Olho no Olho
08.09.2004
Doping      
Carlos Eduardo Cayres

Para quem não sabe, doping é uma coisa, dopagem é outra. O primeiro é substância propriamente dita que pode ser usada com fins médicos; já o segundo é o uso em atletas com a finalidade de levar vantagem no desempenho esportivo. Hoje em dia, essa distinção não existe mais. A palavra doping foi ganhando força pelo próprio uso e acabou se tornando sinônimo de dopagem.
Visando discutir esse assunto – doping -, chamamos os professores Paulo Figueiredo, da Escola de Educação Física e Desportos, da UFRJ e Janir Nóbrega, do Laboratório Antidoping, também da universidade. Diversas questões foram levantadas como, por exemplo, quando surgiu o doping, quando um atleta pode ser acusado, quantas substâncias estão relacionadas no Comitê Olímpico Internacional, entre outras.

 
 
                 
   

Prof. Jarí da Nóbrega

O doping surgiu provavel-mente nas primeiras Olim-píadas da Antiguidade - se considerarmos como doping qualquer tentativa de obter melhora de rendimento por meios artificiais. O que mudou foram os métodos, agora providos de base científica. Onde antes predominavam crendices, agora predomina o conhecimento.
Nos tempos atuais, se um atleta for flagrado burlando uma das normas do Comitê Olímpico Internacional (COI), terá problemas. A bar-ganha pode envolver desde o consumo de uma das substâncias proibidas da lista do COI, até práticas, como inibição de excreção renal ou manipulação genética. Consumir cannabis (maconha), mesmo socialmente, é doping, pois a droga faz parte da lista proibida, embora não tenha nenhum efeito comprovado na performance.
A lista de drogas proibidas é enorme e é atualizada pelo COI a cada ano (ou mesmo antes, em casos extraordinários). O Comitê Olímpico Brasileiro (COB) segue a mesma lista do COI.
Se o atleta ingerir alguma das substâncias citadas na lista, mesmo que sem intenção, será punido. O COI não distingue doping intencional de não-intencional. Se for caracterizado o uso de droga ou outra prática proibida o atleta é castigado e acabou. Acho duro, severo, mas não injusto. Todo atleta de nível internacional tem cópia de uma cartilha que diz o que pode e o que não pode ser feito. Todo médico da área esportiva, com mais razão, também.
Os tipos dependem da modalidade esportiva. Em geral, são os estimulantes e anabolizantes. Para esportes específicos, de longa duração, como o ciclismo e corridas de fundo (maratona), certos hormônios, como a eritropoetina (EPO) que aumenta o transporte de oxigênio ao tecido muscular, são também comuns.
Alguns tipos são lendas esportivas como, por exemplo, mulheres que engravidam e antes da competição abortam. Eu não conheço (nem o COI consultado por mim) nenhum caso de aborto proposital com o intuito de doping. O único benefício possível seria a fabricação da gona-dotrofina coriônica durante a gravidez, o que cessaria com o aborto. Pelo alto nivel de desempenho exigido, parece-me que imaginar a participação de mulheres grávidas (ou recém-saídas do trauma de um aborto) em uma competição interna-cional é, no mínimo, ingressar no terreno da fantasia.
O controle de doping é bastante rigoroso e integro nas suas decisões. Não se deixa manipular por nada. Antigamente haviam países que, em troca do prestigio político obtido em campeonatos mundiais e Olimpíadas, toleravam e até incentivavam o doping entre seus atletas, emprestando-lhes assessoria técnica no assunto. Felizmente, com a queda da cortina de ferro, foi possível controlar de perto tais atletas e o problema está atualmente sob controle.

 

Prof. Paulo Figueiredo

O doping é qualquer meio que o atleta utilize para superar, de maneira não lícita, o seu opo-nente. Já existem inúmeras formas de se fazer isso, inclu-sive no futuro, aponta-se à possibilidade de doping genético. Ou seja, acontecerá a multiplicação celular dos grandes atletas.
A história do doping surgiu na Grécia antiga. Os gregos preparavam seus lutadores com certas substâncias, para que eles alcançassem o máximo da supremacia esportiva, a superação do homem pelo homem. Não posso esquecer de dizer também que, no período da Guerra Fria essa prática foi bastante usada. Aos poucos isso foi evoluindo tanto que, a cada dia que passa, a ciência vai desenvolvendo mais e mais substâncias ilícitas.
Hoje em dia existem inúmeras substâncias. A mais utilizada está sendo a eritropoetina (EPO), que contribui para o melhor transporte de oxigênio. Ela existe de duas formas: a produzida pelo próprio organismo e a sintética que é injetada no atleta. Antes da existência sintética da EPO, os atletas se utilizavam do artifício de tirar um pouco de sangue do corpo, congelar e nas vésperas da competição injetar de novo. Isso facilita a absorção do oxigênio pelo sangue, uma vez que se tem um aumento de hemoglobinas. Mesmo sendo natural, tal prática pode acarretar sérios problemas como trombose, por exemplo, e complicações com o Controle de Doping.
Essa questão é bem discutida. Algumas pessoas acreditam que um simples descongestionante nasal não faz mal para ninguém, por isso um atleta não deve ser punido se vier a fazer uso. Mas é importante deixar claro que nenhum atleta é punido injustamente. Ele e toda sua equipe conhecem as substâncias proibidas pelo Comitê Olímpico Internacional, então, caso ele venha ingerir um medicamento que esteja na lista, não será por inocência. O Comitê é extremamente íntegro nesta questão.
Existe também o doping social que é aquele onde o atleta não ganha rendimento, pelo contrário, só perde – usuários de maconha, cocaína, por exemplo. No entanto, mesmo não se beneficiando, o atleta é punido. Essa punição serve para mostrar à sociedade que usar tais substâncias faz mal.
Se um atleta for pego usando alguma substância ilícita, a decisão do Controle de Doping, será categórica.