Edição 254 16 de junho de 2009
A presença da polícia militar nos campi da UFRJ é um tema polêmico e que esbarra em diversos obstáculos. O maior deles é se essa presença fere a autonomia universitária, que tem os seus próprios mecanismos para prover a segurança dos seus alunos, professores e funcionários. Helio de Mattos, prefeito da Cidade Universitária, em entrevista a Folha Dirigida defendeu ação da PM, mas somente para coibir a criminalidade e não para interferir em manifestações que ocorram dentro do campus “A reitoria se bate em relação à autonomia da universidade, porque essa expressão está intimamente ligada a ela ter a sua própria segurança. A presença da polícia dentro do campus está, historicamente, sempre ligada à extrema violência. A universidade tem um trauma muito grande. Os problemas em relação a movimentos estudantil e dos servidores e manifestações que temos na universidade são problemas internos nossos. São discutidas dentro do âmbito acadêmico da universidade. Não é necessário nem a interferência da segurança interna da universidade”, disse o professor.
A problemática da segurança dentro das universidades, entretanto, é tema que chama a atenção e que merece ser discutido. Diante disso, o Olhar Virtual convidou a professora Lúcia Andrade do Instituto de Nutrição e vítima de um assalto dentro da Cidade Universitária, e João Sérgio Pereira, integrante do Diretório Central de Estudantes da UFRJ, para discutir a presença da polícia no campus.
“A questão da segurança dentro das universidades é sempre muito complicada. Os espaços da universidade são muito grandes. Os problemas que eclodiram agora (como os assaltos às salas de aula no campus do Fundão) são só o reflexo de um problema que vem acontecendo há muito tempo. As verbas para a universidade estão sendo reduzidas.
Nós temos que entender que a universidade não é uma ilha, ela tem que se integrar à sociedade na qual está inserida. É papel dela discutir a violência que está acontecendo, e não apenas se enclausurar, ignorando o ‘mundo lá fora’. A violência, na minha opinião, está profundamente relacionada à miséria.
Nós somos totalmente contrários à atuação da Polícia Militar dentro dos campi da UFRJ, principalmente por causa da atuação que estamos vendo dessa polícia no Rio de Janeiro. A PM trata violência com violência, e nós não queremos que os estudantes da UFRJ sejam tratados da mesma forma desrespeitosa que o resto da população vem sendo tratada. Acreditamos que a única pessoa que pode fazer o serviço de segurança no campus é o próprio funcionário contratado da UFRJ, nunca a polícia e nunca funcionários terceirizados. Somos a favor da abertura de mais vagas para a contratação de seguranças da universidade através de concursos. Outro problema que temos na UFRJ em relação à segurança é que os cargos de ‘patrulheiro’ e ‘vigia patrimonial’ foram extinguidos. O Governo federal fez a opção de que todos os cargos de segurança nos espaços federais fossem ocupados por trabalhadores de empresas terceirizadas, o que provoca a queda de qualidade e menor compromisso com o servidor e a instituição.
A Polícia Militar dentro do campus só vai trazer mais violência, até porque ela não tem o preparo necessário para lidar com os estudantes e com o espaço universitário. É critério da universidade ser um espaço de portas abertas. Já houve tentativas anteriores de fechar a Praia Vermelha, de colocar catracas nas salas... Isso vai contra a lógica da universidade, que é a de ser um espaço onde todos podem circular e usar do conhecimento que é produzido. Então, qualquer tentativa de fechar ou patrulhar esse espaço é negativa.”
“A princípio não sou a favor da presença da polícia no campus. Na verdade, na medida em que nós temos uma estrutura e autonomia, eu acredito que essa presença é uma imposição dentro dos princípios que a universidade pública prega. Nós realmente estamos expostos, mas ainda acredito que a administração central da universidade tenha, com os recursos, mesmo que escassos, e com uma boa administração desses, possibilidade de pensar e viabilizar os seus mecanismos para que essa violência não seja ostensiva e que a gente realmente fique exposto. Não é a polícia que vai impedir que a violência ocorra, porque senão isso seria verdade em toda a cidade, em todos os estados. O que eu acredito é que efetivamente a gente deve aprimorar os nossos próprios mecanismos.
Eu acho que a presença da polícia é necessária quando ela deve coibir um crime. No caso de uma manifestação dentro do campus, uma manifestação legítima, que vem do alunado, dos estudantes, isso deve ser tratado e mediado dentro da condição normal da nossa estrutura universitária. Mas, por outro lado, se como membro da comunidade a presença da polícia me choca, também me deixa em alerta; certamente para os indivíduos de má conduta isso também causa uma impressão. Mas em contrapartida isso traz um foco para uma realidade que não é comparável com as estatísticas de violência na cidade. A presença da polícia no campus cria uma expectativa de que aqui é um ambiente extremamente inseguro; não que seja livre de perigo, mas a polícia cria um clima de tensão.
Sobre a questão do descrédito da polícia militar, penso que, em todas as instituições, em qualquer organização, a gente sempre tem um lado positivo e outro negativo. O lamentável é que hoje, apareça muito mais aquilo que não funciona, inclusive na polícia. De qualquer maneira, eu sou partidária das instituições, eu confio nelas. No caso que aconteceu comigo, eu tive todo o amparo possível da polícia, não achei em nenhum momento que o caso seria posto em segundo plano. Se, como cidadão, a gente pode confiar, certamente vai conseguir se livrar do lado ruim que existe nas instituições.”