Ponto de Vista

Os 50 anos do laser

Luciana Cortes

Ilustração: Caio Monteiro

Há 50 anos, o cientista Theodore Maiman conseguiu emitir, de forma controlada, um raio de luz utilizando cristal de rubi, ou melhor, dominou os princípios que permitiram o surgimento do laser (do acrônimo em inglês, Light Amplification by Stimulated Emission of Radiation). Hoje, o laser, ou traduzindo, o conhecimento da amplificação da luz por emissão estimulada de radiação é empregado em diversas áreas e está mais presente no cotidiano do que imaginamos: de leitores de códigos de barra dos supermercados a clínicas oftalmológicas.
Mas por trás de Maiman, muitos outros cientistas estudaram o laser. Entre 1916 e 1917, Einsten desenvolveu os fundamentos do laser a partir das leis de Max Planck e os primeiros a anunciarem os princípios da luz amplificada, Schawlow e Townes, receberam o prêmio Nobel pela descoberta antes de ela ter sido posta em prática. E a cada dia surgem diversas formas de utilização do laser, tecnologia tão importante para a ciência que o Olhar Virtual entrevistou o professor Luiz Davidovich, do Instituto de Física da UFRJ, para saber mais como o mundo mudou a partir da iniciativa de Theodore Maiman, em 17 de Maio de 1960.

Olhar Virtual: Não há como pensar a física moderna sem lembrar do Laser. Qual o grande avanço proporcionado pela descoberta?
Luiz Davidovich: O dispositivo chamado de laser foi demonstrado pela primeira vez há 50 anos, por Theodore Maiman. Naquela época, ninguém sabia a finalidade daquela nova fonte de luz, que emitia um raio com direção e cor muito bem definidas e se baseava em uma teoria elaborada por Albert Einstein em 1917. Considerava-se até que o laser era "uma solução em busca de um problema". Imediatamente após essa primeira demonstração, começaram a aparecer vários tipos de laseres, que deram origem a um grande número de aplicações e possibilitaram progressos muito importantes em ciência básica. 


Olhar Virtual: O senhor, em certo artigo, chamou o laser de luz do século XX. Por quê?

Luiz Davidovich: Se tomarmos uma lâmpada comum, passarmos a luz emitida por ela por um orifício para produzir um feixe de luz direcionado, e, além disso, por um filtro, de modo a ter uma cor melhor definida, acabamos com um feixe de baixa intensidade, já que grande parte da energia emitida foi desperdiçada.  A luz do laser, com forma direcionada e cor bem definida, no entanto, tem intensidade muito mais alta, mais estável e que flutua muito menos que a de lâmpadas comuns. Por isso mesmo, trata-se de um novo tipo de luz, que marcou o século XX, com suas aplicações em ciência básica e tecnologia.

 

Olhar Virtual: Quais são as principais aplicações do laser atualmente? Elas têm relação direta com nossas vidas cotidianas?
Luiz Davidovich: Uma aplicação conhecida por todos é na reprodução de música e imagens, na leitura de CDs e DVDs.  A alta definição de cor e a possibilidade de focalizar a luz do laser em regiões muito pequenas permitem a gravação e a leitura de um grande número de informações, muito maior que a registrada nos antigos discos de vinil. Além disso, o laser tem sido aplicado em cirurgias de precisão, em oftalmologia e odontologia, na produção de circuitos impressos, em comunicações, no corte de materiais, na construção de relógios ultraprecisos, na medida precisa de distâncias. Atualmente, mede-se a distância entre a Terra e Lua com mais precisão, pois a margem de erro é de três centímetros. Um novo observatório astronômico, em construção no Novo México, permitirá a aferição dessa distância com uma precisão de um milímetro! A concentração de energia possibilitada pelo laser tem atingido níveis impressionantes. Por exemplo, em um Laboratório em Oxford, um laser ultrapotente emite pulsos com uma intensidade equivalente ao de toda a luz solar incidente sobre a Terra focalizada na extremidade de um fio de cabelo! Esses laseres ultraintensos têm uma aplicação possível no processo de fusão nuclear, que poderia fornecer uma fonte limpa de energia, uma alternativa aos reatores baseados na fissão nuclear.

Olhar Virtual: Nem só de benefícios vivem os experimentos físicos. Quais seriam as desvantagens e os malefícios da utilização do laser?
Luiz Davidovich: A utilização de laseres ultrapotentes com objetivos militares já foi pensada no famoso projeto "Guerra nas Estrelas" dos Estados Unidos da América, felizmente abortado. As descobertas da física e da ciência em geral podem trazer benefícios ou malefícios à humanidade, dependendo do uso que se fazem delas. E esse uso não deve ser decidido de forma autoritária, mas pela sociedade como um todo. Daí a importância da educação em ciências para o bom funcionamento da democracia, para que a população em geral se capacite a participar de decisões políticas cada vez mais complexas, como as referentes à engenharia genética, às mudanças climáticas, à adoção de diferentes formas de produção de energia, decisões que certamente devem se basear na opinião de especialistas, mas não podem ficar somente restritas a eles.


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