Entrelinhas

Sobre Neurônios, Cérebros e Pessoas

 

Gisele Motta

Divulgação

 Roberto Lent, professor de Neurociência do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ, escreve, desde maio de 2006, a coluna “Bilhões de Neurônios” (até 2009, chamada de “100 Bilhões de Neurônios”) na revista online “Ciência Hoje”. No último dia 16 de junho, o professor lançou o livro “Sobre Neurônios, Cérebros e Pessoas”, que é uma coletânea de suas crônicas publicadas mensalmente.

O livro busca abordar a neurociência experimental e como ela é usada para conhecer cada vez melhor o modo que os neurônios produzem o cérebro e como ele é capaz de definir a imensa capacidade e capacidade de adaptação das pessoas. Para entender melhor sobre o assunto o Olhar Virtual conversou com o professor Robert Lent.

Olhar Virtual: Como surgiu a coluna “Bilhões de Neurônios” e como foi a ideia de transformar as crônicas ali publicadas em um livro?

Roberto Lent: A coluna começou há cinco anos sob demanda do Instituto Ciência Hoje, responsável pelo site Ciência Hoje Online. Era uma coluna mensal, que me obrigava a buscar avanços na Neurociência que pudessem interessar às pessoas leigas. Ao final desses anos, senti que talvez fosse o momento de fechar esse ciclo e começar outras iniciativas. E, para fechar o ciclo, surgiu a ideia de reunir todas as 55 colunas veiculadas no site, publicando-as no que se tornou o livro “Sobre Neurônios, Cérebros e Pessoas”, recém-lançado pela editora Atheneu.

 Olhar Virtual: Qual a importância do uso de um vocabulário não-técnico em um livro de divulgação científica?

Roberto Lent: Por definição, divulgação científica ou popularização da ciência requer uma linguagem acessível ao grande público, sem o jargão técnico dos especialistas. Popularizar a ciência é uma obrigação social da comunidade científica e da universidade pública, e deve ser estimulada por todos os meios possíveis.

Olhar Virtual: Como são diferenciados os três blocos nos quais o livro foi dividido?

Roberto Lent: Tentei separar as crônicas entre as que enfatizam uma abordagem mais celular da neurociência, como é o caso das células-tronco e da regeneração de fibras nervosas, por exemplo, aquelas que enfatizam uma abordagem mais global, como os trabalhos envolvendo neuroimagem por ressonância magnética funcional, e finalmente aqueles que dizem respeito às capacidades cognitivas e afetivas das pessoas. Daí a segmentação que aparece no título: neurônios, cérebros e pessoas...

Olhar Virtual: Qual o papel atual da Neurociência no Brasil e no mundo?

Roberto Lent: As Neurociências no Brasil reproduzem, em menor escala, a sua importância no mundo todo. Trabalham nessa área em nosso país cerca de 2000 doutores, em várias cidades e universidades.  A disciplina é bastante diversificada em todo o mundo, e talvez seja a próxima grande fronteira do conhecimento humano: entender a nossa própria consciência, como ela é determinada pelo cérebro.

Olhar Virtual: Qual a maior pergunta da Neurociência hoje?

Roberto Lent: Não sei dizer qual a maior pergunta, assim no singular. Mas há grande e importantes perguntas a responder: como pensamos, como nos emocionamos, como podemos antecipar o futuro planejando ações e imaginando cenários, como realizamos complexos cálculos matemáticos, produzimos obras de arte, como criamos essa complexa organização social baseada na cooperação e no trabalho coletivo? São todas perguntas fundamentais sobre a mente humana, mas não consigo definir qual é a mais importante. E isso sem falar nos desafios de conseguir tratar várias doenças neurológicas e psiquiátricas ainda sem cura, como a doença de Alzheimer, a esquizofrenia e muitas outras.

Olhar Virtual: Parece ser um assunto pouco discutido no Brasil. O senhor concorda?

Roberto Lent: Não penso assim. Dentre as ciências de um modo geral, as Neurociências até que têm uma presença importante na mídia – nos jornais, na TV, na internet. O interesse do público sobre esse tema reflete a nossa curiosidade humana de autoconhecimento. Quem somos, como funcionamos, como pensamos, etc.

Olhar Virtual: O senhor acha que com uma linguagem mais branda ao se tratar de ciência consegue-se informar, de fato?

Roberto Lent: Claro. Todos os temas da ciência podem e devem ser explicados à população. Não há assuntos completamente herméticos. O desafio é tornar aqueles mais abstratos e difíceis acessíveis a todos. É a população que paga nossas atividades profissionais, portanto devemos retribuir esse investimento não apenas em produtos e tecnologias que proporcionem mais bem-estar, mas também em informações que ampliem o conhecimento, a cultura e a educação, elevando o padrão de qualificação das pessoas e garantindo o mais pleno exercício da cidadania.

Editora: Atheneu.
Páginas: 272
Formato: 18 x 25 cm
Preço: R$ 48,45