Edição 250 19 de maio de 2009
O Departamento de Engenharia Naval e Oceânica da Escola Politécnica (Poli/UFRJ) completa 50 anos em 2009. E, para comemorar, será realizado um resgate histórico a partir de pesquisas documentais e entrevistas com professores e alunos das primeiras turmas. “Queremos montar um panorama do que era a Engenharia Naval que nos mostre como éramos e como evoluímos”, afirmou o professor Cláudio L. Baraúna Vieira, presidente da Comissão Organizadora dos 50 anos do curso.
Durante o ano, serão organizadas palestras e conferências, além da criação de um banco de dados com os nomes de todos os engenheiros navais formados pela UFRJ. As informações ficarão disponíveis na internet para intercâmbio dos profissionais e uma parte integrará uma separata ao livro Alumni, que contém os nomes de todos os formados pela Escola em suas respectivas turmas. A ideia é fazer a atualização anualmente.
Em 10 de dezembro de 1959, o curso surgiu com a denominação Engenharia Naval Mecânica. Mas o aparecimento de necessidades específicas levou à troca do nome para Engenharia Naval. Para Cláudio Baraúna, durante algum tempo, o curso de Engenharia Naval na UFRJ se destacou por ser um dos dois únicos do país.
Os alunos das primeiras turmas eram engenheiros formados em diversas áreas que trabalhavam nos estaleiros de construção naval da época. A necessidade de aperfeiçoamento profissional os levou à procura pelo curso de Engenharia Naval, onde se graduavam em cerca de três anos após cursarem disciplinas complementares.
A tendência mundial de incorporar novas áreas de atuação, como a exploração de recursos marinhos, forçou uma nova mudança na denominação do curso. Desta vez para Engenharia Naval e Oceânica, o que justificava mais uma habilitação que ia além do projeto e construção de navios. Mas essas não foram as únicas mudanças neste meio século de existência. Acompanhando as tendências do mercado, o número de alunos variou no período. Após a crise vivida na década de 70, a procura vem se elevando gradativamente a cada ano. “A seleção dos alunos hoje é feita com muito rigor e o curso está bastante modernizado. Há alguns anos inauguramos um tanque de provas (LabOceano) usado para experimentação de modelos de navios e plataformas que é um dos maiores do mundo”, afirmou o professor.
Papel na reconstrução naval
O desenvolvimento da exploração de petróleo no Brasil pela Petrobras contribuiu para o aumento da capacitação na construção de navios, embarcações e plataformas. O setor naval apresentou surto de desenvolvimento e atualmente se encontra aquecido. Exemplo disso é a construção do novo estaleiro “Atlântico Sul”, no Recife, utilizando tecnologia de ponta.
— Em um passado não tão distante, havia certo número de países construtores navais. O Brasil fazia parte desse grupo com alguns estaleiros concentrados no Rio de Janeiro. No entanto, a mudança da situação política e a perda do desenvolvimento tecnológico encareceram a construção naval. Ficamos defasados tecnologicamente e nossos estaleiros sem ter o que construir. Foi com a Petrobras e o crescimento da nossa produção industrial que começamos a construir de novo nossa capacidade de transporte marítimo — disse o professor.
O Departamento de Engenharia Naval e Oceânica atuou na modernização dos antigos estaleiros do Rio de Janeiro. Além disso, foi pioneiro no trabalho com a Petrobras em projetos de plataforma de petróleo e qualificou o quadro de engenheiros de diversas empresas atuantes no Brasil. “Temos muito orgulho de termos sido os atores principais no desenvolvimento de toda a construção naval e engenharia de plataforma. Trabalhamos em conjunto com a Petrobras em várias das suas conquistas, como, por exemplo, a prospecção em águas profundas”, declarou Cláudio Baraúna.
As mudanças durante as cinco décadas foram radicais e rápidas. Se inicialmente o curso oferecia disciplinas específicas de navios, projetados de forma tradicional, com o passar dos anos e o surgimento dos desafios tecnológicos, a tradição cedeu lugar à produção cada vez mais exigente, com construções cada vez mais rápidas e baratas.
O Brasil depende mais de 90% de exportação e importação por via marítima. “O país é muito grande e tem que ter autossuficiência em algumas coisas como exploração de petróleo e construção de grandes produtos industriais. Para isso, é preciso estar na ponta dessa capacitação tecnológica e devemos ao pioneirismo de algumas pessoas há 50 anos que entenderam isso e apostaram em um curso que deu certo e hoje é um sucesso”, concluiu o professor Cláudio Baraúna.