De Olho na Mídia

Reality shows: atração através da vidraça

João Pedro Dutra Maciel

Ilustração: Caio Monteiro

Os espectadores do programa televisivo Big Brother Brasil (BBB) elegeram o participante Marcelo Dourado vencedor de sua décima edição numa votação recorde. Com mais de 154,8 milhões de votos, de acordo com dados apresentados pela Rede Globo, “a casa mais vigiada do país” também se tornou campeã mundial de participação do público entre os reality shows, o que comprova o envolvimento popular cada vez maior em programas do gênero.

Na opinião de Henrique Antoun, professor da Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ e especialista em cibercultura, o grande interesse do público explica-se pelo desejo em observar o que se passa na vida das pessoas. “Os reality shows trazem para o espaço do espetáculo e da representação a sensação de olhar pelo buraco da fechadura e estar vendo tudo de verdade dentro de um confinamento”, revela. O argumento de que os participantes estão dispostos a se exibir também corrobora. “As pessoas querem se mostrar, o que transmite a ideia, para quem assiste, de que aquilo não é encenado, mas, sim, feito por pessoais ‘reais’”, justifica Antoun.

Reconhecida como a edição mais polêmica já realizada no país, com a participação de um lutador machista (Dourado) e três homossexuais assumidos (Sérgio, Angélica e Dicésar ― sendo o último deles um maquiador que também trabalha como drag queen), a intenção premeditada e praticamente infalível do programa, na visão de Antoun, é gerar controvérsias e comandar os focos de discussão a partir de seus selecionados. “É a TV quem faz as regras do jogo, ela é quem escolhe figuras que necessariamente irão se chocar para criar conflitos, inimizades, ódios, pseudoromances”, opina o pesquisador.

Por esse motivo, tudo o que acontece dentro do reality show vira pauta para os veículos de comunicação. “Os eventos ocorridos na casa têm a mesma repercussão das novelas, porque, de fato, é o que chama a atenção das pessoas”, afirma o professor da ECO. Para aqueles que acreditam na correlação entre os níveis socioeconômico e cultural, uma pesquisa feita pelo Instituto de Pesquisa de Opinião (Ibope) comprova que as classes A e B representam grande parte da audiência do BBB. Enquanto as classes D e E representam 22,1% dos telespectadores, a classe C aparece com 39,2% da audiência, seguida de perto pelas A e B que, juntas, formam 38,7% do público.

Ao contrário do que se poderia imaginar, o grupo mais pobre da população é o que menos assiste ao programa, por diversos motivos, segundo Henrique Antoun. “As classes D e E trabalham mais, têm menos tempo para dedicar ao entretenimento e possuem menos recursos de interação com o programa, como computador, telefone, internet”, enumera. O pesquisador ressalta ainda, inclusive, que o êxito da participação popular através das votações não teria acontecido sem a disseminação massiva da web entre os grupos dominantes. “É a típica junção da fome com a vontade de comer: a classe elitista querendo ver a ‘gentinha’ se perverter por dinheiro”, declara.