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Os diferentes aspectos de Elite da Tropa 2



Marcelo Dantas

O Fórum de Ciência e Cultura (FCC) e o Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas (CCJE) da UFRJ promoveram, na última quinta (4/11), um debate com o antropólogo Luiz Eduardo Soares, autor do livro Elite da tropa 2 e ex-secretário nacional de Segurança. A obra é a terceira parte de uma trilogia - iniciada com o livro Cabeça de porco e continuada com o primeiro Elite da Tropa - que tenta dar conta das diversas formas de envolvimento dos atores sociais no contexto da violência urbana no Rio de Janeiro. Compondo a mesa, ainda estiveram presentes Cristiane Costa, coordenadora do curso de Jornalismo da Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ; Renato Lessa, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF); José Eisenberg, professor da Faculdade de Direito (FD) da UFRJ; e Júlio Ludemir, escritor, jornalista e secretário adjunto de cultura de Nova Iguaçu. A adaptação de Elite da Tropa para o cinema resultou no filme Tropa de Elite 2 que, lançado no dia 8 de outubro, já ultrapassou a marca de 8,5 milhões de espectadores.

Luiz Eduardo Soares explicou que o livro, assim como o anterior, foi resultado de uma co-autoria com os policiais André Batista e Rodrigo Pimentel. Desta vez, porém, a produção da obra ainda contou com a colaboração do delegado Cláudio Ferraz, que esclareceu pontos fundamentais acerca das milícias policiais formadas no Rio de Janeiro, tema central da obra. Segundo o antropólogo, na divisão de tarefas relativa à produção do livro, seu papel foi o de “costurar o fio narrativo ficcional que acompanharia as informações e relatos trazidos pelos seus co-autores”.

Na obra, o autor relata histórias verídicas, vividas por personagens reais, porém transportadas para uma narrativa de ficção, que, na maior parte dos casos, gera maior empatia ante o público leitor e também é capaz de preencher certas lacunas que o registro documental pode deixar. Essa estrutura narrativa foi um dos assuntos principais sobre o qual se desenvolveu o debate. Para Eisenberg, “a obra de Luiz Eduardo Soares se situa em um novo gênero em que não há um apego absoluto ao documento como única forma de representação da realidade”.
O antropólogo afirmou que esse foi um dos principais méritos do encontro. “São raros os espaços onde se pode debater aspectos referentes à própria obra; não só aspectos temáticos, como costuma ser feito”, analisou. Quanto a esse aspecto, Renato Lessa chamou a atenção para o tratamento que o autor dá às dinâmicas de crueldade presente nessas relações de conflito social. Para Lessa, Luiz Eduardo consegue “captar as pequenas e precisas precipitações dessa dinâmica que torna inviável o próprio convívio social”.

Soares acredita que o livro serve não só para a reflexão sobre os dilemas e contradições presentes na vida policial e na vida de outros envolvidos diretamente nesse conflito. Para o autor, “a obra também consegue confrontar o leitor com a sua própria moral e fazê-lo verificar que, em situações complexas, suas ações e condutas podem não ser delineadas por valores que são previamente tidos como claros e imutáveis”.