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Do lixo à energia elétrica



Marlon Câmara

 

Uma parceria entre Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe-UFRJ) e a Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb) pode tornar muito útil o lixo da cidade do Rio de Janeiro em breve. Estudos estão sendo realizados para descobrir a viabilidade da construção de uma usina que transformaria dejetos urbanos em energia elétrica, o que resultaria na resolução de duas importantes questões: a reutilização do lixo e a suplementação do potencial energético da cidade.

“Nossa ideia agora é atualizar o estudo já realizado sobre as tecnologias de aproveitamento energético de resíduos sólidos urbanos existentes no mundo, que avalia as eficiências das rotas tecnológicas para cada tipo de lixo e as possibilidades de compatibilizá-lo com outros combustíveis, mesmo residuais, além das demandas jurídicas e financeiras e as oportunidades referentes à legislação nacional do estado e município do Rio”, explica Luciano Basto, pesquisador da Coppe-UFRJ e coordenador do projeto.

De acordo com o especialista, a proposta do estudo é identificar o potencial de aproveitamento energético do lixo carioca, que pode ser reutilizado quase em sua totalidade. “Considerando a reciclagem de papéis, plásticos, vidros e metais, mais a geração de energia elétrica, quando possível, do adubo, é possível aproveitar 95% do material que ora encaminhamos para os aterros de lixo”.

A usina seria a primeira com tal capacidade da América Latina, e seria instalada no bairro do Caju, na zona norte carioca, que recebe cerca de metade dos dejetos da cidade. Os pesquisadores da Coppe afirmam que com a conversão das 9 mil toneladas de lixo que são despejados diariamente no município, seria praticável abastecer 1,5 milhões de residências, com consumo médio de 200 KWh/mês.

A concretização do projeto possibilitaria também a realização de diversas ações beneficentes ao município do Rio, como aumentar a vida útil dos aterros, mitigar emissões de gases responsáveis pelo efeito estufa na decomposição do lixo orgânico, estimular a coleta seletiva e possibilitar o consumo de resíduos já aterrados, através do processo de mineralização.

Embora o custo para a implantação da usina seja alto, Luciano acredita que o investimento seja muito necessário, para que se possa alcançar um padrão ambiental próximo ao dos países desenvolvidos. “Nossa sugestão é que o investimento seja da iniciativa privada, após concessão da exploração realizada pela Prefeitura através de um edital público”, revela. A verba que precisaria ser disponibilizada para a construção da usina pode ser 10 vezes maior em relação à necessária para a instalação de uma hidrelétrica. Ainda assim, considerando o lucro obtido na geração de energia e as vantagens agregadas, o custo extra seria compensado.

O principal foco do projeto, além de beneficiar a sociedade e o meio ambiente, é possibilitar que outros trabalhos semelhantes sejam realizados não só no Rio de Janeiro, mas em todo o Brasil. “Nosso maior objetivo é poder viabilizar um empreendimento com baixíssimo risco, para servir de exemplo, e demonstrar que é possível adequar o que funciona no mundo para as características brasileiras”, conclui o pesquisador.