Edição 240 10 de março de 2009
No qüinquagésimo aniversário de morte do maestro Villa-Lobos, seria impensável o silêncio em torno da obra do genial artista. Em 2009, uma profusão de concertos apresenta-se mundo afora em reverência à música desse carioca nascido em 1887.
À disposição das orquestras, um repertório de obras-primas como Ária (Cantilena), Tocata (O Trenzinho do Caipira), Choros, Uirapuru e as consagradas “Bachianas Brasileiras”. Ao longo de 72 anos, o legado do compositor soma cerca de mil canções, cartas que, como o próprio autor afirmava, escrevia à posteridade sem esperar resposta.
Para compreender a dimensão de Villa-Lobos, o Olhar Virtual traz a entrevista de Ricardo Tacuchian, professor aposentado da Escola de Música da UFRJ e diretor da Academia Brasileira de Música (ABM), instituição fundada pelo próprio Villa-Lobos para lutar em prol da cultura e da educação musical no Brasil.
Olhar Virtual: Qual foi o impacto da música de Villa-Lobos na exterior?
Ele apresenta uma linguagem desconcertante, deixando os europeus boquiabertos e certos de que estavam diante de um gênio. Assim como o alemão Johann Sebastian Bach que o inspira a criar as famosas "Bachianas Brasileiras", Villa-Lobos manifesta-se como patrimônio universal. Não conheço nenhum artista da área erudita ou popular que seja tão reconhecido. O Itamaraty nem precisa se preocupar em homenageá-lo, porque as orquestras espontaneamente já se organizam para executar a sua música.
Olhar Virtual: É verdade que o maestro adotou uma estratégia extramusical para promover a sua obra junto à imprensa internacional?
Costumo dizer que ele é o inventor do marketing musical. Acontece que o Velho Mundo, a Europa, desde sempre cultivou uma imagem exótica a respeito da América. Villa-Lobos se aproveitou do fato, inventando histórias mirabolantes para chamar atenção sobre seu trabalho. Os jornalistas acreditavam, por exemplo, que ele havia seqüestrado a filha do pajé em plena selva amazônica.
Olhar Virtual: No ano passado, após 37 anos, o ensino musical retornou ao currículo escolar. Qual o papel de Villa-Lobos para a educação musical no Brasil?
Ele sempre defendeu o ensino musical como política de Estado e elaborou, talvez, o mais ousado plano pedagógico de música às escolas brasileiras. Villa-Lobos introduziu o ensino da música e do canto coral nas escolas fluminenses. O compositor chegou a organizar apresentações com 40 mil estudantes. O Canto Orfeônico (coral) foi um sucesso que corre todo o Brasil, pois é uma música feita através da voz humana, o que dispensa maiores investimentos na compra de instrumentos. Ele partia do principio de que o conteúdo a ser ensinado eram canções da própria tradição brasileira e que pertenciam à realidade dos alunos.