De Olho na Mídia

60 anos da TV no Brasil: avaliando o passado e planejando o futuro

 

Daniele Belmiro

Ilustração: João Rezende

No último sábado (25), a televisão brasileira completou 60 anos. Do dia em que a TV Tupi fez sua primeira transmissão – realizada com recursos do empresário Assis Chateaubriand – até hoje, a televisão não parou de crescer e de se transformar. Atualmente, 95% dos lares brasileiros possuem aparelhos de televisão, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o que reflete a importância e o lugar de destaque desse meio de comunicação em território nacional.
A televisão nasceu como herança do rádio e passou por uma fase de experimentação na década de 1950. Segundo a professora Beatriz Becker, da Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ, as possibilidades da TV eram limitadas na sua formatação, com programas ao vivo e sem edição. Apesar disso, a produção televisiva tinha um timing próprio e um reconhecimento das suas potencialidades de desenvolvimento de estética e linguagem.

A produção de telenovelas foi uma constante na televisão brasileira desde a fase inicial. Passando por inúmeras transformações na técnica e na linguagem, elas se desenvolveram e se consagraram como o gênero mais popular de entretenimento no Brasil, hoje, o país que mais produz e exporta telenovelas. Os programas de auditório e os telejornais devem também ser destacados, no que diz respeito ao entretenimento e à informação, respectivamente.

Procedente do rádio, o Repórter Esso, patrocinado e editorialmente orientado pela empresa estadunidense de petróleo, é o exemplo de um telejornal histórico. Ficou conhecido pela pontualidade e credibilidade perante os telespectadores e foi, de fato, “testemunha ocular da história” – como dizia o slogan –, com a cobertura de acontecimentos marcantes, como o suicídio do presidente Getúlio Vargas. A censura do regime militar, mais tarde, conduziria o jornal ao fim.

Beatriz Becker coloca a década de 1960 como um momento em que a televisão passa a ser utilizada como instrumento efetivamente ideológico e político, inserida em um modelo de desenvolvimento nacional. À medida que a sociedade civil se transforma, a televisão não deixa de dar visibilidade às diferentes expressões dos movimentos sociais, ainda que modelando esses acontecimentos. Segundo ela, “a história da televisão brasileira é intrínseca à própria história política e cultural do país, ocupando um lugar de mediação muito importante entre diferentes poderes e a sociedade civil”.

O futuro da televisão

O sinal de TV digital foi transmitido no Brasil pela primeira vez em 2007, na cidade de São Paulo. Hoje a cobertura do sinal digital atinge cidades de 22 dos 27 estados da federação, mais o Distrito Federal. A previsão é que, até o final de 2013, a cobertura se estenda por todo o território nacional. A TV digital transmite imagem de alta qualidade e permite a recepção móvel e portátil do sinal – no celular, por exemplo. Outra inovação vem com a chegada recente dos aparelhos digitais interativos ao mercado. A Rede Globo apresenta em seu site as possibilidades que a interatividade traz ao canal, como aplicativos para acessar tabelas e dados dos jogos de futebol e para votar na eliminação dos participantes do Big Brother. Enquanto tais inovações sugerem um futuro próspero para a televisão, seguem os mitos de que, no futuro, este meio de comunicação estaria fadado ao desaparecimento.

Na década de 1990, o discurso da revolução digital refletia previsões pessimistas em relação à televisão: o veículo seria substituído por novos meios de comunicação. Hoje, no entanto, fala-se de uma convergência tecnológica, onde as diferentes plataformas de mídia interagem entre si e desempenham diferentes funções na sociedade. Embora a TV aberta venha sofrendo redução de, audiência, com o crescimento de acessibilidade e uso da internet, ainda abarca cerca de 60% dos investimentos publicitários, o que representou um total de 13,6 bilhões de reais em 2009, segundo dados do projeto Inter-Meios.

Beatriz Becker diz que “apesar do grande crescimento da internet e da experimentação de mercados segmentados por novas mídias e novas possibilidades, ainda temos uma expressão muito relevante do lugar político e cultural da televisão”. Ela acredita que a TV deixará de existir dessa forma massiva que tem hoje para ocupar outro lugar, mas que estamos ainda numa fase muito inicial para dizer como será, no futuro, o casamento da televisão com o computador.

Sobre os 60 anos de história da TV, ela conclui: “A questão não é comemorar os seus 60 anos, mas, sim, refletir sobre o lugar que esse fenômeno cultural ocupa no passado e no futuro da nação.”