Edição 240 10 de março de 2009
Quando Júnior, 19 anos, tentou o Vestibular 2009, ele estava decidido: queria ser um engenheiro mecânico. Depois de um ano de estudos intensos no Pré-vestibular Comunitário do Caju, Júnior atingiu seu objetivo: foi aprovado no concurso e acabou de ingressar na Escola Politécnica (Poli) da UFRJ. A história de Júnior seria, até certo ponto, habitual não fosse por um detalhe: o rapaz dividia o tempo que dedicava aos livros com o trabalho de auxiliar de limpeza na Reitoria da universidade.
Embora proveniente de uma família humilde, Júnior, desde cedo, estava obstinado a cursar o Ensino Superior. Tanto é que começou a freqüentar as aulas do pré-vestibular a partir do 1º ano do Ensino Médio. “Nunca me contentei com pouco”, diz o rapaz.
Ainda que alguns teóricos insistam em defender a natureza elitista da universidade brasileira, casos como o de Júnior estão se tornando comuns. Nesse sentido. a expansão de vagas pode ser importante propulsor da diversificação do perfil socioeconômico dos alunos ingressantes nas universidades brasileiras.
Em 2009, a UFRJ inaugurou sete cursos e mais de 800 novas vagas. Só na Escola Politécnica, unidade na qual Júnior está locado, houve o aumento de 80 vagas para o último vestibular. Mas será que a universidade está preparada para receber esses alunos?
Ericksson Almendra, diretor da Poli, enfatiza que a Escola reconhece a necessidade de se preparar para a eventual mudança no perfil de seus estudantes. O professor conta, ainda, que existe sensibilidade por parte do corpo docente da unidade diante de alunos que enfrentam dificuldades financeiras. “Nós oferecemos bolsas industriais para alunos de baixa renda. Uma bolsa desse tipo é concedida a cada ano. Serão cinco no total. É pouco, mas é o que, por enquanto, a gente conseguiu”, pontua.
Almendra destaca também que, não raro, encaminha os estudantes com problemas financeiros mais sérios para estágios em laboratórios na Escola logo nos primeiros períodos. Segundo o professor, o retorno, em notas e desempenho, desses discentes é notório. “O rapaz não é incompetente por ter nascido pobre, mas ele é mal formado. Ele tem menos oportunidades que os outros. A solução para isso são bolsas de estudos”, afirma.
A questão da excelência
Pesquisas mostram que apenas 11% dos jovens brasileiros entre 18 e 24 anos freqüentam universidades. Dados como esse evidenciam a necessidade urgente de o Brasil criar políticas de inclusão para o Ensino Superior. Certos argumentos, no entanto, vão na contramão desse processo. O principal deles é o que aponta a queda da excelência do ensino como conseqüência da entrada de um número maior de alunos.
Para Ericksson Almendra, entusiasta da expansão de vagas na universidade, a qualidade será mantida. “Talvez caia a média em um primeiro momento. Mas, se a UFRJ mantiver o seu padrão de ensino, ela continuará com os melhores alunos. O desenvolvimento da UFRJ induzirá o crescimento das demais universidades e o surgimento de outras. Serão cada vez mais alunos no Ensino Superior. Todo mundo ganha. Muitos acadêmicos pensam que é ruim ter alunos demais. Como as turmas de Pós-graduação têm poucos estudantes, eles acham que a Graduação também deve ser composta de turmas pequenas. Mas, nas melhores escolas do mundo, há cursos com 250 alunos”, explica.
A importância dos “prés” comunitários
Não são poucos os estudantes de baixa renda que deixam de tentar o vestibular por não possuírem condições de bancar um curso preparatório. Pensando nisso, a UFRJ viabilizou, há alguns anos, três projetos comunitários de pré-vestibular: o Samora Machel, no Instituto de Química, o do Caju e o CPV, em Nova Iguaçu.
A principal proposta desses cursos é levar a perspectiva de ingressar em uma universidade para centenas de jovens oriundos de escolas públicas do estado do Rio de Janeiro. “O pré-vestibular comunitário é importante para inserir na universidade a diversidade existente na sociedade. A universidade pública sempre foi um espaço homogêneo das elites. Mas devemos entender que só a mistura de classes produz novos saberes”, sublinha Marcelo de Medeiros, ex-aluno da UFRJ e atual coordenador do pré-vestibular do Caju.
Marcelo ressalta, ainda, que os cursos preparatórios comunitários integram um movimento maior de busca pela educação de qualidade para uma população, muitas vezes, deixada de lado pelas esferas brasileiras de poder. “Eu me sinto contemplado por ser parte disso, por ver que, cada vez mais, pessoas com novos olhares estão ingressando no Ensino Superior público”, completa.