Ponto de Vista

O custo da violência nas escolas

 

Mariana Valle

 

A violência nas escolas brasileiras pode custar US$ 943 milhões ao governo do país. O dado faz parte do relatório feito pelo Institute Overseas Development e Plan International, organizações britânicas que tratam de questões humanitárias, sobre a violência em ambientes escolares de 13 países. Além do Brasil, há diversos países representados, como, por exemplo:  Estados Unidos, Egito, Equador e África do Sul.

Para realizar o cálculo, foram consideradas as perdas de investimento público em educação devido às faltas dos alunos nas escolas, além da perda de ganhos de um estudante que deixa de comparecer as aulas ou desiste da escola por causa da violência. De acordo com a pesquisa, o problema afeta da mesma forma os países desenvolvidos e em desenvolvimento.

O estudo também levantou dados de abusos sofridos pelos alunos. No caso do Egito, 80% dos meninos e 67% das meninas já sofreram punição corporal.  No Equador, 37% das adolescentes foram vítimas de violência sexual e apontaram os professores como responsáveis.

Em entrevista ao Olhar Virtual, o professor Pedro Bicalho do Instituto de Psicologia (IP) da UFRJ comentou a questão da violência nas escolas.

Olhar virtual: Quais os tipos de violência mais frequentes nas escolas?
Pedro Bicalho: Desde a violência física ao racismo e ao bullying, que também se dá por provocações sutis, além do abuso sexual.

 

Olhar virtual: Que consequências a violência no ambiente escolar pode trazer às crianças?
Pedro Bicalho: Quando somos crianças, a escola é a primeira instituição na nossa vida e a mais importante nesse período. Os nossos amigos são da escola e o nosso ideal de vida é o professor que acaba sendo um modelo para nós. A escola é uma instituição simbolicamente importante nessa fase, é a que constitui o sujeito, mas se ela não me acolhe, significa que o meu território existencial também não está sendo acolhido.  E dependendo da idade, isso pode trazer marcas muito fortes.

Olhar virtual: O governo tem algum projeto destinado para a questão da violência nas escolas?
Pedro Bicalho: Há alguns, mas ainda são poucos. A violência nas escolas tem tido uma visibilidade maior, mas ainda assim há poucas ações do governo.

Olhar virtual: Como é a situação nas escolas públicas e privadas?
Pedro Bicalho: Os dados que nós temos são muito mais de escolas públicas, pois dependendo do tipo de violência que aconteça nos espaços privados, eles são resolvidos nos próprios espaços privados. No caso das escolas públicas, as pessoas vão aos conselhos tutelares e denunciam. E os conselhos tutelares vão atuar junto às famílias, existe essa rede institucional que acolhe e registra essa violência.

Olhar virtual: Quais as alternativas que podem substituir atos violentos que servem como punição para os alunos?
Pedro Bicalho: Eu acho que a grande alternativa que a gente tem é problematizar junto aos professores o quê se entende como punição. Por exemplo, no campo da psicologia é muito comum as escolas encaminharem os alunos para a psicoterapia compulsória, ou seja, o aluno não tem escolha. Essa psicoterapia não é para tratar os estudantes e, sim, para puni-los. É uma psicologia punitiva para ensinar ao outro o que ele não deve fazer.

 

Olhar virtual: O que acontece nas escolas é um reflexo da sociedade por ser violenta?
Pedro Bicalho: Claro, a escola é um microcosmo da sociedade, ela reproduz as dinâmicas sociais e os modos de socialização. A grande questão da violência é que a gente pouco coloca em discussão a formas de violência para além do tapa, da briga e da agressão física. Os professores muitas vezes produzem atos violentos sem necessariamente serem violentos, não quer dizer que eles sejam maus. É porque eles não reconhecem como violência determinadas atitudes, só porque não batem e porque não tem mais a palmatória, não quer dizer que não tem mais violência.

Olhar virtual: Até que ponto isso afasta os estudantes das Licenciaturas?
Pedro Bicalho: Acho que pode acontecer o contrário. Espero que isso os motive a fazer um bom curso para mudar essa realidade, já que a escola que temos não é a escola que queremos. Eu acho que a universidade é um lugar privilegiado para discutir isso.