De Olho na Mídia

Jornais Populares e cultura digital – um olhar crítico

 

Marcelo Dantas

Ilustração: João Rezende

Na abertura da “XXII Jornada Giulio Massarani de Iniciação Científica, Artística e Cultural da UFRJ (04/10), Pedro de Figueiredo, estudante da Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ, apresentou o resultado de sua pesquisa “Os novos jornais populares: análise de uma tendência”. O trabalho, orientado pela professora Cristina Rego Monteiro, buscou compreender o grande aumento de jornais populares, assim como de suas tiragens, ao longo da primeira década do século XXI.

O estudo consistiu na análise dos jornais Meia Hora e Expresso, durante o período de 29 de março e 4 de abril de 2010. Observando elementos relativos à forma, conteúdo, mercado e linguagem dos periódicos. A pesquisa aponta para o entendimento do gênero popular como “uma resistência do jornalismo impresso presente nas camadas com menor acesso à internet”.

Ainda de acordo com a pesquisa, os jornais também surgem como alternativa ao fluxo massivo de informações de caráter globalizado, tornando-se espaço onde o leitor tem a possibilidade de se deparar com notícias “próximas de seu dia a dia, tanto geografica quanto culturalmente”. Figueiredo trabalhou com os conceitos de “sujeito de multi-identidantes”, do teórico jamaicano Stuart Hall, “hiper-realidade”, do filósofo francês Jean Baudrillard, “sociedade do espetáculo”, do escritor Guy Debord, e “análises dos signos”, do professor Muniz Sodré, para dar suporte ao trabalho.

Entre as conclusões do estudo, estão a retomada de certo caráter de utilidade pública do Jornalismo, representado pela larga seção presente nos periódicos, destinada à oferta de empregos; ausência de linguagem propriamente vulgar, bem como de maiores investimentos em outras mídias, apontando para a manutenção indeterminada da predominância do formato impresso.

Tanto Figueiredo como a orientadora Cristina Rego apontam dois méritos na pesquisa. O primeiro se refere à observação de ausência da linguagem vulgar no “corpo” das matérias desses jornais. Segundo a professora, este é um forte indicador de que, para os receptores da mensagem (consumidores de jornais populares), ainda é importante uma referência formal de texto que possa “oficializar” o veículo como um mediador/produtor da realidade. Essa referência formal, no caso do gênero popular, é muito semelhante à referência trazida pelo restante dos veículos impressos: linguagem simplificada, porém na norma culta, e ausência de gírias.

Outro mérito do trabalho é a possibilidade trazida pela análise dos vácuos criados no processo massivo de digitalização da cultura. Cristina explica que “esses vácuos não tendem a se extinguir, o que vem demonstrar, ao contrário de um senso comum que une a internet à democratização informacional, o caráter excludente desse processo”. Para a docente, o primeiro apontamento nesta direção é “a impossibilidade de grande parcela da população tornar-se também produtora de conteúdo”. De acordo com Figueiredo, “é necessário não apenas pensar a universalização do acesso à rede, como também suas respectivas formas de produção e absorção de conteúdo”.