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Projeto da UFRJ recupera ambiente em rios da Baixada Fluminense

Daniel Barros - AgN/CT

Divulgação do Inea
(Instituto Estadual do Ambiente)
Em Mesquita, as obras do projeto Iguaçu criaram o Parque São Francisco de Assis (Rio Sarapuí).

Com o lançamento pelo Governo Federal da segunda etapa do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), em março de 2009, o governo do Estado do Rio de Janeiro deverá receber R$ 635 milhões para dar continuidade às obras do Projeto Iguaçu”, revela o engenheiro Irinaldo Cabral, coordenador da execução do projeto pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea). O Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe/UFRJ) é o responsável pelos estudos e planos que dão forma ao Projeto Iguaçu.

Entre as principais obras previstas para esses recursos estão a construção do Bairro Modelo, em Belford Roxo (reurbanização de bairros que margeiam o rio Botas), a construção de um dique na margem esquerda deste rio e a dragagem dos rios Iguaçu e Sarapuí sob a Avenida Presidente Kennedy, em Duque de Caxias.

Os investimentos nos bairros Lote XV (Belford Roxo) e Pilar (Duque de Caxias) são prioridades para essas verbas da segunda fase do Projeto Iguaçu, mas os R$ 50 milhões emergenciais, anunciados pelo ministro da integração nacional, Geddel Vieira, no dia 7 de Janeiro, já serão usados para a construção de casas nessa região. Duque de Caxias e a parte de Belford Roxo, que faz divisa com a cidade, ainda não receberam obras do projeto Iguaçu e por isso sofreram imensamente com as chuvas do início deste ano.

O professor Paulo Canedo, que coordena a elaboração desse projeto, explica que “desentupir a calha dos rios” não é o seu único foco. “Todo rio que a gente faz um plano para a intervenção tem as seguintes pretensões subjacentes: trazer desenvolvimento local, melhoria ambiental, lazer e saúde”, esclarece o também diretor do Laboratório de Hidrologia da Coppe/UFRJ.

Canedo usou a construção de um dique-estrada no Rio Sarapuí, ligando as rodovias Presidente Dutra e Washington Luiz, como exemplo de obra que não só evita enchentes, como desenvolve a região. Esta obra está incluída nos R$ 635 milhões a serem recebidos pelo PAC II.

Rios livres de inundações em 2012

A previsão é que as obras dessa segunda fase durem em torno de 18 meses. Isso indica que, possivelmente, no início de 2012 o Projeto Iguaçu estará finalizado, livrando de enchentes a população ribeirinha dos rios Botas, Iguaçu e Sarapuí. Mas Irinaldo Cabral alerta para o caso dos afluentes que ainda precisarão de reassentamento, mesmo após o fim do projeto. “O projeto tem um custo de R$ 1 bilhão, mas se formos contabilizar também esses afluentes que estão muito ocupados, esse dinheiro terá que ser maior”, esclarece o engenheiro.

Segundo Cabral, o Projeto Iguaçu já recebeu do PAC um total de R$ 270 milhões, dos quais R$ 75 milhões foram para a CEHAB, que está construindo quatro conjuntos habitacionais: Em São João de Meriti (960 unidades), Belford Roxo (252 unidades), Mesquita (144 unidades) e Nova Iguaçu (554 unidades). Apenas as obras desse último, chamado Cobrex, não foram iniciadas.

Os outros R$ 195 milhões são responsáveis pela drenagem urbana, recuperação de rios, implantação de parques, desassoreamento etc. Cerca de 70% desses recursos já foram utilizados e resultaram na dragagem de 1,7 milhão de metros cúbicos – o equivalente a 680 piscinas olímpicas – e o desassoreamento de parte do Rio Sarapuí. Além disso, foi construído o parque fluvial São Francisco de Assis, às margens do Rio Sarapuí, no bairro BNH, em Mesquita. “O que nos incentiva é que onde a gente já trabalhou a situação já melhorou bastante. Os próprios prefeitos falam isso”, afirma o engenheiro.

Quanto à integração entre os prefeitos e o governador, Paulo Canedo elogia. “Hoje há uma comunhão, uma conjugação de interesses. Todo mundo entendeu que a situação é importante.” Ele lembra que nem sempre foi assim. Quando a Coppe/UFRJ lançou o plano Iguaçu em 1996, uma das dificuldades para implantá-lo era não conseguir que todas as esferas de poder – federal, estadual e municipal – olhassem o problema com a mesma seriedade.

Projeto Iguaçu

O professor Paulo Canedo explica que, na década de 1990, a Coppe/UFRJ fez um mapeamento do que deveria ser investido para resolver os problemas das enchentes na região da Baixada Fluminense e de bairros fronteiriços da cidade do Rio de Janeiro, como Bangu e Pavuna. Esse estudo recebeu investimento internacional e chamou a atenção das prefeituras que o absorveram em parte.

O projeto visava tirar a Baixada Fluminense de um ciclo de empobrecimento crônico. “Quando terminava um ano, cada família gastava mais com as enchentes do que poupava durante o ano. Ela estava empobrecendo”, afirma. Esse ciclo foi quebrado e a Baixada Fluminense começou a prosperar. No final de 2007, o governo do Estado resolveu atualizar esse projeto, que já tinha mais de dez anos de concluído.

Recuperar a Baixada Fluminense ambientalmente, trazendo as famílias para um patamar melhor de segurança, saúde, lazer e oportunidades, foi a proposta da Coppe/UFRJ para esse “Projeto Iguaçu II”, como o chama Paulo Canedo. “A gente não foge de regiões densamente povoadas”, destaca.

O projeto reassenta famílias que estão instaladas em áreas de inundação natural do rio, deixando que ele siga seu curso livremente. O rio passa a ter bordas bem definidas, arborizadas e com gramado. Além disso, ao lado dessas margens são construídos empreendimentos de utilidade pública como ruas, ciclovias, parques longitudinais etc. Assim, há uma melhoria de infraestrutura na região e o risco de construções inadequadas, nas margens do rio, é eliminado.

O Parque São Francisco de Assis, às margens do Rio Sarapuí, em Mesquita, é um exemplo de como esse trabalho é feito. Como podemos ver, tornar a região agradável e bela também é um objetivo do Projeto Iguaçu.