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Edição 255      23 de junho de 2009


De Olho na Mídia

Desvendando o Irã

Fernanda Turino


O trabalho de jornalistas em regiões de conflito sempre foi difícil. Mas, de uma forma ou de outra, a reportagem normalmente é feita e os fatos são noticiados. No Irã, essa tarefa tornou-se ainda mais complicada diante das restrições impostas pelo governo teocrático local, que anulou todas as permissões de trabalho das agências de notícias estrangeiras. Os repórteres estão proibidos de cobrir atos públicos sem autorização do Ministério de Guia e Orientação Islâmico iraniano. A razão apresentada para se tomar tal atitude é o fato de o presidente reeleito Mahmoud Ahmadinejad, cuja vitória nas urnas foi considerada fraudulenta pela oposição, ter acusado a imprensa estrangeira de intervir nos assuntos internos do país.

Para Mohammed Elhajji, professor da Escola de Comunicação da UFRJ (ECO), a situação na região nunca foi das mais tranquilas. Sempre houve restrições à cobertura dos acontecimentos locais. Porém, o que acontece atualmente evidencia ainda mais o caráter autoritário do governo eleito. “A mídia (tanto nacional como internacional) nunca foi livre no Irã, mas numa situação como a atual os regimes autoritários geralmente reagem de maneira mais que contundente para evitar que o descontentamento tome dimensões incontroláveis”, disse o professor.

Papel da mídia

Mesmo com todas as restrições impostas por Ahmadinejad, a mídia tem conseguido cumprir a sua tarefa de mostrar os problemas enfrentados pela sociedade iraniana devido ao regime autoritário sob o qual o país se encontra atualmente. “Acho que a mídia internacional (ou ocidental) vem contribuindo de modo positivo na denúncia de um regime autoritário e retrógado. É papel da mídia alertar sobre as violações dos direitos humanos” analisou Mohammed.

A própria restrição imposta ao trabalho dos jornalistas já passa uma imagem negativa do Irã. O intuito de Ahmadinejad de impedir que a mídia noticie os descontentamentos com o atual governo não é alcançado. A própria proibição se torna a notícia. “Fora a mídia oficial iraniana, acho difícil Ahmadinejad conseguir transmitir alguma mensagem a seu favor. Excetuando, é claro, o silêncio da mídia naqueles países também praticantes de censura e autoritarismo, o que não muda nada, já que esse tipo de mídia não dispõe de nenhuma credibilidade”, comenta Elhajji.

Para o professor, a atitude do supremo mandatário iraniano só vem comprovar a falência do regime daquele país. “As tentativas de censura em nossa época hipermidiática são sempre um tiro no pé, uma reação de desespero e prova de fraqueza.” As manifestações que ocorrem no Irã não são somente uma contestação das eleições, mas sim a revolta contra um governo teocrático e autoritário que limita as liberdades de expressão, dentre outras.

Alternativas da mídia

Mesmo tendo sua atuação coibida, a mídia encontra as suas formas de atuar. Nesses momentos, os blogs surgem como poderosos instrumentos de comunicação. Eles são a maneira encontrada pelos jornalistas de noticiar os eventos. As novas tecnologias também se mostram aliadas do jornalismo, pois é devido a elas que muitos conseguem ser ouvidos. “A questão não é mais a mídia formal, seja ela local ou internacional, mas sim o uso feito das novas tecnologias para informar sobre a situação no país. Desde câmeras dos celulares e o twitter até os servidores proxy, que permitem manter secreta a identidade do remetente. É muito difícil hoje ter um controle total sobre os fluxos de informação”, avalia Mohammed.

A censura se mostra, portanto, ineficaz na tentativa de controlar o fluxo de notícias. A mídia sempre acaba encontrando uma forma de atuar e, em geral, se mostra muito mais eficiente do que qualquer forma de cerceamento de liberdades. “A novidade, hoje, é a mídia alternativa e/ou exilada do mundo árabe-islâmico, os blogs e os canais independentes como a Al Jazeera, que estão sendo muito mais ágeis e dinâmicos do que a mídia ocidental tradicional”, encerra Elhajji.

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