Zoom

Impulsos à licenciatura



Vanessa Sol

 

A formação dos professores atravessa um momento delicado. Os cursos de licenciatura em Física e Matemática, em especial, vêm enfrentando problemas nos últimos anos. Além da pouca procura, nem todos os alunos conseguem se formar no tempo previsto. Em 2008, por exemplo, 70 estudantes ingressaram na licenciatura em Física da UFRJ, mais do que o dobro do número de pessoas que se graduaram naquele ano, quando 32 concluíram o curso. No ano seguinte, 37 alunos se formaram. A licenciatura em Matemática registrou 39 e 22 concluintes, respectivamente, em 2008 e 2009.

Para especialistas, as deficiências são reflexo do baixo salário pago aos professores, sobretudo os da rede pública estadual, e da não fixação do professor em uma única escola pública, tendo que lecionar em diferentes locais para cumprir a carga horária da matrícula. “No dia que o salário do professor melhorar – porque incentivo aos professores e aos futuros professores se dá com bons salários – e ele passar a ser de uma única escola, com a carga horária sendo exercida dentro daquela escola, não só com aula, mas com projetos e tempo para ele continuar se aperfeiçoando, o panorama muda, pois a crise é crônica, não surgiu agora. Acho que este é um bom momento para pensar nela e resolvê-la. Porém, tudo depende das políticas a serem adotadas”, destaca Joaquim Fernando Mendes da Silva, professor do Instituto de Química da UFRJ.

Joaquim acredita que houve um esvaziamento sistemático do papel profissional do professor ao longo dos anos para que ele não tivesse condições de formar um cidadão crítico, capaz de reunir conhecimento de diversas áreas e formar uma visão de sociedade a fim de criticá-la e modificá-la. “O esvaziamento do magistério é premeditado, porque ser professor é uma profissão que pode mudar o rumo de uma nação inteira”, acrescenta.

Com o objetivo de avaliar a situação dos cursos de licenciatura do estado, a Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro criou, em dezembro de 2010, uma comissão. O grupo debateu questões salariais, condições de trabalho para o professor e a possível oferta de bolsa para licenciandos. “Esse estudo sinaliza que o Estado de maneira geral reconhece a importância do professor. Isso vai valorizar o curso. Mas temos insistido muito que a questão salarial e de trabalho precisa ser melhorada. A educação é prioridade”, destaca Ana Maria Monteiro, diretora da Faculdade de Educação (FE-UFRJ).

Outra forma de incentivar os graduandos dos cursos de licenciatura é o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid), idealizado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de nível superior (Capes). O programa concede bolsas tanto para alunos de cursos de licenciatura, quanto para coordenadores e supervisores institucionalmente envolvidos no projeto. “O Pibid é interessante, porque ele vincula à bolsa a um projeto de intervenção na escola”, destaca a diretora da FE-UFRJ.

No edital de 2011 do Pibid/Capes, que tem duração de 24 meses, a UFRJ foi contemplada com R$ 2 milhões, o que permitirá a ampliação do número de bolsas concedidas. Desta vez, serão oferecidas 100 bolsas distribuídas entre os dez cursos de licenciatura que participarão do programa. No edital publicado em 2008, a UFRJ recebeu R$ 1 milhão e ofereceu 30 bolsas para os estudantes das cinco licenciaturas: Física, Matemática, Biologia, Química e História.