De Olho na Mídia

Os velhos ossos do ofício

 

Marcelo Dantas

Ilustração: Diego Novaes

Um crime ocorrido no final de março deste ano levantou questões importantes sobre umaspecto antigo e já conhecido da atividade jornalística: o risco ao qual o profissional ésubmetido quando confronta, direta ou indiretamente, o poder estabelecido ou forças ligadas a ele.

No dia 23 de março, o blogueiro Ricardo Gama foi baleado em Copacabana, zona suldo Rio de Janeiro. Policiais do 19º BPM (Copacabana) informaram que um grupo debandidos que estava em um carro prata atirou contra Ricardo, que foi socorrido porpessoas que passavam no local.

Além de críticas aos governantes do Estado e da cidade do Rio, Gama também escreve,em seu blog, contra supostas irregularidades da própria polícia, não só no Rio deJaneiro, como em outros Estados. No dia 13 de fevereiro, cerca de um mês antes deser baleado, postou que havia sido ameaçado por um suposto policial por causa depostagens sobre o delegado Carlos Oliveira, pego na Operação Guilhotina da PolíciaFederal.

O caso referido demonstra que esse risco da atividade jornalística ainda assume maioresproporções aos que se dispõe a fazer um jornalismo denunciativo independente atravésde blogs ou outras formas de páginas pessoais, nas quais todo o conteúdo produzido nãoestá sob o nome de uma corporação ou empresa de comunicação, e sim sob o nome deum indivíduo.A web é um mecanismo que facilita enormemente a horizontalização da produçãode conteúdo, reduzindo a fronteira entre produtores e consumidores de informação.

Nesse sentido, não só profissionais da área, como também internautas com diversasmotivações passam a escrever regularmente em blogs e sites sobre determinados temas,tornando-se, em vezes, importantes referências de informação alternativas à grandemídia, como é o caso do blogueiro Ricardo Gama.

Segundo Paulo Vaz, professor da Escola de Comunicação da UFRJ, o grande mérito e ogrande perigo da internet residem, justamente, nesse princípio horizontalizador. Para oprofessor, há uma vantagem clara em todos poderem se tornar produtores de conteúdo,contudo, isso gera um excesso de informação no qual se é difícil distinguir o que éinformação qualificada do que não é.

Para o professor, credibilidade ainda é o principal critério para se obter informaçãoqualificada. Prova disso é o fato dos sítios eletrônicos mais procurados para se lernotícias pertencerem a empresas de comunicação já estabelecidas ou jornalistas que jádispõe de reconhecimento.“Porém, há outras medidas geradoras de credibilidade – ressalta Paulo Vaz – e aprincipal delas é bem simples: não mentir”. De acordo com o professor, a projeçãoalcançada por Ricardo Gama e, inclusive, “o atentado realizado contra o blogueiro sãoprovas de que o que ele havia escrito era fundamentado. A grande questão é que nãohá formas de garantir a plena segurança do indivíduo que dispõe de coragem para fazerdenúncias dessa natureza”.