiro estrutural pode projetar edificações, prédios, pontes, viadutos e estruturas de exploração de petróleo em qualquer tipo de material. O engenheiro estrutural que se especializa em modelagem numérica, por exemplo, é bastante procurado pelo mercado.

Olhar Virtual: Por que esse livro não foi lançado antes se desde a década de 70 eles pararam de ser editados?

A ideia do livro surgiu em 2002, mas, por falta de tempo e de infraestrutura de apoio a esse tipo de publicação, ele só pôde ser publicado agora. Isso deveria ser mais viabilizado.

Olhar Virtual: Há algum projeto para os próximos anos?

O próximo passo é o volume de estruturas hiperestáticas, que já está sendo feito, mas ainda sem previsões para o lançamento.